Depois que vieram a público por decisão do Supremo Tribunal
Federal (STF), as delações dos marqueteiros João Santana e Mônica Moura
trouxeram dores de cabeça ao primeiríssimo escalão dos governos do Partido dos
Trabalhadores, incluindo os ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da
Silva e os ex-ministros Antonio Palocci e Guido Mantega.
Além de desmentidos da maioria dos citados, negando os
relatos dos outrora magos das campanhas petistas, os depoimentos de Santana e
Mônica também inspiraram notícias falsas.
Circula por redes sociais e sites simpáticos ao PT a lorota
de que Mônica Moura forjou os rascunhos de e-mails que anexou à delação como
provas. Os documentos comprovam que a marqueteira e Dilma de fato
compartilhavam uma conta do Gmail, a 2606iolanda@gmail.com, e por ela se
comunicavam sobre o andamento da Operação Lava Jato.
Segundo a delatora, para evitar rastreamento, os e-mails não
eram enviados, mas salvos na página de rascunhos. Assim, bastava acessá-los
para ler as mensagens, que depois eram apagadas. Em um dos e-mails apresentados
como prova, Dilma dá um aviso cifrado a Mônica e Santana de que a prisão deles
se aproximava: “o seu grande amigo está muito doente. Os médicos consideram que
o risco é máximo, 10. O pior é que a esposa, que sempre tratou dele, agora está
com câncer e com o mesmo risco. Os médicos acompanham os dois, dia e noite”.
O texto que acusa Mônica de fraudar as provas diz o
seguinte:
Google desmente Mônica Moura, e-mail foi criado em 22 de
fevereiro deste ano; prova é forjada
A prisão de Mônica Moura ocorreu no dia 23 de fevereiro de
2016. Porém a imagem mostra que o rascunho foi elaborado no dia 22 de fevereiro
desse ano. O Gmail mostra isso no rascunho. Esse serviço de e-mail não indica o
ano quando se trata de mensagens e rascunhos recentes.
A imagem poderia, sim, ter sido colhida no ano passado, mas
a foto de Mônica foi recortada para esconder a data do computador onde a imagem
foi criada: a barra de tarefas do sistema operacional, que é, sem dúvidas, o
Windows – devido ao navegador utilizado, Internet Explorer.
Portanto é evidente que Mônica Moura forjou essa prova no
intuito de ser beneficiada pelo acordo de delação, pois basta citar de alguma
forma o nome de Dilma Rousseff. Claro que basta, também, citar o nome de Lula,
mas quem se encarregou disso foi o marido da empresária, João Santana.
O tom conspiratório e o apego do autor do texto a detalhes
não resistem a uma passada de olhos pelo registro em cartório dos print screens
apresentados por Mônica Moura ao MPF. Veja abaixo o cabeçalho da ata notarial
registrada no 1º Tabelionato Giovannetti, em Curitiba, com trechos grifados em
amarelo por este blog (clique aqui e veja o documento na íntegra):
Como mostra o documento oficial, o próprio escrevente do
cartório, Felipe Pedrotti Cadori, acessou a conta de e-mail, abriu a página de
rascunhos e registrou as imagens às 15h14 do dia 13 de julho de 2016 – não há,
deste modo, como o rascunho ter sido salvo no dia 22 de fevereiro de 2017.
O dia 22 de fevereiro de 2016, quando a mensagem foi de fato
criada, coincide com a deflagração da Operação Acarajé, que decretou a prisão
de João Santana e Mônica Moura. “Vamos visitar nosso amigo querido amanhã.
Espero não ter nenhum espetáculo nos esperando. Acho que pode nos ajudar nisso
né?”, perguntou Mônica a Dilma no rascunho elaborado naquele dia.
É absolutamente falsa, portanto, a informação de que a
marqueteira forjou provas para incriminar Dilma Rousseff.
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