Delatora da Operação Lava Jato, Mônica Moura disse que pagou
R$ 200 mil com dinheiro de caixa 2 ao publicitário Jefferson Monteiro, criador
da personagem "Dilma Bolada", a pedido da ex-presidente Dilma
Rousseff.
Moura afirmou que durante a campanha de 2014 recebeu a
orientação para que pagasse Monteiro para ele reativar a página no Facebook e
fazer postagens favoráveis ao governo federal.
De acordo com Moura, mais de 1,4 milhão de pessoas seguiam a
"Dilma Bolada", o que era uma vitrine na campanha. Porém, no dia 23
de julho, no meio da campanha à reeleição, Monteiro retirou a página do ar,
relatou. Isso deixou Dilma "furiosa", segundo a colaboradora.
Ela contou ter sido procurada pelo então ministro Edinho
Silva (PT), atual prefeito de Araraquara (SP).
Segundo Moura, Edinho lhe disse que esse tema "teria
que ser imediatamente resolvido pela Polis" – a agência que ela tem como o
marido, João Santana –, "pois eles não tinham outro meio de sanar o
problema com a urgência necessária".
A publicitária afirmou que ligou para Monteiro e combinou
que um funcionário "o procuraria para resolver o assunto". O dinheiro
foi entregue em espécie no dia 29 de julho, narrou a colaboradora.
"Na ocasião, Mônica comentou com Edinho que estava
fazendo isso como um ato de boa vontade pois o contrato da Polis não previa
este tipo de responsabilidade", informa documento que consta da
colaboração premiada de Moura.
Documento enviado pela PGR (Procuradoria-Geral da República)
ao STF (Supremo Tribunal Federal) informa que a campanha de Dilma pediu, no
total, R$ 400 mil. Os outros R$ 200 mil foram pagos pela marqueteira Daniele
Fonteles, da agência Pepper, que trabalhava com o marketing da campanha nas
mídias sociais, segundo Mônica Moura.
A delação foi homologada no dia 4 de abril pelo ministro
Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), e se
tornou pública nesta quinta (11).
Moura também contou que arcou com os custos de camareira e
cabelereira de Dilma mesmo depois do fim da campanha presidencial de 2010.
Ela afirmou ter combinado com Anderson Dornelles, assessor
de Dilma, pagar R$ 4 mil por mês durante um ano, em espécie, "para esta
cabeleireira particular como forma de favor".
Segundo ela, outro hábito pessoal de Dilma foi financiado
pelos marqueteiros: o trabalho do cabelereiro Celso Kamura.
Depois da campanha de 2010, quando já tinha sido eleita,
Dilma queria manter os serviços para ocasiões importantes, informou a
marqueteira. No entanto, o Palácio do Planalto "não poderia arcar com
valor tão alto para o cabeleireiro, não tinha rubrica e nem tempo para superar
a burocracia", disse.
Assim, Dornelles procurou Moura e pediu que ela fizesse mais
esse favor, afirmou a delatora.
"Mônica Moura então pagou o cabeleireiro diversas
vezes, durante os anos de 2010 a 2014, de várias formas: na maioria das vezes
em dinheiro entregue em espécie no escritório do cabelereiro em SP, por um
funcionário, utilizando os valores recebidos por fora; em outras vezes
reembolsava a assessora da presidente, Marly, através de depósitos
bancários", informa o documento.
Os custos estimados com Kamura são entre R$ 40 mil e R$ 50
mil; cada diária do cabelereiro, incluindo deslocamento, cabelo e maquiagem no
Palácio da Alvorada custava em torno de R$1.500 e R$ 2.000, conforme consta no
material do Supremo.
"Esses favores eram prestados por se tratar de uma
cortesia a uma cliente importante para João Santana e Mônica Moura. Dilma
Rousseff, além de presidente, já havia feito com eles a campanha de 2010 e
existia a possibilidade de virem a fazer a campanha de 2014", afirmou Mônica
Moura.
OUTRO LADO
A reportagem entrou em contato com Jeferson Monteiro. Ao
telefone, ele disse que se manifestou na página de Dilma Bolada no Facebook. O
post mais recente informa: "Pelos meus cálculos, eu já teria que ter, no
mínimo, R$1,7 milhão de reais na conta: R$500 mil segundo a Revista Época, R$1
milhão segundo Marcelo Odebrecht e agora mais R$200 mil segundo Mônica Moura.
Alguém, por gentileza, me avisa onde que tenho que retirar a quantia porque
estou com o aluguel atrasado e o telefone cortado. Obrigado!"
Dilma Rousseff por meio de seus assessores divulgou nota na
qual diz que João Santana e Mônica Moura "prestaram falso testemunho e
faltaram com a verdade em seus depoimentos, provavelmente pressionados pelas
ameaças dos investigadores". A ex-presidente diz ainda que o fim do sigilo
das delações prejudicou sua defesa na ação que tramita no TSE (Tribunal
Superior Eleitoral).
Leia a íntegra da nota de Dilma:
"Sobre os depoimentos sigilosos de João Santana e
Mônica Moura, liberados na tarde desta quinta-feira, 11 de maio, a Assessoria
de Imprensa de Dilma Rousseff destaca:
1. Infelizmente, chega tarde a decisão do relator da Lava
Jato no Supremo Tribunal Federal, ministro Edson Fachin, suspendendo o sigilo
dos depoimentos de João Santana e Mônica Moura.
2. Há semanas, a defesa da presidenta eleita Dilma Rousseff
havia feito tal pedido ao Tribunal Superior Eleitoral, a fim de apresentar suas
alegações finais ao relator do caso das contas de campanha, ministro Herman
Benjamin.
3. A defesa foi prejudicada pela negativa do relator. Não
foi possível cotejar os depoimentos prestados pelo casal à Justiça Eleitoral e
na Lava Jato.
4. As contradições e falsos testemunhos foram vislumbrados,
apesar disso, pelo que foi divulgado amplamente pela imprensa, na velha
estratégia do vazamento seletivo dos depoimentos - uma rotina nos últimos
tempos.
5. Agora mesmo, os depoimentos são entregues à imprensa, mas
não repassados oficialmente à defesa da presidente eleita.
6. Dilma Rousseff, contudo, reitera o que apontou antes:
João Santana e Mônica Moura prestaram falso testemunho e faltaram com a verdade
em seus depoimentos, provavelmente pressionados pelas ameaças dos
investigadores.
7. Apesar de tudo, a presidente eleita acredita na Justiça e
sabe que a verdade virá à tona e será restabelecida."
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