segunda-feira, 3 de julho de 2017

UM SECRETÁRIO FUJÃO

O engenheiro André Mello reduziu a velocidade da sua BMW na rua Cerro Corá, no Alto da Lapa, ao perceber que o carro da frente pretendia entrar à direita na avenida Diógenes Ribeiro de Lima.
Nesse momento, o automóvel que vinha logo atrás, uma Mercedes-Benz, entrou com tudo na traseira do seu veículo, pelo lado esquerdo.
Irritado, o motorista responsável pela colisão disse que não pagaria pelo reparo e se recusou a fornecer seus dados pessoais. Foi embora dizendo a André que "procurasse pelos seus direitos".
De posse da placa do veículo, o engenheiro entrou na Justiça cinco dias depois (20 de outubro de 2016) e descobriu quem era o motorista anônimo. Tratava-se de Saulo de Castro, secretário de Governo e um dos principais auxiliares do governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP).
POLÊMICAS
Político de personalidade forte, Saulo foi secretário da Segurança Pública entre 2000 e 2006, época em que se envolveu num episódio inusitado. Parado no trânsito em razão de um bloqueio na rua, deduziu que os cavaletes haviam sido colocados pelos funcionários do restaurante onde pretendia jantar. Inconformado, acionou um grupo de elite da polícia que, com metralhadoras, espingardas e pistolas semiautomáticas, prendeu o dono e o manobrista do restaurante.
Algemados, ambos foram levados para a delegacia. Posteriormente, a polícia descobriu que a interdição, na verdade, fora realizada pela CET.
Acusado pelo Ministério Público de abuso de poder, Saulo foi absolvido, mas o manobrista entrou na Justiça contra o Estado em 2012 e obteve uma indenização de R$ 5 mil por danos morais. Responsabilidade que não coube à pessoa física do secretário, mas à Fazenda Pública.
À Folha, Saulo disse não ter sido notificado sobre a ação. "O Estado foi pessimamente representado. A responsabilidade pela defesa será apurada." Segundo ele, a indenização ainda não foi paga "porque os valores estão em discussão na Justiça."
A passagem de Saulo pela Segurança Pública foi marcada pelos ataques da facção criminosa PCC. Convidado a falar na Assembleia sobre o tema, Saulo envolveu-se em outra polêmica.
Questionado pelo deputado Ítalo Cardoso (PT), ele respondeu, agressivo: "Pare com esse tom de machão, você não é assim, rapaz". Processado por danos morais, foi absolvido.
ACIDENTE
Na ação movida pelo engenheiro, Saulo alegou ser vítima, e não o responsável pela colisão. "O acidente ocorreu por culpa exclusiva do condutor da BMW, que parou seu carro abruptamente quando percebeu que o da frente diminuiu a velocidade."
A defesa de Saulo disse que seu prejuízo (R$ 32.498,65) foi muito maior do que o do outro motorista, pois teve de comprar peças importadas, argumentação que não convenceu a Justiça. Saulo foi condenado a pagar uma indenização material de R$ 5.641,85 ao engenheiro, o que foi feito por sua seguradora.
"Foi uma batida de carro e as partes discordaram sobre a culpa. O caso foi levado ao juizado de pequenas causas e se chegou a um acordo para o pagamento", afirmou.
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