Principal líder da oposição e presidente de honra do PSDB,
FHC declarou que prefere Aécio, “porque tem uma estrutura partidária maior. Mas
acho que o Eduardo está tomando posições que são corretas e vai arejar de
qualquer maneira.”
Ele identifica uma “fadiga de material” na administração
petista. “A população está sentindo que está na hora de mudar”, avalia. Mas a
mudança não virá de mão beijada. “Essa eleição só será ganha pela oposição se
alguém da oposição, seja quem vier a ser, tiver coragem de dizer as coisas como
elas são, com simplicidade.''
Se fosse mais jovem, disputaria a Presidência? “Se eu
tivesse 15 anos a menos, na circunstância atual, sim, sim, porque eu estou com
vontade de mudar”, respondeu o octagenário cacique tucano. “O Brasil está
precisando de gente que fale olhando no olho das pessoas, dizendo, sem meias
palavras, sem muita politiquice, as coisas como elas são.”
FHC reconhece que Aécio e Campos ainda não se firmaram como
contrapontos viáveis de Dilma. Acha natural, já que o eleitor só vai prestar
atenção na disputa presidencial “depois da Copa.” Por ora, só a presidente é
realmente conhecida. Sem “ilusões” quanto à dificuldade da disputa, celebra uma
novidade: “Pela primeira vez, houve um deslocamento de blocos do governo.”
“Tanto a Marina quanto o Eduardo saem do bloco do governo e
vão pro outro lado”, afirmou. “A campanha vai forçar uma certa radicalização. E
acho que há, pela primeira vez também, uma articulação positiva entre o Eduardo
e o Aécio.” Para FHC, ambos entenderam que precisam “somar forças.”
E quanto à aversão de Marina Silva às alianças do PSB de
Campos com o PSDB? “A resistência dela é outra. Ela quer fazer o partido dela”,
opinou FHC. “O objetivo da Marina não é eleger o Eduardo, é fazer a Rede. E ela
quer ter candidatos que permitam que a Rede exista. Então, nesses Estados em
que ela tem candidatos que podem fazer alguma aglutinação, ela vai defender os
interesses dela.”
Se há “fadiga de material” em Brasília, também há em São
Paulo, não acha? “Eu seria incoerente se dissesse que não”, concedeu FHC, antes
de acrescentar que, ainda assim, “é difícil que o PT tenha condições de ganhar
em São Paulo. Não é impossível, mas acho difícil.”
Em meio aos comentários azedos sobre o petismo, FHC reservou
uma observação amena para Fernando Haddad. “O prefeito de São Paulo é um bom
rapaz. Mas ele está indo mal. Não é culpa dele. O próprio governo federal
[interveio] na questão do aumento dos ônibus… Ele não está se firmando. E isso
é algo que ajuda o governo do PSDB em São Paulo.”
Lula já impôs ao PSDB os “postes” Dilma e Haddad. Não receia
que ele consiga fazer de Alexandre Padilha governador de São Paulo? FHC
responde com ironia: “Eu tenho receio de outra coisa. Que o Lula, de botar
tanto poste sem luz, acabe escurecendo o Brasil. É preciso evitar isso.”
Perguntou-se a FHC se o PSDB não deve explicações ao país
sobre o mensalão tucano de Minas e o cartel de trens e metrô de São Paulo. E
ele: “No caso de Minas Gerais, na época, eu fui dos poucos que disse que era
preciso uma explicação. Agora, vamos qualificar. O que houve em Minas Gerais
foi o que o Lula disse que era natural. Foi, eventualmente, desvio de recursos
para campanha eleitoral [de Eduardo Azeredo, em 1998]. Não é perdoável, mas é
diferente do mensalão. O mensalão foi compra sistemática de apoio para o
governo no Congresso.”
O repórter recordou a FHC: o operador dos dois mensalões é o
mesmo: Marcos Valério. O agente financeiro dos empréstimos fictícios também se
repete: Banco Rural. E houve desvio de verbas públicas nos dois casos. “Não
estou negando isso, nem estou desculpando'', prosseguiu FHC. “Estou dizendo,
entretanto, que, se houve, foi para a campanha. Não justifico, mas é
diferente.” Provocado, disse esperar que o STF julgue a encrenca tucana com o
mesmo rigor que aplicou no julgamento da ação penal do mensalão petista.
Sobre o cartel de São Paulo: “Acho que tem que ser apurado.
Se trata de surborno, parece óbvio, de funcionários. Qual é o elo disso com o
governador ou com o partido? Eu não vi nem indício. É corrupção, é condenável,
mas não foi para o PSDB. Não apareceu, pelo menos até hoje, nenhum dado que
diga: esse dinheiro foi usado pelo PSDB. Não foi. É outra coisa. É corrupção,
condenável. O PSDB tem que explicar isso.”
Aécio já declarou que, se tiver gente do PSDB paulista
envolvida no caso Siemens-Alstom, deve ir para a cadeia. Pensa do mesmo modo? “Ah, penso. Penso. Não tem nenhuma
discordância. Acho que um dos problemas no Brasil é de que tem que ter
processos mais rápidos […] Roubou? Vai pra cadeia. Mas acho que no caso de São
Paulo está havendo manipulação política…” Nas palavras de FHC, o dinheiro “não
foi para o partido nem para os governadores'' tucanos.
Clique aqui e confira a entrevista na íntegra, feita ao
jornalista e blogueiro Josias de Souza.
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