domingo, 31 de janeiro de 2016

DO 'AEDES AEGYPTI' À TSÉ-TSÉ

Artigo de Fernando Gabeira
A crise brasileira é um fato internacional. Dentro dos nossos limites, estamos puxando a economia mundial para baixo. Nossa queda não impacta tanto quanto a simples desaceleração chinesa. Mas com alguma coisa contribuímos: menos 1% no crescimento global.
Na crise da indústria do petróleo, com os baixos preços do momento, o Brasil aparece com destaque. Cerca de 30% dos projetos do setor cancelados no mundo foram registrados aqui, com o encolhimento da Petrobrás. Dizem que os brasileiros eram olhados com um ar de condolências nos corredores da reunião de Davos. Somos os perdedores da vez.
Diante desse quadro, Dilma diz-se estarrecida com as previsões negativas do FMI. Quase todo mundo está prevendo uma crise de longa duração e queda no PIB. Centenas de artigos, discursos e relatórios fortalecem essa previsão. Dilma, se estivesse informada, ficaria estarrecida por o FMI ter levado tanto tempo para chegar a essa conclusão. Ela promete que o Brasil volta a crescer nos próximos meses. No mesmo tom, Lula declarou aos blogueiros amestrados que não existe alma viva mais honesta do que ele. Não é recomendável entrar nessas discussões estúpidas. Não estou seguro nem se o Lula é realmente uma alma viva.
A troca de Levy por Barbosa está sendo vista como uma luta entre keynesianos e neoliberais. Pelo que aprendi de Keynes, na biografia escrita por Robert Skidelsky, é forçar um pouco a barra acreditar que sua doutrina é aplicável da forma que querem no Brasil de hoje. É um Keynes de ocasião, destinado principalmente a produzir algum movimento vital na economia, num ano em que o País realiza eleições municipais. É o voo da galinha, ainda que curtíssimo e desengonçado como o do tuiuiú.
O Brasil precisa de uma década de investimentos vigorosos, para reparar e modernizar sua infra. Hoje, proporcionalmente, gastamos nisso a metade do que os peruanos gastam.
O governo não tem fôlego para realizar essa tarefa. Isso não significa que não haja dinheiro no Brasil ou no mundo. Mas são poucos os que se arriscam a investir aqui. Não há credibilidade. O populismo de esquerda não é uma força qualquer, ele penetra no inconsciente de seus atores com a certeza de que estão melhorando a vida dos pobres. E garante uma couraça contra as críticas dos que “não querem ver pobre viajando de avião”.
Em 2016 largamos na lanterna do crescimento global. Dilma está estarrecida com isso e a mais honesta alma do Brasil diz “sai um lorde Keynes aí” como se comprasse cigarros num botequim de São Bernardo do Campo.
Aos poucos, o Brasil vai se dando conta da gravidade da epidemia causada pelo Aedes aegypti. Gente com zika foi encontrada nos EUA depois de viajar para cá. As TVs de lá martelam advertências às grávidas. Na Itália quatro casos de contaminação foram diagnosticados em viajantes que passaram pelo Brasil. O ministro da Saúde oscila entre a depressão e o entusiasmo. Ora exagera o potencial das campanhas preventivas, ora reconhece de forma fatalista que o Brasil está perdendo feio a guerra para o mosquito. Com nossa estrutura urbana, é quase impossível acabar com o mosquito. Mas há o que fazer.
Não se viu Dilma estarrecida diante da epidemia. Nem a mais honesta alma do Brasil articulando algo nessa direção. Solução que depende do tempo, a vacina ainda é uma palavra mágica.
No entanto, estamos nas vésperas da Olimpíada. Os líderes que a trouxeram para o Brasil, nos tempos de euforia, quase não tocam no assunto; não se sentam para avaliar como nos degradamos e como isso já é percebido com clareza lá fora.
A Economist publica uma capa com Dilma olhando para baixo e o título: A queda do Brasil. Na economia, área em que as coisas andam mais rápidas, não há mais dúvidas sobre o fracasso.
A segunda maior cidade do Rio, Estado onde se darão os Jogos, simplesmente quebrou. Campos entrou em estado de emergência econômica, agora que os royalties do petróleo parecem uma ilusão de carnaval.
O problema dos salvadores do povo é que não percebem outra realidade exceto a de permanência no poder. Quanto pior a situação, mais se sentem necessários. Os irmãos Castro acham que salvaram Cuba e levaram a um patamar superior ao da Costa Rica, por exemplo. O chavismo levou a Venezuela a um colapso econômico, marcado pelas filas para produtos de primeira necessidade, montanhas de bolívares para comprar um punhado de dólares. Ainda assim, seus simpatizantes dizem, mesmo no Brasil, que a Venezuela está muito melhor do que se estivesse em mãos de liberais.
O colapso, a ruína, a decadência, nada disso importa aos populistas de esquerda. Apenas ressaltam suas boas intenções e a maldade dos críticos burgueses, da grande mídia, enfim, de qualquer desses espaços onde acham que o diabo mora. O Lula tornou-se o símbolo desse pensamento. Na semana em que se suspeita de tudo dele, do tríplex à compra de caças, do petrolão às emendas vendidas, chegou à conclusão de que não existe alma viva mais honesta do que ele.
Aqueles que acreditam num diálogo racional com o populismo de esquerda deveriam repensar seu propósito. Negar a discussão racional pode ser um sintoma de intolerância. Existe uma linha clara entre ser tolerante e gostar de perder tempo. O mesmo mecanismo que leva Lula a se proclamar santo é o que move a engrenagem política ideológica do PT. Quando a maré internacional permitiu o voo da galinha, eles se achavam mestres do crescimento. Hoje, com a maré baixa, consideram-se os mártires da intolerância conservadora. Simplesmente não adianta discutir. No script deles, serão sempre os mocinhos, nem que tenham de atacar a própria Operação Lava Jato.
Considerando que Cuba é uma ditadura e a Venezuela chega muito perto disso com sua política repressiva, como explicar a aberração brasileira?
Certamente algum mosquito nos mordeu para suportarmos mentiras que nos fazem parecer otários. Não foi o Aedes aegypti. A tsé-tsé, quem sabe?
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sábado, 30 de janeiro de 2016

DESMORONA O CASTELO

Da IstoÉ
Na sexta-feira 29, o Ministério Público de São Paulo intimou para prestar depoimento o ex-presidente Lula, sua mulher Marisa Letícia e o ex-presidente da OAS, Leo Pinheiro. Lula será ouvido em 17 de fevereiro como investigado, sob a suspeita de ter praticado crimes de ocultação de patrimônio e lavagem de dinheiro. Frente a frente com os promotores, a família do ex-presidente e o empreiteiro terão de apresentar justificativas mais plausíveis do que aquelas já expostas até agora a respeito do tríplex localizado no condomínio Solaris, no Guarujá, e reformado pela OAS, que na semana passada transformou-se em alvo da mais recente fase da Operação Lava Jato. As suspeitas, segundo os procuradores, recaem sobre o uso dos apartamentos do Solaris, entre eles o de Lula, para “repasse disfarçado de propina a agentes envolvidos no esquema criminoso da Petrobras.” Em outras palavras, pagamento de suborno do Petrolão.
ISTOÉ teve acesso a três documentos que comprometem as versões exibidas por Lula, desde que o caso veio à tona. No ano passado, quando surgiram as primeiras denúncias de que a empreiteira OAS, envolvida nas falcatruas da Petrobras, desembolsou mais de R$ 700 mil na reforma do apartamento no litoral paulista, o Instituto Lula se esmera em negar com veemência que o ex-presidente ou a ex-primeira-dama Marisa Letícia sejam donos do imóvel. Eles seriam, segundo insistem em afirmar, apenas cooperados de uma cota da quebrada Bancoop, a Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo, já comandada por dirigentes petistas, como João Vaccari Neto e Ricardo Berzoini, hoje ministro de Dilma, que deixou mais de três mil famílias sem ver a cor de seus imóveis e do dinheiro aplicado por eles movidos pelo sonho da casa própria. O discurso do principal líder petista persistiu até semana passada, apesar de toda a sorte de depoimentos que confirmaram a presença rotineira de integrantes da família Lula durante as obras responsáveis por mudar (para melhor) a configuração do tríplex. Os documentos que ISTOÉ apresenta agora revelam que Lula jamais abriu mão do imóvel. Há sete anos, a família Lula deveria ter exercido o direito, caso tivesse interesse, de se desfazer da cobertura de frente para a praia e receber a restituição em dinheiro do que havia desembolsado até ali. Mas não o fez. Na época, um acordo foi selado, transferindo o empreendimento atrasado e inacabado da Bancoop para a OAS.
Ratificado na assembleia dos proprietários em 27 de outubro de 2009 e subscrito pelo ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, o “Termo de Acordo para Finalização do Residencial”, de 14 páginas, é taxativo. Diz que os investidores do inacabado Residencial Mar Cantábrico, renomeado tempos depois para Solaris, tinham dez dias a contar daquela reunião para se desligarem da Bancoop. Precisavam, afirma a cláusula 8.1 do capítulo VIII, também optar entre duas opções em até 30 dias. A primeira, afirma o capítulo X, receber os valores em espécie com multa. A outra consistia em manifestar o desejo de ficar com o imóvel e custear novas despesas para sua finalização. Os valores já pagos, então, iriam ser transformados em uma carta de crédito pela OAS que deveria ser “usada com exclusividade como parte de pagamento para a aquisição de unidade do empreendimento”. Evidente que aquela era uma oportunidade para que os até então aspirantes a adquirir o imóvel desistissem dele, caso tivessem vontade. Mais do isso. As cláusulas 8.2, 8.3 e 8.4 afirmam que “os cooperados que não atenderem ao disposto item 8.1 infringirão deliberação da Assembleia” e “serão penalizados” com a “sua eliminação da Bancoop”.  Não foi uma mera ameaça. Segundo apurou ISTOÉ junto a cooperados da empresa, quem descumpriu esses itens acabou acionado na Justiça. Por isso torna-se completamente inverossímil a nota divulgada pelo Instituto que leva o nome do ex-presidente, quando sugere que a família Lula poderia decidir, em 2015, entre ficar ou não com o apartamento. Se porventura isso acontecer, sobretudo depois da eclosão do escândalo, ficará configurado mais um favorecimento da empreiteira OAS, implicada no Petrolão, ao petista e seus familiares.
Outro documento ao qual ISTOÉ teve acesso revela que a OAS nunca colocou à venda o tríplex destinado à família Lula, o 164 A, ao contrário da atitude tomada em relação a outros imóveis descartados por cooperados em 2009. Os apartamentos dos que não demonstraram interesse em migrar da cooperativa para a empreiteira, logo, foram repassados ao mercado. É lícito supor que se Lula tivesse manifestado a intenção de se desfazer da cobertura, seu apartamento receberia o mesmo tratamento dos demais. Definitivamente não foi o que aconteceu. A tabela de vendas com 12 páginas, de uma empresa associada à OAS e responsável pela comercialização das unidades restantes do Solaris, no Guarujá, é bem clara. O documento datado de fevereiro de 2012 mostra que 33 unidades do condomínio Solaris estavam disponíveis naquela ocasião.  Em uma das colunas, a tarja preta sobre o tríplex 164 A de Lula indica que, sim, o imóvel já tinha dono e não poderia ser comercializado. Naquele ano, havia até um tríplex esperando por compradores, mas o da torre vizinha ao prédio de Lula.
 Autoridades familiarizadas com o esquema da Bancoop também estranham outra afirmação do Instituto Lula: a de que Marisa teria adquirido cotas do empreendimento. “Genericamente, este negócio de cotas é coisa de consórcio. Cooperativa, como a Bancoop, é algo diferente. Ali, o que a pessoa adquire é um apartamento X ou Y”, diz o promotor paulista José Carlos Blat. Num outro documento obtido por ISTOÉ, um dos cooperados - que preferiu ter o nome preservado - assina o termo de adesão da Bancoop em março de 2004. O acordo já previa o número do apartamento. Outros ex-proprietários confirmaram que já sabiam previamente dos apartamentos que caberiam a eles, antes mesmo de realizarem qualquer pagamento à cooperativa. “Para mim e para muitos, o apartamento já vinha definido na hora da compra”, diz a advogada e ex-cooperada Tânia de Oliveira “Até porque havia variações de preço de acordo com o tamanho, o andar, a vista e a localização”, afirma.
Os documentos lançam luz sobre as inconsistências das versões apresentadas por Lula. Os trâmites, por assim dizer, burocráticos desde a incorporação pela OAS dos apartamentos da falida Bancoop são fundamentais para atestar documentalmente que, sim, a família do ex-presidente sempre teve a intenção de permanecer com o tríplex de frente para a praia. Desmoronam o castelo de areia em que se transformou o imóvel do petista. O escândalo, no entanto, vai além de uma questão de formalização. Uma série de depoimentos revela que Lula e Dona Marisa agiram – com impressionante desassombro, até serem confrontados com os fatos – como verdadeiros donos do imóvel. A ex-primeira-dama acompanhou de perto a reforma do tríplex, paga pela OAS. Não foram poucas as alterações, como uma simples troca de azulejos do banheiro, por exemplo. As mudanças conferiram uma roupagem nova e mais sofisticada ao imóvel, com cerca de trezentos metros quadros e vista para o mar. Segundo o engenheiro Armando Dagre, um dos donos da Talento Construtora, empresa responsável pela reforma, as obras foram típicas de quem pretende se instalar no imóvel deixando-o à sua feição. Por isso foram empreendidas mudanças significativas na área da piscina, com a instalação de um espaço gourmet, no acabamento do piso, que passou a ter revestimento de porcelanato, e na escada, que deixou de ser o único elo entre os três pisos do apartamento: para que Lula e seus familiares pudessem vencer os três andares do imóvel com mais conforto foi determinada a instalação de um elevador privativo. As despesas somaram cerca de R$ 750 mil, pagas pela empreiteira envolvida no Petrolão. O engenheiro foi além em seu relato. Afirmou ter testemunhado uma das visitas da ex-primeira-dama no imóvel em 2014. Em sua companhia, estavam o filho Fábio Luiz e nada menos do que Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS e réu no Petrolão. As idas de Marisa ao prédio foram atestadas por outros dois funcionários do condomínio, em depoimento ao MP-SP. De acordo com eles, de tão interessada, ela chegou a perguntar sobre o uso das áreas comuns – seguindo à risca a liturgia que todo proprietário de um imóvel adquirido na planta cumpre. Depois da vistoria, a mulher de Lula participou do processo tradicional de recebimento das chaves do imóvel. “Pegamos as chaves do apartamento no dia 5 de junho, inclusive dona Marisa — disse Lenir de Almeida Marques, casada com Heitor Gushiken, primo do ex-ministro Luiz Gushiken, morto em 2013 e que foi também presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo. O Solaris abriga outros moradores bem próximos do petista, como João Vaccari Neto e Freud Godoy, uma espécie de faz-tudo do ex-presidente, que, depois de atuar por vinte anos como seu guarda-costas, virou assessor especial do Planalto durante sua gestão.
Esses fatos por si só já colocariam Lula numa enrascada, uma vez que poderiam ensejar uma denúncia por ocultação de patrimônio, como defende um integrante do MP-SP. As investigações acerca da relação de Lula com o imóvel, no entanto, ganharam nova dimensão na semana passada com a entrada do edifício Solaris no radar da força-tarefa da Lava Jato. A “Triplo X”, nome alusivo a tríplex, mira segundo os procuradores “todos os apartamentos” do edifício Solaris, no Guarujá, que estariam sendo usados “para repasse disfarçado de propina (pela OAS) a agentes envolvidos no esquema criminoso da Petrobras.” Questionado durante entrevista coletiva,  se Lula seria o foco da operação, o representante do MPF respondeu: “Se houver um apartamento lá que esteja em seu nome [de Lula] ou que ele tenha negociado, vai ser investigado como todos os outros.”
Durante a Operação, da qual participaram 80 agentes, foram recolhidos documentos na OAS, Bancoop e na Mossack Fonseca, empresa responsável por viabilizar a constituição da offshore Murray, sediada no Panamá. Ela foi usada para registrar 14 apartamentos, entre eles um tríplex no Solaris, e ocultar seus verdadeiros donos. A Mossack Fonseca já havia aparecido anteriormente na Lava Jato por auxiliar outros réus a esconderem dinheiro da corrupção da Petrobras em paraísos fiscais. Além da companhia - apontada como uma facilitadora de lavanderias de dinheiro por procuradores -, as investigações centram em imóveis que pertenceriam a familiares de João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT e preso na Lava Jato. Um apartamento situado no condomínio e declarado à Receita pela esposa de Vaccari tem sua escritura em nome de uma funcionária da OAS. Chamou atenção também o fato de Marice Correa, cunhada do ex-tesoureiro do PT e que chegou a ser detida no Petrolão, ter comprado e revendido um imóvel para a própria empreiteira por quase o triplo do valor em apenas um ano. A chave para elucidar esta lavanderia, para as autoridades, é Nelci Warken, ex-prestadora de serviços de marketing à Bancoop. Presa na quarta-feira, ela é tida como laranja do esquema.
O novo escândalo abala Lula como nunca antes. Pelo simples fato de que, agora, a denúncia envolve suspeitas de favorecimento no campo estritamente pessoal. No imaginário popular, sai do abstrato e já quase banalizado “desvio de verbas para campanhas” para o concreto e tangível benefício próprio materializado num confortável tríplex com vista para o mar. Diante do exposto, fica complicado persistir na retórica de vítima das elites, enquanto os meros mortais de carne e osso o imaginam refestelado na espreguiçadeira da piscina reformada por uma empreiteira contemplando a vista para o mar da praia do Guarujá. A história política brasileira recomenda alerta. Uma outra reforma potencializou a queda de outro ex-presidente do Planalto. Em 1992, Collor viu sua popularidade se deteriorar com a divulgação das cachoeiras motorizadas, do lago artificial e das fontes luminosas da Casa da Dinda, cujo suntuoso jardim de marajá foi reformado por um paisagista renomado com dinheiro proveniente de contas do tesoureiro, Paulo César Farias. Único nome com musculatura eleitoral para dar prosseguimento ao projeto de poder petista em 2018, Lula corre o risco de ver seu castelo de areia desabar, e junto com ele todo o capital político que acumulou em quarenta anos de vida pública.
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BRASIL, 10 MILHÕES DE DESEMPREGADOS

Da Época
Rio de Janeiro, 4h30 da madrugada. Os poucos carros e ônibus que circulavam ainda mantinham os faróis acesos, no bairro de Campo Grande, a cerca de 50 quilômetros do centro da cidade, na quinta-feira passada. Não havia clareado ainda. O auxiliar de serviços gerais Márcio Andrade, de 41 anos, já estava na porta da Agência Estadual do Trabalho e Renda. Trata-se de um órgão do governo fluminense dedicado a promover o encontro entre quem procura trabalho – atualmente, muitos – e quem oferece – atualmente, bem poucos.
Andrade sentou-se no banco de concreto e esperou o atendimento, que só  começaria às 8h30. Foi o primeiro a chegar. Logo ganhou companhia. Desempregados vinham de bairros vizinhos e cidades próximas, atraídos pela crença de que, entre as 13 agências espalhadas pelo Rio de Janeiro, a de Campo Grande é a que oferece mais vagas. Chegam, ainda no escuro, a uma região violenta. As horas passam e, antes de a agência abrir, em torno de 60 pessoas formavam fila. Ignoravam o biscateiro que tentava vender café a R$ 0,50 o copinho. Andrade estava pessimista. Tinha bons motivos.
Naquela mesma quinta-feira, o governo federal faria duas divulgações que justificam a falta de confiança dele e da maioria dos brasileiros em idade de trabalhar. No Rio de Janeiro, saiu o anúncio que a renda média do trabalho caiu em 2015, pela primeira vez em 11 anos, e que o nível de desemprego em dezembro foi o mais alto dos últimos oito anos. O número de desempregados no país se aproxima de 10 milhões – quase um Portugal inteiro sem emprego. Em Brasília, a presidente Dilma Rousseff apresentou sua intenção de estimular a economia com mais crédito para o consumo – uma terapia velha e inútil contra a crise atual. Ao que tudo indica, o governo persistirá na política econômica que prejudica, principalmente, a população mais pobre.
Leia reportagem na íntegra em Época desta semana que já está nas bancas.
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TRISTES TRÓPICOS

Da Veja
Um mosquito ameaça nocautear a orgulhosa civilização tecnológica do século XXI. Os autores de ficção imaginaram o mundo de joelhos diante de terroristas, de invasores do espaço, devolvido à Idade da Pedra por uma guerra nuclear total e até mesmo acossado pela progressão incontida de algum vírus misterioso... mas submetido a um mosquito? Isso não. Isso seria enredo de filme de terror de um tempo remoto da humanidade. No começo do século passado, a malária, transmitida por mosquitos, mandou para o hospital dez de cada 100 trabalhadores encarregados da construção do Canal do Panamá - e só oito ­saíam de lá com vida.
Agora, mais de 100 anos depois, um outro mosquito está levando o presidente americano Barack Obama a convocar reuniões de emergência na Casa Branca, em Washington, e, do lado de lá do oceano, tirando do sério outro senhor do mundo, o russo Vladimir Putin. "E agora nos vem uma porcaria da América Latina", disse Putin depois de ser informado sobre o potencial de destruição dos vírus transportados pelo mosquito Aedes aegypti. Obama exigiu de seus sábios a produção imediata de uma vacina contra o zika, o vírus mais temido transmitido pelo Aedes aegypti. Ouviu deles que, na melhor das hipóteses, uma vacina contra o zika levará três anos para estar em condições de ser usada em larga escala.
A semana culminou com um alerta da chinesa Margaret Chan, diretora-geral da Organização Mun­dial da Saúde (OMS): "O explosivo avanço do zika vírus é motivo de preocupação, especialmente diante do possível elo entre a infecção durante a gravidez e o nascimento de bebês com microcefalia". Os governos de El Salvador, Colômbia, Jamaica, República Dominicana e Equador recomendaram às mulheres evitar engravidar até 2018. Marcelo Castro, ministro da Saúde do Brasil, foi bombardeado por se sair com sugestão semelhante há algumas semanas. Disse ele: "Torço para que as mulheres peguem zika antes da idade fértil". Uma vez contaminado pelo zika, o organismo é imunizado contra novas infecções. É uma vacina natural. Como reconheceu a presidente Dilma Rousseff: "Estamos perdendo a luta contra o mosquito".
Em um mundo em que os avanços tecnológicos da medicina estão fazendo com que o número de pessoas que chegam com saúde aos 100 anos cresça rapidamente, é melancólico que a imunização contra o zika só esteja ao alcance por meio de uma pajelança, a exposição voluntária à picada do mosquito transmissor do vírus. Não é muito ousada a ideia de que em breve, nas avenidas elegantes das capitais mundiais, serão abertas clínicas de imunização contra o zika com suas criações de Aedes aegypti portadores do vírus. Nas luxuosas salas de recepção, mulheres jovens que planejam engravidar teclam em seus smart­phones de última geração, enquanto esperam a vez de oferecer o braço para a picada do Aedes aegypti. Não poderá haver imagem mais dramática da rendição da humanidade ao inseto que ela, não conseguindo erra­di­cá-lo, passar a criá-lo em cativeiro. O mosquito venceu.
Antes da vitória final, é provável que o mosquito possa saborear alguns triunfos localizados. Na mira do Aedes aegypti está a Olimpíada do Rio de Janeiro. Seus organizadores, sem outra iniciativa mais efetiva, estão fazendo barricadas atrás da retórica, lembrando que os Jogos serão realizados em agosto, inverno no Brasil, quando o clima mais seco e menos quente inibe a presença do mosquito. VEJA.com teve acesso com exclusividade ao memorando do Comitê Olímpico Internacional (COI), distribuído às confederações nacionais, em que reafirma a adequação do Rio de Janeiro para sediar os Jogos, desde que os visitantes usem "camisa de mangas compridas e calça", especialmente nos períodos da manhã e da tarde. Para os atletas, essa recomendação é inviável e, portanto, inútil. Para quem vai apenas assistir às provas e aos jogos, é possível segui-la, ainda que com grande desconforto. Mesmo no inverno, com média história de 24 graus, a temperatura no Rio de Janeiro em agosto supera facilmente os 30 graus. No ano passado, houve dias com 34 graus e um dia com inacreditáveis 37 graus. O COI recomenda também às mulheres que pretendem ficar grávidas "discutir com o médico seus planos de viagem, para avaliar o risco de infecção". Até novembro do ano passado, o zika, aerotransportado pelo mosquito, parecia ser um risco apenas para a população do Brasil. Na última semana, como mostram as manchetes dos principais jornais das grandes capitais mundiais, o zika atingiu o status de ameaça planetária real e presente - posição que já foi ocupada no passado pela aids, pela doença da vaca louca, pela gripe aviária e pelo ebola.
A mortalidade do zika vírus é pequena. Ele só mata pessoas infectadas que já estiverem bastante debilitadas por outras moléstias graves.Por que então o mundo está em guerra total contra o mosquito que o transmite? A resposta é encontrada na correlação existente entre a infecção pelo zika e o nascimento de bebês com sérios defeitos, principalmente a microcefalia, a atrofia cerebral. Do ponto de vista rigorosamente científico, não existem evidências irrefutáveis de que o zika vírus tenha sido a causa única de ocorrências de microcefalia, mesmo quando sua presença foi detectada ao mesmo tempo na gestante e no feto. Tanto a infecção pelo zika quanto a microcefalia são fenômenos imensamente variáveis. A infecção pelo zika em uma mulher grávida pode provocar as esperadas manchas vermelhas na pele, febre baixa e dor de cabeça e, mesmo assim, ser branda, sem produzir danos neurológicos no bebê em gestação. Em casos assintomáticos, mesmo que a própria gestante não saiba que foi infectada pelo mosquito, o zika pode atuar agressivamente no processo de gestação. A microcefalia, por sua vez, é uma condição com inúmeras causas e sintomas. Ela pode ser motivada por problemas genéticos, por uso de drogas ou álcool pela gestante, por exposição a substâncias químicas como o mercúrio, por outras infecções (rubéola, citomegalovírus, varicela) e até por uma dieta pobre em nutrientes e vitaminas durante a gravidez. A microcefalia pode ser fatal para o recém-nascido, pode impedir definitivamente o desenvolvimento cerebral ou apenas atrasá-lo. Diz Bruce Aylward, chefe do Departamento de Surtos da OMS: "O que temos hoje é a suspeita de associação entre o zika e a microcefalia, não a comprovação de que esse vírus é causa da condição".
Um famoso estudo apoiado pelo Centro de Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, divulgado em janeiro passado, e que norteia a linha de conduta mundial em torno do zika, chega perto de estabelecer a relação de causalidade entre a infecção viral e a microcefalia. O trabalho, porém, não fecha questão e recomenda a continuação das pesquisas a respeito. Diz ele: "São necessários mais estudos para confirmar a associação entre a microcefalia e o vírus zika durante a gestação e compreender outras consequências da gravidez que possam ser relacionadas à infecção". O trabalho teve a participação de pesquisadores brasileiros como os da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, da Fundação Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro, e da Universidade Estadual de Campinas. Segundo o estudo, foi encontrado material genético do zika em duas amostras do líquido amniótico de mulheres grávidas de fetos microcéfalos e no tecido cerebral de outras duas crianças com microcefalia, que morreram logo depois do nascimento. As mães, brasileiras, contaram ter tido sintomas comumente relacionados à infecção pelo zika vírus durante a gravidez. Poucas semanas antes desse levantamento, o Instituto Carlos Chagas, da Fiocruz Paraná, havia confirmado a capacidade do zika de atravessar a placenta durante a gestação.
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SORTEIO

Charge do Moisés, via Blog do Noblat
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PEGA FOGO CABARÉ

Artigo de Sidney Bruce
O governo PT teve coragem de fazer que os outros partidos não fizeram, implementar um pacote de medidas do FMI, para assim amortizar os juros de um divida milionária, divida não feita no dito governo PT. Com isso houve sim avanços sociais, inclusive econômicos e fortalecimento da soberania do Brasil a nível internacional e isso é fato. E assim chupa a critica um sabor amargo.
Sobre os resultados? A curto prazo surtiram um efeito positivo, entretendo, contudo e porém não houve realmente um acompanhamento eficaz, analise in locu ou em outros países com experiência na implementação do pacote de distribuição e renda. Sendo bem oralista, “ Tipo assim, depois de matar a fome do povo, qual o próximo passo?”
Nesse meio tempo os marqueteiros políticos, competentes digamos de fato, descobriram que as medidas politicas sociais adotadas também eram e são ótimas ferramentas eleitoreiras. Alguém lembra dos boatos de que iriam cortar o bolsa família e qual a reação? Estranho pensar que o bolsa família tinha um pré-requisito, crianças e jovens nas escolas. Sim, esses mesmo que a mais de 8 anos recebem o beneficio e hoje engrossam o caldo da criminalidade no país inteiro.
Hoje falar de juventude conota: tráfico, drogas e morte, não generalizo claro. E não estou a falar das vítimas e vitimizados clichês neste contexto, tem uma juventude classe média branca, rica e hereta que trafica, clona cartão e rouba que é uma beleza.
PTzinho do coração esbarrou na verdade numa botija de ouro e caiu no erro em institucionalizar a corrupção já institucionalizada ou melhor, institucionalizou a corrupção do PT dentro um sistema já corroído ou vai me dizer que a “ PetrobraX “ esta sendo lapidada, não para virar diamante apenas no governo atual? Num temos que ter dinheiro para bancar as campanhas milionárias, ou nunca tivemos? Mesmo a oposição, que não é tão oposição, querem a mesma botija (Essa vai para Cunha Trust, Aécio Snow e Dinastia Ferreira Gomes).
Não vejo a intervenção militar como um avanço para a democracia. Basta ler 3 a 4 livros ou pesquisar na internet. E ler Revista Veja ou Carta Capital não vale, ambas são antagônicas e arrastam farinha pro mesmo saco.
No período Glorioso militar ou golpista, leiam como quiserem, não é difícil perceber que tirando o grande controle social exercido na época, a administração publica nos trouxe, falo como braziliam boy, nos trouxe  reflexos desastrosos.
Além das pessoas capturadas por este Estado Militar meio talibã, já sabido por todos, torturavam, sentenciavam e matavam, com base em conjecturas. Os corpos desses miseráveis sumiram, talvez moídos e feito salsicha, por isso que carne processada faz tão mal ao  consumo humano.
Tanta saburra neste período, que todos foram anistiados, crimes colocados em baixo do tapete.  Pois quem está dispostos à aplicar essa dita palmatoria não deveria recebê-la também? A única coisa boa que acabaram com a putaria do congresso na republiqueta da época. Também a falar em mazelas, a dívida externa moderna começou neste período, no projeto de Modernização do Estado.
O infeliz, famigerado que pegou a conta dessa “ budega “ foi esse tal Lula, meu basal, mas fez a coisa certa. E não tem FHC, tunacada ou milica que goste dessa reativa libertadora Lulesca.
Não podemos desconsiderar a inteligência do Plano Real, foi fodástico, TOP mesmo. Este ajudou e muito o problema econômico e inflacionário da nação. Não solucionou os assuntos sociais, mas ambos, “ pareados “ deram um fôlego enorme a nação.
Sobre o sistema politico brasileiro, sobretudo sobre as eleições, imunidade parlamentar, financiamento de campanhas e etc, é uma Vergonha. Sobre a última reforma politica,  “Que reforma? “A única reforma consistente mesmo será o shoppingzinho que será construído para os parlamentares, um puxadinho, tirando isso, nada consistente.
Corrupção e criminalidade vem em grande parte impulsionado pela impunidade. O sistema penal e carcerário precisam ser revisto, mas qual politico liga. Uns lucram mesmo por serem os salvadores da pátria e alinham os discursos juntos os policiais e auxiliares.
Policiais esses herois, se foda os direitos humanos, esses estão todos os dias com escalas de trabalho insalubres e tentam ser diariamente salvadores e sobreviventes desse princípio de caos. Há corruptos na corporação? Sim há. Mas lembram que citei anteriormente, “ Corrupção e criminalidade vem em grande parte impulsionado pela impunidade”.
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quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

ARTIGO DE LUXO

A falta de produtos nas prateleiras dos supermercados da Venezuela tem feito os preços de produtos básicos dispararem a níveis de artigos de luxo.
Um pacote de 1 quilo de leite em pó chegou a ser vendido por 2.125 bolívares no país, segundo veículos que fazem oposição ao governo de Nicolás Maduro, como o jornal "Correo del Caroní" e o site "DolarToday" (apesar do nome em inglês, é venezuelano).
Se for considerado o câmbio oficial (US$ 1 = 6,30 bolívares), mantido de forma artificial pelo governo venezuelano, equivaleria a mais de R$ 1.350.
Na prática, como o câmbio acessível à maioria das pessoas na Venezuela é o paralelo, muito mais desvalorizado (US$ 1 = 900 bolívares, mais ou menos), 2.125 bolívares seriam o equivalente a R$ 9,50.
Já faltou camisinha
Não é a primeira vez que a falta de produtos nas prateleiras ou preços abusivos na Venezuela viram notícia. Há um ano, o UOL divulgou notícia informando que um pacote com 36 camisinhas, difíceis de encontrar no país, chegava a custar até 4.760 bolívares (cerca de R$ 3.087 atualmente).
Em outro caso, o McDonald's passou a oferecer mandioca frita aos clientes no país, devido à falta de batatas.
'Comer na Venezuela é um luxo'
"Comer na Venezuela é um luxo. Agora, você tem de estabelecer prioridades: se compra o leite, não pega a carne nem o frango, porque tudo está impossível de comprar", disse a dona de casa Sonia Indriago ao jornal.
Por causa disso, os poucos pacotes de leite em pó que chegam aos supermercados não encontram compradores, segundo a reportagem.
O Ministro da Agricultura e Terras, Wilmar Castro Soteldo, afirmou que iria analisar a estrutura de custos do leite, da carne e do açúcar para desenvolver um plano para diminuir os custos de produção, segundo a Agência de Notícias da Venezuela.
Maior inflação do mundo
A escassez de produtos no país tem contribuído para a disparada da inflação. Segundo o banco central venezuelano, a alta dos preços em 12 meses atingiu 141% em setembro, último dado divulgado pelo órgão.
Projeções do FMI (Fundo Monetário Internacional), no entanto, são ainda mais pessimistas. De acordo com o fundo, a previsão de inflação para 2015 gira em torno de 160%, a maior do mundo, e deverá chegar a 720% em 2016.
Estado de emergência econômica
A crise vivida pela Venezuela levou o presidente Nicolás Maduro a decretar, no último dia 15, "estado de emergência econômica" por 60 dias.
A medida dá ao governo controle sobre o orçamento. Com isso, ele pode, por exemplo, fazer compras em regime de urgência sem licitação e dispensar os "trâmites cambiais" estabelecidos pelo banco central para facilitar a importação de produtos.
No entanto, a Assembleia Nacional da Venezuela, de maioria oposicionista, rejeitou o decreto na última sexta-feira, sob o argumento de que a medida não oferecia soluções para a crise econômica do país.
O governo Maduro trava uma disputa com oposicionistas, que pedem a renúncia imediata do presidente diante da crise econômica do país.
Do UOL, com agências internacionais 
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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

FORTALEZA VIOLENTA

Um estudo realizado pelo Conselho Cidadão para a Segurança Pública e Justiça Penal, do México, colocou Fortaleza de novo no mapa mundial da violência. Segundo a ONG mexicana, a capital cearense é cidade mais violenta do Brasil, e a 12ª do mundo.
A aferição da ONG leva em consideração dados oficiais, e de outras ONGs. A medição é feita com base no número de homicídios por 100 mil habitantes de cada cidade. E, nesse caso, Fortaleza registrou 60,77 homicídios para cada 100 mil habitantes, em 2015.
Das 50, 41 ficam na América Latina: 21 no Brasil, oito na Venezuela, cinco no México, três na Colômbia, duas em Honduras, uma na Guatemala e outra em El Salvador. Além destes, cidades da Jamaica, África do Sul e Estados Unidos também figuram na lista.
Histórico
Em 2014, Fortaleza apareceu no ranking como a 8ª cidade mais violenta do mundo. No ano anterior, a pior colocação para a cidade cearense, em 7º. Já em 2012, a capital cearense ocupou a mesma posição de 2015, em 12º. Durante a Copa do Mundo de 2014, Fortaleza era a cidade-sede mais violenta entre todas as cidades do Mundial.
Veja o ranking da ONG mexicana:
1° – Caracas (Venezuela) – 119.87 homicídios/100 mil habitantes
2° – San Pedro Sula (Honduras) – 111.03 homicídios/100 mil habitantes
3° – San Salvador (El Salvador) – 108.54 homicídios/100 mil habitantes
4° – Acapulco (México) – 104.73 homicídios/100 mil habitantes
5° – Maturín (Venezuela) – 86.45 homicídios/100 mil habitantes
6° – Distrito Central (Honduras) – 73.51 homicídios/100 mil habitantes
7° – Valencia (Venezuela) – 72.31 homicídios/100 mil habitantes
8° – Palmira (Colômbia) – 70.88 homicídios/100 mil habitantes
9° – Cidade do Cabo (África do Sul) – 65.53 homicídios/100 mil habitantes
10° – Cali (Colômbia) – 64.27 homicídios/100 mil habitantes
11° – Ciudad Guayana (Venezuela) – 62.33 homicídios/100 mil habitantes
12° – Fortaleza (Brasil) – 60.77 homicídios/100 mil habitantes
13° – Natal (Brasil) – 60.66 homicídios/100 mil habitantes
14° – Salvador e região metropolitana (Brasil) – 60.63 homicídios/100 mil habitantes
15° – ST. Louis (Estados Unidos) – 59.23 homicídios/100 mil habitantes
16° – João Pessoa; conurbação (Brasil) – 58.40 homicídios/100 mil habitantes
17° – Culiacán (México) – 56.09 homicídios/100 mil habitantes
18° – Maceió (Brasil) – 55.63 homicídios/100 mil habitantes
19° – Baltimore (Estados Unidos) – 54.98 homicídios/100 mil habitantes
20° – Barquisimeto (Venezuela) – 54.96 homicídios/100 mil habitantes
21° – São Luís (Brasil) – 53.05 homicídios/100 mil habitantes
22° – Cuiabá (Brasil) – 48.52 homicídios/100 mil habitantes
23° – Manaus (Brasil) – 47.87 homicídios/100 mil habitantes
24° – Cumaná (Venezuela) – 47.77 homicídios/100 mil habitantes
25° – Guatemala (Guatemala) – 47.17 homicídios/100 mil habitantes
26° – Belém (Brasil) – 45.83 homicídios/100 mil habitantes
27° – Feira de Santana (Brasil) – 45.50 homicídios/100 mil habitantes
28° – Detroit (Estados Unidos) – 43.89 homicídios/100 mil habitantes
29° – Goiânia e Aparecida de Goiânia (Brasil) – 43.38 homicídios/100 mil habitantes
30° – Teresina (Brasil) – 42.64 homicídios/100 mil habitantes
31° – Vitória (Brasil) – 41.99 homicídios/100 mil habitantes
32° – Nova Orleans (Estados Unidos) – 41.44 homicídios/100 mil habitantes
33° – Kingston (Jamaica) – 41.14 homicídios/100 mil habitantes
34° – Gran Barcelona (Venezuela) – 40.08 homicídios/100 mil habitantes
35° – Tijuana (México) – 39.09 homicídios/100 mil habitantes
36° – Vitória da Conquista (Brasil) – 38.46 homicídios/100 mil habitantes
37° – Recife (Brasil) – 38.12 homicídios/100 mil habitantes
38° – Aracaju (Brasil) – 37.70 homicídios/100 mil habitantes
39° – Campos dos Goytacazes (Brasil) – 36.16 homicídios/100 mil habitantes
40° – Campina Grande (Brasil) – 36.04 homicídios/100 mil habitantes
41° – Durban (África do Sul) – 35.93 homicídios/100 mil habitantes
42° – Nelson Mandela Bay (África do Sul) – 35.85 homicídios/100 mil habitantes
43° – Porto Alegre (Brasil) – 34.73 homicídios/100 mil habitantes
44° – Curitiba (Brasil) – 34.71 homicídios/100 mil habitantes
45° – Pereira (Colômbia) – 32.58 homicídios/100 mil habitantes
46° – Victoria (México) – 30.50 homicídios/100 mil habitantes
47° – Johanesburgo (África do Sul) – 30.31 homicídios/100 mil habitantes
48° – Macapá (Brasil) – 30.25 homicídios/100 mil habitantes
49° – Maracaibo (Venezuela) – 28.85 homicídios/100 mil habitantes
50° – Obregón (México) – 28.29 homicídios/100 mil habitantes
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segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

A GUERRA ACABOU

Artigo de Fernando Gabeira
Um soldado japonês, chamado Hiroo Onoda, lutou por 30 anos, depois que a II Guerra acabou. Ele foi mandado para as Filipinas com a missão de resistir e ficou por lá, sem saber do término do conflito. É quase impossível reproduzir, hoje, a saga de Hiroo Onoda.
Mas se olhamos para o Brasil, num período de derrocada da Petrobras e dos próprios preços do petróleo, veremos que o país tem um pouco da persistência do soldado japonês. Fomos educados a pensar que o petróleo é nossa grande riqueza, constantemente ameaçada pelos estrangeiros. Saímos às ruas, os mais velhos, para defender esse tese e gritávamos orgulhosamente: o petróleo é nosso. Com a descoberta do pré-sal, no governo do PT, reacendeu-se a chama: o petróleo é nossa redenção e dele brotam as fontes dos nossos recursos. No primeiro mandato de Lula, ele flertou com o álcool, planejou usinas de álcool em todo lugar, inclusive em parceria com os americanos. Mas o petróleo era muito forte. O pré-sal fez com que Lula jogasse todos os projetos de álcool para o espaço, lambuzasse as mãos com óleo negro e acariciasse as costas de Dilma, numa célebre foto em que parecia dizer: você é a herdeira e vai nos levar ao paraíso.
Alguns sabiam que não era bem assim. Conheciam a história da doença holandesa, como os países dependentes da produção do petróleo correm o risco de se atrasar. E viam também que recursos não bastam. Os royalties saíam pelo ralo em grandes festas municipais, obras caras e quase inúteis. Os patrióticos soldados do petróleo atacaram na regulação do pré-sal. É preciso não só defender o papel da Petrobras, como afirmar nossa vocação nacionalista: a empresa era obrigada a participar de todos os projetos na área do pré-sal.
A alternativa era dar à Petrobras a preferência. Onde quisesse, participaria; onde não quisesse, descartaria. A preferência era inclusive evitar as canoas furadas. Mas não soava tão nacionalista, tão apaixonada. O populismo de esquerda queria se apresentar como o grande defensor da Petrobras. Seus adversários do PSDB não tinham como contestá-lo, na verdade entraram na onda, com medo de perder votos. Enquanto o petróleo seguia seu destino de commodity, subindo e descendo no mercado, acossado pelos perigos do aquecimento global, nossos soldados continuavam a luta para protegê-lo da ambição estrangeira, imperialista, alienígena, enfim, o adjetivo dependia do estilo pessoal do orador.
O soldado japonês ficou 30 anos lutando numa guerra por disciplina e amor ao seu país. Quem o mandou para as Filipinas disse: fique lá até que determinemos sua volta. Os soldados brasileiros do petróleo amam o Brasil de uma forma diferente do japonês. Eles se identificam tanto com o país que, ao afirmarem que o petróleo é nosso, querem dizer que o petróleo é deles. Esta confusão entre soldado e pátria, partido e país, acabou inspirando a maior roubalheira da história do Brasil: o petrolão. O governo japonês garantiu um salário digno para o soldado Hiroo Onoda até o fim de sua vida. O brasileiro terá de garantir uma longa prisão para seus retardatários guerreiros. A última grande batalha aconteceu nas ruas do Rio, quando já se sabia do escândalo da Petrobras. Comandado por Lula, um pequeno pelotão desfilou pelas ruas defendendo a grande empresa dos seus inimigos internos e externos.
Assim como Lula, usavam macacões da cor laranja. Se fosse nos Estados Unidos, pareceriam candidatos à prisão, pois já estavam vestidos com a cor certa. O laranja é a cor do uniforme dos presidiários lá e inspirou o título de uma série sobre a cadeia: “Orange is the new black”. Mas se prendêssemos todos ali, poderíamos cometer injustiças. Nem todos saquearam a Petrobras. Alguns, talvez a minoria, simplesmente, não sabem que a guerra acabou e continuam acreditando que os americanos querem nosso petróleo e que o mundo inteiro se tensiona para nos explorar. Não sabem como os americanos avançaram na exploração do xisto, ignoram os investimentos alemães e chineses na energia solar, não dimensionam um conflito muito mais importante para o petróleo: o da Arábia Saudita e Irã, sunitas versus xiitas.
Assim como o japonês que não sabia do fim da guerra, nossos soldados talvez tenham ignorado um outro marco da história contemporânea: a queda do Muro de Berlim. Seguem de cabeça erguida rumo ao socialismo do século XXI, simplesmente como se o século anterior não tivesse existido. Em vez de fazer uma luta armada para implantar seu modelo, optaram por uma sinistra marcha pelas instituições, dominando-as progressivamente, até que sejam apenas um brinquedo na mão do partido e seu líder. Essa novidade também foi para o museu, com a crise na Venezuela, a derrota na Argentina. O Brasil não é um país muito rápido para apreender as mudanças, a ponto de prender os líderes saqueadores e mandar os iludidos soldados cuidarem de sua vida.
Pelo menos já compreendeu o ridículo de expor as mãos tintas pelo petróleo, de acreditar que nosso futuro depende apenas dele, de se divertir gastando royalties em incontáveis shows musicais nas cidades do interior. A guerra acabou. Hoje a ação da Petrobras vale menos que um coco na praia. E as reservas do pré-sal que nos trariam fortunas mirabolantes tornam-se econômicamente inviáveis com o petróleo a US$ 30 o barril. O exército laranja e seu general com mãos sujas de óleo deveriam sair das trincheiras. Perderam. O pior é que fizeram o Brasil perder muito mais, com suas ilusões, erros e crimes.
Artigo publicado no Segundo Caderno do Globo em 24/01/2016
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MANDATO CASSADO

O Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas decidiu cassar o mandato do governador José Melo (Pros) e de seu vice Henrique Oliveira (SDD) em sessão realizada nesta segunda-feira (25).
Por cinco votos a um, os juízes aceitaram as denúncias de compra de voto pela campanha de reeleição de José Melo, A acusação foi protocolada pelo seu adversário direto à época, o hoje ministro Eduardo Braga (Minas e Energia).
A decisão tem efeito suspensivo, o que garante a permanência de Melo no governo até o julgamento de recurso pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Melo foi acusado de se beneficiar de um esquema de compra de votos com dinheiro público obtido a partir de um contrato do governo com uma empresa de segurança durante a Copa do Mundo de 2014.
O julgamento foi retomando neste ano após cinco juízes já terem decidido pela perda do cargo do governador em sessão do último dia 16 de dezembro. A análise foi interrompida por pedido de vista do juiz Márcio Meirelles. Em seu voto nesta segunda, Meirelles afirmou não ter encontrado provas suficientes que justificassem a "pena capital da perda do mandato".
Em 2015, a coligação liderada por Eduardo Braga, a "Renovação e Experiência", denunciou José Melo por compra de votos e abuso de poder político. Durante o segundo turno da campanha eleitoral, a Polícia Federal apreendeu quase R$ 12 mil em um comitê de campanha de Melo, em Manaus.
Além do dinheiro, a polícia também encontrou notas de recibos que comprovariam o pagamento de benefícios em troca de votos. Segundo a denúncia, eleitores de Melo receberam óculos, reforma de túmulos, pagamento de festas de formatura e transporte para cidades do interior do Amazonas.
Os advogados de Eduardo Braga afirmam que o dinheiro usado para a compra de votos partiu de um contrato fraudulento entre o governo do Amazonas e uma empresa para realizar serviços de monitoramento eletrônico para atuar na organização da Copa em Manaus.
Segundo a denúncia, o Estado repassou R$ 1 milhão para a Agência Nacional de Segurança e Defesa, entidade fantasma com sede em Brasília e presidida por Nair Blair, presa pela Polícia Federal no mesmo comitê onde os quase R$ 12 mil foram apreendidos.
Antes do repasse de R$ 1 milhão do governo José Melo, a agência de segurança não apresentava nenhuma movimentação financeira em sua conta. O dinheiro, de acordo com a denúncia, foi repassado para a agência semanas após o fim dos quatro jogos da primeira fase da Copa que aconteceram em Manaus. A Folha não localizou o advogado de Nair Blair.
De acordo com o advogado de Eduardo Braga, Daniel Nogueira, dois saques foram feitos das contas da empresa dias antes do primeiro turno. Já a defesa do governador nega todas as acusações. "Este contrato não tem nenhum tipo de ligação com a campanha [eleitoral de 2014], não há nenhuma conotação eleitoral com o contrato. Não houve abuso de poder político e tampouco compra de votos", diz Yuri Dantas, advogado de José Melo.
Dantas afirma que vai esperar a publicação da decisão para decidir se entra com embargos de declaração no TRE ou um recurso ordinário junto ao TSE. Para o advogado, ambos os recursos têm efeito suspensivo sobre a decisão, assegurando a permanência de Melo no governo.
POSSE DE EDUARDO BRAGA
O advogado de Eduardo Braga diz acreditar que, se mantida a cassação pelo TSE, a Corte pode decidir pela posse do ministro de Minas e Energia no governo do Amazonas, mesmo com a minirreforma eleitoral sancionada pela presidente Dilma Rousseff que prevê a realização de uma nova disputa em casos de cassação.
"Há uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral dizendo que este dispositivo do segundo colocado na minirreforma não se aplica nas eleições que já tenham ocorrido. Por mais que haja um posicionamento doutrinário questionando este entendimento, eu prefiro acreditar na posição jurisprudencial do TSE", diz Daniel Nogueira.
Da Folha de S.Paulo, com colaboração de Fábio Pontes, de Manaus.
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PARABÉNS, SÃO PAULO 462 ANOS

O lampião de gás de Inezita Barroso não existe mais, porém, a dura poesia concreta ainda acontece na Ipiranga com a São João, como viu Caetano Veloso.
Seja nos versos da Saudosa Maloca ou no Trem das Onze de Adoniran Barbosa, São Paulo ainda é a Pauliceia Desvairada de Mário de Andrade, a terra das oportunidades, da garoa que acolhe tudo e todos.
Nessa cidade que tem dimensão de um país, não é mais possível subir na Rua Augusta à 120 por hora, mas ainda é possível fazer uma Ronda pela cidade como disse Paulo Vanzolini.
À todos os Operários de Tarsila do Amaral que contribuíram e continuam dando o melhor de si para a construção dessa cidade dia a dia, desejamos mais sucesso e progresso. Parabéns, São Paulo, 462 anos! 
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A INTELIGÊNCIA BURRA

Ruy Fabiano, Blog do Noblat
A declaração de Lula de que “não há vivalma neste país e no mundo mais honesta que eu” apenas enriquece o já de si colossal folclore desta era, que no futuro será estudada como um período de ocaso da inteligência e da sanidade mental.
Lula disse ainda, a uma plateia amestrada, de jornalistas subsidiados pelo estado (contradição em termos), que “pode até haver (gente tão honesta quanto ele), mas acho difícil”, numa demonstração comovente de humildade – e de cara de pau.
Tal declaração – dita no momento em que se avolumam os sinais de que comandou a maior rapina da história mundial - se soma a outras, igualmente insanas, como a da homenagem à mandioca, “uma das maiores conquistas da humanidade”, proferida pela inigualável Dilma Roussef, que também disse que o “vírus do mosquito zica (sic) é transmitido pelo ovo”.
Não vale a pena – nem é o caso, nem haveria espaço para tanto – examinar as declarações em si. São inúmeras. Quem quiser se aprofundar no tema, dispõe de dois livros bem ilustrativos: o “Dicionário Lula”, de Ali Kamel, e o “Dilmês, o Idioma da Mulher Sapiens”, de Celso Arnaldo Araújo. Recomendo. Serão indispensáveis ao historiador do futuro.
Essencial é indagar como – e por que – a burrice e a ignorância subiram ao pódio e governam o país há tantos anos. Se Dilma concluir o seu mandato, o que é rejeitado por mais de dois terços da população, terão sido 16 anos de petismo no poder.
O partido, criado em 1980, foi forjado, no final da década dos 70 nas universidades paulistas (USP, Unicamp, PUC etc.), por intelectuais esquerdistas. Tinha como vitrine o sindicalismo que emergia das greves do ABC, com Lula à frente.
Foi apresentado como novidade, independente, embora, como se vê, não o fosse. O instinto peleguista que hoje exibe faria corar Getúlio Vargas, Peron e Mussolini. “Nunca antes”, diria Lula.
Mas é interessante notar que foram justamente os intelectuais os responsáveis pela queda do padrão intelectual – e, em decorrência, moral – que o partido introduziu na política nacional. Firmou-se perante o público com um discurso moralista, acusatório, que fugia ao debate com o conhecido truque erístico de demonizar o adversário, desacreditando-o previamente.
Se não havia algum delito à vista, o partido tratava de fabricá-lo, por meio de militantes infiltrados no Ministério Público (a propósito, onde anda o procurador Luiz Francisco de Souza, o Torquemada?). O truque era eficaz: um jornalista amestrado publicava uma nota, segundo a qual havia “rumores” no Ministério Público de que determinado delito “teria” ocorrido no governo.
Com base na nota, Luiz Francisco (havia outros, mas ele se destacava) abria um processo investigativo, que era sucedido por um pedido de CPI na Câmara ou no Senado. Instalava-se a gritaria, ainda que nada tivesse ocorrido. Lula dizia que “quanto mais CPI, melhor” – o inverso de sua prática no poder.
Em resumo, eis a receita: acusação sem provas, demonização de adversários, desgaste do governo, afirmação do papel moralista e moralizador do PT.
Dois episódios, entre numerosos outros, ficaram célebres: as acusações de corrupção a Eduardo Jorge, chefe da Casa Civil de FHC, e a Ibsen Pinheiro (PMDB), ex-presidente da Câmara, que acabou cassado. Posteriormente, a farsa foi desvendada, mas os danos já tinham ocorrido – e eram irreparáveis.
Com essa estratégia predadora, o partido chegou lá, deixando muitas vítimas no caminho – inclusive dois cadáveres do próprio PT: os prefeitos Celso Daniel (Santo André) e Toninho do PT (Campinas). Lula, claro, não quer CPIs para esses casos.
“Um outro país é possível”, proclamavam os petistas. De fato, não mentiam: outro país se instalou – e é este: o da mandioca, do Petrolão, da ruína moral e econômica, soma nefasta de burrice, desonestidade e violência.
A violência tem algumas siglas: MST, MTST, CUT, MPL (Movimento Passe Livre), que contam com a colaboração das milícias dos Black Blocs, em plena atividade há dias no Centro de São Paulo. Foi preciso que uma crise econômica de proporções avassaladoras se instalasse para que a sociedade despertasse do torpor em que se encontrava, ocasionando as maiores manifestações de rua da história do país. Os escândalos mostraram a verdadeira face de Lula e de seus aliados.
Mas o ponto central é outro: o único foco de resistência à saída do PT do poder são justamente os intelectuais – escritores, artistas renomados, professores universitários. São os maiores (únicos) defensores da permanência da burrice no comando do país – burrice e desonestidade. Relativizam os escândalos, acusando a justiça e a imprensa (que em grande parte ainda minimiza o que ocorre). É espantoso que a burrice tenha como defensora a inteligência (ou o que deveria expressá-la).
Buscam argumentos convincentes e apenas mostram que foram contaminados pela burrice que patrocinam. Acusam a multidão de milhões que protestam – mais de dois terços do país -de “fascista, reacionária, coxinhas”.
Desprezam o conteúdo do protesto e negam evidências – inclusive a crise econômica e os escândalos, mesmo os confessados -, sustentando que a culpa da febre é do termômetro.
Há ao menos aí uma coerência: o PT sobrevive graças ao núcleo que o gerou – e degenerou: intelectuais esquerdistas e pelegos sindicais, que aparelharam as principais entidades da sociedade civil”: ABI, OAB, UNE, CNBB.
O povo caiu na real - e, se algum benefício teve, a crise econômica (made in PT) tratou de revogá-lo. Não era benefício, era um truque. O demagogo é sabido, mas não é sábio – e esperteza (viu Marina) é uma rede, mas sem sustentabilidade alguma.
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sábado, 23 de janeiro de 2016

GOVERNADOR OSTENTAÇÃO

Em plena crise econômica e com salários dos funcionários públicos atrasados, o governo de Minas Gerais planeja gastar R$ 718 mil em lagosta, queijos e outros produtos de alta gastronomia este ano.
As cozinhas dos palácios Tiradentes e da Liberdade, ambos gabinetes do governo estadual, e Mangabeiras, residência oficial do governador Fernando Pimentel (PT), receberão 75 quilos do queijo grana padano, de origem italiana (R$ 193 o quilo), 40 quilos de filé de lagosta (R$ 197 o quilo) e 140 quilos de carré de cordeiro, proveniente do Uruguai (R$ 150 o quilo), entre outros produtos.
Além da comida, o governo mineiro está gastando R$ 191 mil para receber flores para a decoração dos palácios. Foram quatro pregões para abastecer o ano de 2016 desses artigos.
O valor das compras dos pregões, realizados entre dezembro de 2015 e este mês, totaliza R$ 718 mil. Segundo o governo, esse montante é uma previsão e inclui gastos de outros poderes e para comitivas internacionais.
Na última terça-feira (19), Pimentel pediu desculpas em vídeo aos funcionários públicos de Minas Gerais pelo atraso e parcelamento dos salários das pessoas com remuneração líquida mensal superior a R$ 3.000.
"No ano passado, fizemos muita economia. Cortamos os gastos da máquina pública (,,,) ainda assim não foi possível evitar a medida (o atraso e parcelamento dos salários) que tivemos que anunciar", afirmou o petista no vídeo.
O déficit no orçamento do Estado este ano é estimado em R$ 8,9 bilhões. As receitas previstas são de R$ 83,10 bilhões frente a R$ 92,02 bilhões de despesas.
Outro lado
Por meio de nota, a assessoria do governador disse que as compras de gêneros alimentícios se "referem a contratos de fornecimento para os palácios Tiradentes, da Liberdade e Mangabeiras, para todo o ano de 2016".
"Os valores e quantitativos também são estimados porque a entrega dos produtos só ocorre de acordo com a necessidade. O processo, no entanto, não foi homologado ainda e está parado neste momento. Portanto, o recurso não foi utilizado este ano", diz a nota.
Ainda de acordo com o informe, "esses gêneros são utilizados na preparação de alimentação para autoridades, incluindo de outros poderes e até mesmo comitivas internacionais que utilizam os espaços para o trabalho diário. Sendo assim, o gasto é para manutenção da rotina de governo", informa a assessoria.
"A compra de flores atende às necessidades de organização de cerimônias formais, comuns às administrações públicas. Os pregões são realizados com quantidades estimadas. A utilização e o consequente gasto efetivo ocorrem de acordo com a necessidade específica de cada evento e solicitada pontualmente".
Veja alguns gastos do governo mineiro
Camarão – 180 kg - total R$ 36.360
Filé de lagosta – 40 kg – total R$ 7.880
Bacalhau - 260 kg - R$ 21.840
Carré de cordeiro uruguaio - 140 kg  - R$ 21.000.
Picanha maturada argentina - 250 kg - R$ 27.500
Queijo grana padano – 65 kg – R$ 14.475
Do UOL, colaboração de Carlos Eduardo Cherem, de Belo Horizonte.
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DIRCEU, O PERDULÁRIO

O delator Milton Pascowitch, que diz ter pago propinas a José Dirceu, afirmou em novo depoimento ao juiz Sérgio Moro que o ex-ministro gastava muito mais do que ganhava. Segundo ele, o escritório de Dirceu tinha contratos para receber entre R$ 20 mil e 30 mil mensais, mas chegava a gastar R$ 1 milhão por mês. Ao depor na quarta-feira, Pascowitch disse que Dirceu chegou a prestar consultoria, mas depois “desvirtuou” e voltou a agir como "um ser político", não como um consultor.

— As consultorias eram delegadas. Ele tinha contratos de R$ 20 mil, R$ 30 mil por mês, e despesas de R$ 800 mil, R$ 1 milhão — disse o delator, que fez pagamentos à empresa de Dirceu, a JD Consultoria, e quitou despesas pessoais do ex-ministro, como a reforma de uma casa em Vinhedo e a compra de um imóvel para uma filha dele.

Pascowitch disse que, a partir de 2007, Dirceu se tornou “absolutamente alheio” à administração de sua consultoria, que ficou a cargo do irmão dele, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva.

O delator disse que repassava ao escritório do ex-ministro dinheiro de propina de contratos da Petrobras, pois Dirceu havia participado da indicação do ex-diretor de Serviços da estatal, Renato Duque, condenado na Lava-Jato. Ele contou que chegou a dizer a Dirceu que achava absurdo ele não saber quanto iria gastar dali a 30 dias. Disse que a empresa de Dirceu chegou a ter um administrador, cujo trabalho ficou inútil devido à injunção política. Para Pascowitch, não adiantava ter administrador se não se sabia “quanto entra” de dinheiro nem “quanto vai sair”.

O delator reafirmou que parte do dinheiro repassado ao ex-ministro foi utilizado para pagar uma casa para a filha de Dirceu.

Na opinião de Pascowitch, Dirceu não tinha qualificação para administrar uma empresa. Foi Dirceu, segundo o delator, quem autorizou também que fossem feitos pagamentos diretos de R$ 30 mil, mensalmente, a Luiz Eduardo e Roberto Marques, assessor do ex-ministro conhecido como Bob.

— Se eles faziam conosco, imagino que fizessem com outras empresas também.

O juiz Sérgio Moro negou pedido feito pelo advogado de Dirceu para que ele participe das audiências em que são ouvidos os delatores e outras testemunhas do processo.

O Globo
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A HORA DA VERDADE

Da Veja
Um truque recorrente na carreira política do ex­-presidente Lula é reescrever a história de modo a exaltar feitos pessoais e varrer pecados para debaixo do tapete. Mas os fatos são teimosos. Quando se pensa que estão enterrados para sempre, eles voltam a andar sobre a terra como zumbis de filmes de terror. O mensalão, no plano mestre de Lula, deixaria de existir se fosse negado três vezes todas as noites antes de o galo cantar. O petrolão, monumental esquema de roubalheira na Petrobras idealizado, organizado e consumado em seu governo - e, segundo testemunhas, com reuniões no próprio gabinete presidencial -, entraria para a história como mais um ardil dos setores conservadores da sociedade para impedir o avanço dos defensores dos pobres. Nem o mais cego dos militantes do PT ainda acredita nessas patacoadas que afrontam os fatos. Sim, os fatos, sempre eles. O tríplex de Lula no Guarujá é outro desses fatos que o ex-presidente esperava ver se dissipar no meio do redemoinho. Mas o tríplex está lá com seu elevador privativo e linda vista para o Atlântico, e vai continuar. De nada adiantou a pregação de Lula, na semana passada, para seu coro de blogueiros chapa-­branca muito bem remunerados com o dinheiro escasso e suado do pobre povo brasileiro: "Não tem uma viva alma mais honesta do que eu. Pode ter igual, mas eu duvido". Pode até ser que a alma não veja o que o corpo faz e se entretenha no engano, mas a opinião pública há muito tempo não se ilude mais com essas mandingas autolaudatórias de Lula.
Pelo tríplex que queria manter clandestino, Lula será denunciado pelo Ministério Público por ocultação de propriedade, uma das modalidades clássicas do crime de lavagem de dinheiro. A denúncia contra o ex-presidente decorre da investigação de fraudes em negócios realizados pela Bancoop, cooperativa habitacional de bancários que deu calote em seus associados enquanto desviava recursos para os cofres do PT. A Bancoop quebrou em 2006 e deixou quase 3 000 famílias sem seus imóveis, enquanto viam, inermes, petistas estrelados receber seus apartamentos. Em abril do ano passado, VEJA revelou que, depois de um pedido feito por Lula ao então presidente da OAS, Léo Pinheiro, seu amigo do peito condenado a dezesseis anos de prisão no petrolão, a empreiteira assumiu a construção de vários prédios da cooperativa. O favor garantiu a conclusão das obras nos apartamentos de João Vaccari Neto, aquele mesmo que, até ser preso pela Operação Lava-Jato, comandou a própria Bancoop e a tesouraria do PT. A OAS assumiu também a reforma do tríplex de 297 metros quadrados no Edifício Solaris, de frente para o mar do Guarujá, pertencente ao ex-presidente Lula e a sua esposa, Marisa Letícia.
A OAS desempenhou ainda o papel de "laranja" de Lula, passando-se por dona do tríplex. A manobra foi cuidadosamente apurada pelos promotores do Ministério Público de São Paulo, que trabalham a apenas quinze minutos de carro da sede do Instituto Lula. Durante seis meses, eles se dedicaram a esquadrinhar a relação entre a OAS e o patrimônio imobiliário dos chefes petistas. Concluíram que o tríplex no Guarujá é a evidência material mais visível da rentável parceria de Lula com os empresários corruptores que hoje respondem por seus crimes diante do juiz Sergio Moro, que preside a Operação Lava-Jato. Os promotores ouviram testemunhas e obtiveram recibos e contratos que colocam o ex-presidente na posição de ter de explicar na Justiça as razões pelas quais tentou de todas as maneiras negar ser o dono do tríplex. Para os promotores, as negaças de Lula configuram o crime de lavagem de dinheiro.
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UNIVERSO DOS ATAQUES

Da Época
Não eram nem 9 horas e Cesar já voltara para casa depois de envernizar o balcão de um bar, bico que lhe rendeu R$ 200 naquela manhã de dezembro. Entrou no imóvel de reboco aparente, na periferia de Sorocaba, interior de São Paulo, deu uma última olhada no Facebook e seguiu para o banho a fim de se desfazer do cheiro forte de óleo e resina. O quarto de Cesar é um refúgio privilegiado – “muito ajeitado”, nas palavras dele. Há uma cama box, videogame de última geração e até televisão full HD de 51 polegadas. Nada mau para os padrões da vizinhança. Ao ir para o banho e passar perto da janela da sala, estacou. “Mãos pra cima”, gritou o policial na rua, com a arma engatilhada na direção dele. Paralisado com o susto, Cesar não conseguiu raciocinar. Seus irmãos mais novos dormiam no sofá e acordaram num sobressalto. Com a ajuda de seis policiais e quatro promotores, o visitante inesperado revistou o quarto de Cesar, apreendeu seu notebook e seu celular. Só mais tarde, a bordo de uma viatura policial a caminho de um depoimento, o jovem de 27 anos descobriu o que o colocara naquela situação.
Cesar é um dos investigados pelos ataques racistas, em julho do ano passado, ao Facebook da jornalista Maria Júlia Coutinho, a Maju, do Jornal Nacional, da TV Globo. Ele administrava o hoje extinto Boring, um grupo do Facebook suspeito de ter orquestrado o crime. Trata-se de uma das dezenas de gangues virtuais que rivalizam entre si no submundo da internet – um universo belicoso em que o poder é medido pelo acúmulo de curtidas e comentários nas publicações do Facebook. A trolagem – jargão da internet para a publicação de conteúdos de humor, em geral depreciativos – é a munição usada por eles. Os grupos (um dos maiores deles chega a 65 mil usuários) se estruturam seguindo uma hierarquia militar. Um administrador equivale a um general; o restante dos membros, a soldados que devem obedecer a ordens. São comunidades fechadas. Para entrar, é necessária a autorização de um administrador ou um convite de quem já participa delas. “O Facebook virou um campo de batalha”, disse Cesar a ÉPOCA. “Os grupos fazem de tudo para ganhar fama, até mesmo cometer crimes.” Por trás dos ataques, estão jovens de classe média baixa, em geral menores de idade – a maioria com pouquíssimo traquejo social.
Ao longo do último mês, ÉPOCA conversou longamente com dezenas de participantes e organizadores desses grupos, além de se infiltrar nessas comunidades fechadas com um perfil falso. Encontrou ali uma terra sem lei, desconhecida para grande parte dos 99 milhões de usuários do Facebook no Brasil. Num rápido passeio virtual, não é difícil encontrar conteúdos ilegais dos mais variados tipos – de racismo e xenofobia até pornografia infantil. As imagens de adolescentes nuas são como troféus que garantem status a seus detentores. Funciona assim: um jovem que consegue um vídeo de uma menina sem roupa tira uma foto de um trecho que não exiba as partes íntimas. Ao publicá-lo, sugere um desafio como: “Se chegar a 700 curtidas, eu ‘explano’”, diz. “Explanar”, na gíria deles, é divulgar o vídeo na íntegra. Esse tipo de publicação gera engajamento e alça seus autores ao posto de líderes.
Trecho da reportagem de Época desta semana que já está nas bancas.
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O INIMIGO NÚMERO UM

Da Época
Nas últimas semanas, decisões da União Europeia e dos Estados Unidos deram a exata dimensão da força que ganhou no mundo o mosquito Aedes aegypti, um pequeno inseto que mede menos de 5 mm, pode ser reconhecido pelo seu corpo listrado em preto e branco e leva em sua picada o vírus zika, associado aos casos de microcefalia em recém-nascidos. A Europa fez um alerta recomendando vigilância de seus estados-membros diante da proliferação de casos da infecção no Brasil. Entre outras medidas, o bloco recomenda que países não permitam a doação de sangue por pessoas que passaram pelas áreas afetadas. Já o Centro de Controle de Doenças americano (CDC, na sigla em inglês) foi além e sugeriu, na sexta-feira 15, que grávidas que planejem visitar locais da América Latina com surtos de zika adiem a viagem. Para o Brasil, mais do que um duro recado, as notificações mostram como a incapacidade do governo em debelar uma epidemia que há anos é uma realidade em nossas terras transformou o Aedes em um supermosquito que ultrapassou fronteiras. Agora, somos os responsáveis pelo avanço da doença no mundo.
Diante dessa vergonhosa situação, que ameaça toda a população e compromete as futuras gerações, vide as centenas de bebês nascendo com microcefalia, o País enfrenta também mais um revés econômico, às vésperas do Carnaval e de sediar o maior evento esportivo do planeta, a Olimpíada, em agosto, no Rio de Janeiro. Muita gente está desistindo de vir para cá, principalmente as mulheres grávidas. Caso da brasileira Ana Paula Lima de Oliveira, 31 anos, moradora de Dublin, na Irlanda. Com 14 semanas de gestação e passagem comprada para 19 de fevereiro para Natal (RN), ela viria com o esposo e o filho de 2 anos. “Penso em cancelar, principalmente depois que soube que nos Estados Unidos os médicos desaconselham mulheres gestantes a ir ao Brasil”, diz. “Meu marido está bem inseguro, por ele já teríamos desistido.”
Não é novidade que o Aedes represente um grande perigo, mas as autoridades e a população negligenciaram o risco por décadas no passado. Ano após ano, o País registra aumentos recordes de dengue, com 2015 alcançando o patamar mais alto da série histórica: 1,6 milhão de casos. Hoje, o vírus transmitido pelo mosquito que causa mais medo é o zika, cuja infecção em grávidas pode fazer com que bebês nasçam com o cérebro menor do que o normal. Chamado de microcefalia, o mal causa deficiências motoras e mentais nas crianças atingidas. No verão, quando o calor e as chuvas se intensificam, cria-se a condição ideal para o Aedes, e as transmissões se multiplicam. Sempre foi assim, mas poucas medidas efetivas foram feitas para melhorar o quadro. “Para barrar esse avanço, precisamos do desenvolvimento de novas tecnologias e da adoção de ações continuadas, que não parem no frio”, afirma o infectologista Francisco Ivanildo de Oliveira Júnior, supervisor médico do ambulatório do Hospital Emílio Ribas, de São Paulo (SP). “Temos que declarar guerra ao mosquito.”
O que se esperava com os anos de experiência é que o Brasil estivesse minimamente preparado para o combate, agora que a situação se agravou. Infelizmente, não foi o que se viu. As ações colocadas em prática martelam fórmulas gastas e burocráticas. Infectologista e ex-diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Marcos Boulos considera que as campanhas feitas até hoje para combater a dengue não tiveram impacto na população. Prova disso é que, segundo levantamentos, nos últimos nove anos os criadouros continuam nos mesmos lugares: 80% estão dentro das casas. “Não conseguimos atingir as pessoas”, diz ele, que está à frente da Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Saúde de São Paulo. “Temos que fazer campanhas mais individuais, não adianta somente a presença do Exército, é preciso recrutar voluntários das comunidades”, diz. Para piorar ainda mais o quadro, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, que é médico e deputado pelo PMDB do Piauí, fez feio ao mostrar profundo desconhecimento sobre o zika e a realidade científica dos nossos dias. Disse, por exemplo, “torcer” para que mulheres peguem o vírus antes da idade fértil e que “sexo é para amador, engravidar é para profissional”. As gafes e a incapacidade de resolver o problema fizeram o Palácio do Planalto começar a transferir responsabilidades da pasta para outros setores da administração nacional, como a Casa Civil e a Defesa Civil.
E, infelizmente, o cenário só deve piorar daqui para frente. Recém-nascidos com microcefalia já estão lotando os hospitais da região Nordeste. Cerca de 80% viverão com convulsões, mas podem apresentar níveis de comprometimento muito diferentes no futuro, dependendo do tratamento ao qual tiverem acesso – que inclui neurologistas, oftalmologistas, fonoaudiólogos e fisioterapeutas, entre outros profissionais. A maioria dos especialistas consultados por ISTOÉ não acredita que o sistema de saúde dê conta do recado. “Alguns bebês devem morrer mais rápido, mas os que forem tratados podem viver muitos anos, pois um cérebro agredido, se estimulado precocemente, se recupera”, diz Maria Ângela Rocha, do setor de infectologia pediátrica do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, em Recife (PE). “Se o SUS não se organizar, crianças de famílias ricas vão ter respostas melhores do que as de famílias mais pobres.”
Outro horizonte sombrio é o das pesquisas em ciência básica, que poderiam oferecer portas de saída através da criação de vacinas e medicamentos. No entanto, falta investimento e sobra burocracia para os cientistas brasileiros buscarem o conhecimento necessário para vencer o zika (leia entrevista ao lado). “É importante que o combate ao mosquito seja feito, mas como política de redução de danos, já que nossas cidades são extremamente adequadas ao Aedes”, afirma o médico Artur Timerman, presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses. “Como a zona urbana é caótica, conta com saneamento precário e coleta de lixo inadequada, focar energias no mosquito é como enxugar gelo.” O desenvolvimento de vacinas demorará no mínimo de três a cinco anos, de acordo com o diretor do Instituto Butantan, que desenvolve a tecnologia mas ainda está na fase de testes com roedores. Apesar de investimentos pontuais feitos pelo governo durante a crise, laboratórios que deveriam estar operando a todo vapor estão sucateados e recebendo cada vez menos verbas para financiar seus estudos. “Não há no País uma cultura de se produzir grandes projetos em vigilância de saúde”, diz Boulos. “O que temos por enquanto são pesquisas muito básicas.” Com isso, os índices da doença tendem a disparar, atingindo entre 50 e 100 mil casos em cinco anos, de acordo com Timerman.
O descaso no passado, no presente e no futuro, somados à incapacidade de a população de cuidar de seu próprio quintal, forneceram as condições ideais para que o Brasil se tornasse um paraíso para o Aedes. O risco representado pelo inseto é altíssimo por se tratar de uma espécie de supermosquito capaz de transmitir várias doenças em diferentes ambientes, incluindo dengue, zika e chikungunya. Para piorar, ele é um animal cosmopolita que consegue habitar praticamente toda a faixa tropical da Terra, onde vive quase metade da população mundial. Até meados de 2015, os vírus passados pelo Aedes que causavam mais preocupação eram a dengue e o chikungunya, que podem ser fatais para os infectados. O zika era o primo pobre da família. Como em 80% dos casos não provoca sintomas, foi considerado inofensivo e não causou alarde à comunidade médica nem ao Ministério da Saúde ao ser identificado no Brasil, em maio.
Meses depois, em novembro, diante da explosão de casos de microcefalia no Nordeste, região mais afetada pelo zika, o vírus virou a principal hipótese pela má formação dos bebês e também foi associado à Sindrome de Guillan Barré (doença auto-imune que ataca o sistema nervoso). Desde então, as pesquisas avançaram e na útlima semana o Instituto Carlos Chagas, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do Paraná, revelou que ele é capaz de atravessar a placenta durante a gestação. A análise foi feita com material de uma mulher do Nordeste que sofreu um aborto após relatar sintomas da infecção. Desde que se tornou o inimigo público número um do Brasil, cientistas de todo o País têm avançado para colocar um ponto final na trajetória do Aedes e do zika, mas as pesquisas avançariam mais rápido caso as condições fossem mais favoráveis. Por exemplo, poderiam dar um empurrão nos experimentos com mosquitos transgênicos sendo feitos no interior paulista e descobrir de uma vez por todas se leite materno, sêmen e sangue são difusores do vírus, como se suspeita (confira outros estudos em desenvolvimento na entrevista ao lado).
Soma-se ao prejuízo incalculável representado pelas vidas perdidas e pelas famílias destroçadas a perda financeira representada por mais uma mancha na imagem do País em ano de Jogos Olímpicos. Como Ana Paula, a mãe que pensa em cancelar a viagem ao Brasil neste verão, outros mudarão seus planos após os alertas das regiões mais influentes do mundo. Aliado ao carnaval, que costuma reunir multidões de foliões em áreas dominadas pelo Aedes, como as capitais do Nordeste, o Rio de Janeiro e demais cidades litorâneas, o evento esportivo tem o potencial de espalhar a doença para os confins do Brasil e do mundo. “O zika se tornou um produto tipo exportação do Brasil”, diz o farmacêutico Gúbio Soares, da Universidade Federal da Bahia, um dos primeiros a identificar o vírus. “Ele pode contaminar turistas que venham para cá ou se espalhar por brasileiros no exterior.”
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sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

O ASCETA DE GARANHAUNS

“Se tem uma coisa que eu me orgulho, neste país, é que não tem uma viva alma mais honesta do que eu. Nem dentro da Polícia Federal, nem dentro do Ministério Público, nem dentro da Igreja Católica, nem dentro da Igreja Evangélica. Pode ter igual, mas mais do que eu, duvido.” Lula continua achando que o brasileiro é idiota. Reuniu ontem blogueiros amigos para um café da manhã em seu instituto e, a pretexto de anunciar que vai participar “ativamente” do próximo pleito municipal, aderiu pessoalmente – já o havia feito por intermédio de seu pau-mandado Rui Falcão – à campanha promovida por prósperos advogados e seus clientes, apavorados empresários e figurões da política, para desmoralizar a Operação Lava Jato, que procura acabar com a impunidade de poderosos corruptos.
Lula conseguiu escapar penalmente ileso do escândalo do mensalão e, por enquanto, não está oficialmente envolvido nas investigações sobre o assalto generalizado aos cofres públicos. Os dois casos juntam-se numa sequência das ações criminosas que levaram dinheiro sujo para os cofres do PT e aliados e “guerreiros” petistas como José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares para a cadeia.
O que é inacreditável é que, como presidente da República e dono do PT, Lula não tivesse conhecimento do mensalão e do petrolão que desfilavam sob seu nariz. Assim, é notável o atrevimento – talvez mais estimulado pelo desespero do que por sua índole de ilusionista – com que o personagem, que ficou rico na política, se apresenta como monopolista das mais prístinas virtudes.
Só mesmo alguém empolgado pelo som da própria voz e pelas reações da plateia amiga cairia no ridículo de se colocar como referência máxima e insuperável em matéria de honestidade. “Pode ter igual, mas mais do que eu, duvido.”
Apesar de inebriado com as próprias virtudes, Lula encontrou espaço para a modéstia – infelizmente de braços dados com a mendacidade, que alguns chamam de exagero retórico – ao se referir ao combate à corrupção. Fez questão de dar crédito a sua sucessora, deixando no ar a pergunta sobre a razão pela qual os petistas esperaram oito anos, até que o chefão deixasse a Presidência, para se preocuparem com os corruptos: “O governo criou mecanismos para que nada fosse jogado embaixo do tapete nesse país. A presidente Dilma ainda será enaltecida pelas condições criadas para punir quem não andar na linha nesse país”. E arrematou, falando sério: “A apuração da corrupção é um bem nesse país”.
Lula não se conforma, no entanto, com a mania que os policiais e procuradores têm de o perseguirem, obstinados pela absurda ideia fixa de que ele tem alguma coisa a ver com a corrupção que anda solta por aí: “Já ouvi que delação premiada tem que ter o nome do Lula, senão não adianta”. Ou seja, os homens da Lava Jato ou da Zelotes não vão sossegar enquanto não obrigarem alguém a apontar o dedo para o impoluto Lula. Mas, confiante, o chefão do PT garante que não tem o que temer: “Duvido que tenha um promotor, delegado, empresário que tenha coragem de afirmar que eu me envolvi em algo ilícito”.
Lula falou também sobre a fase mais financeiramente próspera de sua carreira política, quando, depois de ter deixado o governo, na condição de ex-presidente faturou alto com palestras aqui e no exterior patrocinadas por grandes empresas. Explicou que é comum ex-chefes de governo serem contratados para transmitir suas experiências ao mundo. Quanto a palestrar no exterior para levantar a bola de empreiteiras que para isso lhe pagam regiamente, Lula tem a explicação que só os mal-intencionados se recusam a aceitar: “As pessoas deveriam me agradecer. O papel de qualquer presidente é vender os serviços do seu país. Essa é a coisa mais normal em um país”.
De fato, é muito louvável que um ex-presidente da República se valha de seu prestígio para “vender” os serviços e produtos de grandes empresas brasileiras aptas a competir no mercado internacional. Resta definir quando essa benemerência se transforma em tráfico de influência.
“Nesse país”, porém, qualquer um que manifeste dúvidas em relação à absoluta integridade moral do asceta de Garanhuns é insano ou mal-intencionado.
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