domingo, 26 de junho de 2016

O PREFEITO REJEITADO

Da ISTOÉ
Bom de lábia, mas ruim de serviço, o prefeito Fernando Haddad (PT) pode entrar para a história como o pior administrador da capital paulista em décadas. Faltando seis meses para o término do mandato, o petista bate recordes. Todos negativos. A gestão dele é desaprovada por sete em cada dez paulistanos, 55% a consideram péssima e apenas 12% a avaliam como boa, segundo pesquisa Ibope divulgada semana passada. Pudera. Haddad se mostrou, na prática, o inverso do administrador eficiente propagado na eleição de 2012. Até agora, 63 das suas 123 propostas de campanha não foram concluídas. Algumas delas, como a construção de duas mil unidades habitacionais para sem-tetos, poderiam ter evitado as cinco mortes de moradores de rua causadas pelo intenso frio das últimas semanas. Para piorar, muitas das promessas tiradas do papel geram controvérsias pela falta de planejamento. São os casos dos corredores de ônibus e das mudanças de velocidade em vias públicas. Outras, como as ciclovias, tornaram-se alvos de investigações criminais. Diante deste quadro, não é de se estranhar que o petista apareça em quarto lugar na corrida à reeleição, com 7% dos votos. Está atrás de Celso Russomanno (PRB) Marta Suplicy (PMDB) e Luiza Erundina (PSOL).
Aliados tentam usar a crise que abate o PT em todo o País para justificar a desaprovação. Mas o ponto fraco de Haddad é mesmo a gestão. Dados da prefeitura mostram que ele não entregou metade das promessas. Na área da saúde, concluiu apenas um dos três hospitais prometidos e duas das cinco novas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Na educação, completou até agora só um dos vintes Centros Educacionais Unificados (CEUs) anunciados. E o megalomaníaco Arco do Futuro, idealizado para revolucionar a mobilidade urbana e levar emprego para regiões populosas, só está pronto na maquete da campanha. O petista tampouco iniciou a construção das duas mil unidades habitacionais destinadas a sem-tetos. A queda brusca de temperatura, nas últimas semanas, deixou claro o despreparo da gestão municipal. Não há vagas suficientes em abrigos e o prefeito demorou a lançar um plano emergencial. Gastou tempo com frases dignas de um discurso higienista ao defender a retirada de cobertores de moradores de rua pela guarda civil.
Haddad erra até ao tentar implementar projetos que foram bem-sucedidos em outros países. Foi assim com a expansão das faixas exclusivas para o ônibus. A medida que reduz o tempo de deslocamento daqueles que utilizam o transporte público até é aplaudida por alguns setores, mas foi feita de maneira equivocada. Como os ônibus circulam em faixas coladas à calçada, o acesso a estabelecimentos comerciais é inviabilizado. Um problema que poderia ser resolvido se fossem feitas em canteiros à esquerda. Resultado: o comércio de rua foi arruinado. Pelo visto, o prefeito do PT parte do equivocado princípio de que o comércio da cidade se desenvolve apenas nos shoppings. Não por acaso recebeu a alcunha de “prefeito google maps”. Afinal, basta andar pela periferia para se constatar que o forte comércio local é o de rua.
Quando ele reduziu drasticamente a velocidade máxima de veículos com o argumento de que reduziria o número de acidentes mais uma vez faltou planejamento. A tese é correta, mas a gestão tinha de ir além, como construir mais passarelas para os pedestres e investir na manutenção dos semáforos, que param de funcionar ao menor sinal de chuva. Os investimentos se concentram nos radares, que fizeram a indústria da multa crescer 20% nos últimos três anos. Durante a atual gestão, o número de equipamentos que fiscalizam o trânsito passou de 587 para mais de 900, quinze deles móveis e dez do tipo pistola, medidas que só servem de pagadinha aos mais afoitos e em nada educam os motoristas.
As ciclovias, outra aposta controversa, tornaram-se um problema de Justiça. Os preços muito acima dos pagos por outras capitais fizeram promotores desconfiarem da existência de superfaturamento. O custo médio de cada quilômetro sai por R$ 650 mil, cinco vezes o pago por Paris. Os valores de alguns destes projetos chamam a atenção também se comparados com os desembolsados por administrações passadas. É o caso da ciclovia Ceagesp-Ibirapuera, uma obra simples e plana, com apenas faixas vermelhas de sinalização. Cada um de seus 12,4 quilômetros custou R$ 4,4 milhões aos cofres públicos. Na gestão anterior, a mesma empresa cobrou R$ 617 mil por quilômetro. Se depender dos promotores, o petista e sua equipe terão de devolver aos cofres públicos a diferença.
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