Artigo de Marina Silva, publicado na Folha de S.Paulo
O Brasil fica longe de Davos. Mais que nos mapas, a
distância pode ser medida no discurso da presidente Dilma Rousseff no Fórum
Econômico Mundial que aconteceu na semana passada na bela e fria estação suíça.
Todos concordamos com suas palavras: a educação tem importância estratégica
para reduzir a desigualdade social e, ao mesmo tempo, alicerçar uma economia do
conhecimento com tecnologia e inovação. Por isso, a educação está entre as
prioridades, junto com a infraestrutura, o planejamento urbano, a estabilidade
econômica e outras grandes questões definidoras do desenvolvimento do Brasil.
Cinco dias depois, a Unesco divulgou relatório que coloca o
Brasil –entre 150 países pesquisados– em 8º lugar no número de analfabetos
adultos. Eram 13,2 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais em 2012, segundo
o IBGE. É quase impossível reduzir a taxa de analfabetismo entre adultos, de
8,7% naquele ano, para os 6,7% fixados nas metas da ONU para o ano que vem.
Ontem, lemos nos jornais: os investimentos do Ministério da
Educação caíram 13% de janeiro a novembro de 2013 em relação ao mesmo período
do ano anterior. O noticiário nos avisa também que a equipe econômica estuda
reduzir ainda mais o orçamento da pasta para que o governo recupere a
credibilidade perdida desde que foram revelados seus artifícios contábeis para
fechar as contas no fim do ano.
Os especialistas indicam o contrário, a necessidade urgente
de o Brasil aumentar os investimentos que hoje são de R$ 5 mil para cada aluno
da educação básica. Em países ricos, esse valor é três vezes maior. Que não
chegássemos a tanto, mas diminuir as verbas da educação é ir em direção oposta.
Para completar, no mesmo dia do discurso em Davos, o governo
anunciou o cancelamento da Conferência Nacional de Educação (Conae), que aconteceria
em fevereiro, a tempo de pressionar o Congresso na tramitação do Plano Nacional
de Educação (PNE), que voltou para a Câmara dos Deputados depois de modificado,
para pior, pelo Senado. Sob protesto dos movimentos de defesa da educação, a
Conae ficou para novembro, depois da Copa e das eleições, e o PNE, que deveria
ter sido aprovado há três anos, vai atrasar mais um.
É impossível tornar consequente o discurso da presidente
enquanto perdurar uma ideia fisiológica e patrimonialista de governabilidade,
segundo a qual um ministério pode ser fatiado e distribuído entre partidos
aliados. Uma reforma ministerial, mesmo diante de prioridades inegavelmente
estratégicas e eloquentemente discursadas, longe de significar novo
planejamento de metas de longo prazo, reduz-se a uma redistribuição de cargos
com o curto prazo eleitoral. Desse modo, a distância entre o Brasil e Davos só
aumenta.
Marina Silva, ex-senadora, foi ministra do Meio Ambiente no
governo Lula e candidata ao Planalto em 2010. Escreve às sextas na Folha de
S.Paulo.
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