sexta-feira, 17 de novembro de 2017

O CALOTE VENEZUELANO

A situação da Venezuela torna-se cada vez mais dramática à medida que Nicolás Maduro se sustenta no poder. A única chance de os venezuelanos voltarem a sonhar com um futuro de normalidade institucional, política e econômica repousa, necessariamente, na realização de eleições livres e limpas. Verdadeiramente livres e limpas, e não estes simulacros de eleições que só servem para passar um verniz de democracia sobre uma sangrenta ditadura, que só entre maio e julho deste ano matou 107 pessoas.
Somente candidatos eleitos diretamente pelo povo, tanto para o Poder Executivo como para o Poder Legislativo, podem, desde que desvinculados das nefastas ideias do chavismo, resgatar a Venezuela da espiral de infortúnios em que se encontra.
Além de suprimir as mais comezinhas liberdades e valores democráticos, como a existência de uma oposição livre, Nicolás Maduro arruinou a economia venezuelana a tal ponto que a crise de desabastecimento levou cidadãos a disputarem comida nas ruas das principais cidades do país. À violência estatal uniu-se a violência urbana, tornando a Venezuela, hoje, um dos países mais perigosos do mundo.
Na terça-feira passada, duas agências internacionais de classificação de risco, a Standard & Poor’s (S&P) e a Fitch, declararam o “default parcial” (calote) da dívida externa venezuelana e da PDVSA, a estatal do petróleo, após o inadimplemento de US$ 200 milhões em bônus globais. A ficha do país só foi parcialmente manchada, por enquanto, porque o total da dívida externa chega a US$ 150 bilhões. Nem uma nem outra agência, no entanto, descartam um calote total no próximo trimestre porque as reservas internacionais da Venezuela são muito baixas frente aos valores dos próximos compromissos do país.
“O default (total) é quase inevitável. É tarde demais para tentar uma reestruturação. Além disso, quem compraria uma dívida nessas condições?”, questionou Ludovic Subran, economista da seguradora Euler Hermes.
A declaração do calote é mais um fragoroso sinal do fracasso do regime bolivariano, que só não é capaz de enxergar – ou de admitir – quem dele faz parte ou dele se serve para alimentar as suas cantilenas domésticas, como é o caso, aqui no Brasil, do PT e de suas legendas auxiliares.
A crise econômica que culminou na recente declaração de calote parcial pelas agências de risco agravou-se a partir de 2014, quando o preço do barril de petróleo sofreu importante queda devido ao aumento da produção dos Estados Unidos, sobretudo nas áreas de xisto, e à redução da demanda pelo óleo na Europa e na Ásia. Membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), a Venezuela produz, aproximadamente, 2 milhões de barris de óleo cru por dia, dependendo, primordialmente, da exportação do petróleo para sustentar sua economia.
No início do ano, a Venezuela só conseguiu honrar os seus compromissos externos graças a financiamentos obtidos com a China, a Rússia e os Estados Unidos, paradoxalmente, o país escolhido por Nicolás Maduro como o “vilão” preferido para alimentar sua narrativa interna de sustentação no poder.
As sanções impostas ao regime venezuelano pelo governo de Donald Trump, em agosto, tornaram virtualmente impossível a obtenção de novos créditos para refinanciamento da dívida. Tanto a Standard & Poor’s como a Fitch sustentam em seus relatórios que esta foi uma das circunstâncias determinantes para a declaração de calote.
“As sanções americanas, provavelmente, resultarão em uma longa e difícil negociação com os proprietários de títulos”, declarou a S&P. No mesmo sentido, a nota da Fitch afirma que “o processo de renegociação da dívida da PDVSA será longo em razão das sanções impostas pelos EUA”.
A iminente moratória fará a Venezuela descer mais alguns metros além do fundo do poço. Só um governo democraticamente eleito e disposto a apaziguar contas e espíritos será capaz de resgatá-la.
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