Editorial O Estado de S.Paulo
Palanque é uma tribuna da qual o político fala diretamente
ao povo em torno dele reunido. Nessas circunstâncias, é natural que seja usada
uma linguagem coloquial, popular, acessível a todos. É uma questão de adaptar a
mensagem, em sua forma, ao público-alvo. O conteúdo dessa mensagem, no entanto,
independentemente da forma por meio da qual é transmitido, precisa ser
verdadeiro. Mentir no palanque, na tentativa de conquistar apoio, é ludibriar a
boa-fé do ouvinte. Pois é mentir para o povo o que Lula e o PT vêm fazendo
desavergonhadamente na tentativa de antecipar a campanha presidencial.
“Desemprego bate recorde no Brasil. Falta de repasses fecha
universidades. Temer corta milhares do Bolsa Família. Reformas dificultam
aposentadorias e retiram direitos. Agora querem até retirar o seu direito de
escolher um presidente.” Essas deslavadas mentiras, proclamadas em tom
dramático por um locutor, estão no filmete de 30 segundos inserido pelo PT no
horário político na TV. Ao final, surge a presidente nacional do partido
nomeada por Lula, senadora Gleisi Hoffmann (PR): “O PT já demonstrou que é possível
crescer com democracia, combatendo as desigualdades e gerando empregos. Vamos
juntos defender o Brasil”.
O exemplo mais contundente da capacidade de proclamar
mentiras, numa hábil e emotiva linguagem popular talhada para levar convertidos
e desinformados ao delírio, foi dado no recente périplo eleitoral de Lula pelo
Nordeste.
Lula no Recife, ao lado de Dilma Rousseff: “Eles querem
acabar com o Bolsa Família. Querem acabar com o Minha Casa, Minha Vida. Querem
vender a Petrobrás. Querem acabar com o BNDES. Querem vender o Banco do Brasil.
Estão vendendo até a Casa da Moeda. (...) Se eles não sabem governar, por
favor, deixem quem foi eleita pelo povo voltar e terminar o seu mandato”.
Lula em Altos, Piauí, contando que num comício seu havia um
cidadão trabalhando com “uma maquininha de descascar laranja”: “Mandei comprar
meia dúzia de laranjas e comecei a chupar laranja e jogava fora o bagaço. Foi
quando vi que tinha umas crianças pegando os bagaços e comendo. Essa foi uma
imagem que eu...”. Com a voz embargada, Lula começa a chorar e não termina a
frase.
Lula recebendo o título de Doutor Honoris Causa na
Universidade Federal do Piauí, em Teresina: “Tem uma coisa de que eu me
orgulho, é o orgulho que o nordestino passou a ter de si mesmo depois que eu fui
eleito presidente da República. (...) Nunca antes nesse país um presidente da
República se reuniu com reitores. Eu, durante oito anos, todos os anos me reuni
com todos os reitores das universidades juntos”.
No encerramento da excursão nordestina, na capital
maranhense, São Luís, Lula já havia declarado, em evento anterior, que “um
presidente precisa ter claro para quem governa”, surpreendendo quem imaginava
que um presidente da República deve governar para todos. No comício final,
caprichou na repetição de uma peça de retórica populista que invariavelmente
deixa o público em êxtase. Após descrever detalhadamente a “apoteose” que viveu
em cada uma das cidades visitadas, Lula fez uma pausa dramática e concluiu:
“Estou cansado, mas estou feliz da vida. (...) Esse não é o cansaço da
covardia. É o cansaço da batalha, da labuta. E estou aqui, cansado, para dizer
para eles que se quiserem me derrotar que venham para a rua disputar voto”.
Fora do mundo da fantasia, tudo sugere que após a delação de
Antonio Palocci e de seu próprio depoimento, pela segunda vez, perante o juiz
Sergio Moro, quando se mostrou irritadiço e às vezes inseguro, num desempenho
inconvincente, Lula talvez esteja começando a se convencer de que o melhor
papel que poderá interpretar daqui para a frente será o de mártir. Poderá
contar sempre, é claro, com a devoção daqueles em quem desperta a fé cega. Mas,
se o caos político que ele legou ao País deixou muitos brasileiros perplexos
quanto ao futuro, pelo menos ajudou-os a saber exatamente o que não querem
mais.
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