Não é muito difícil o governo inventar uma história para
arrumar a bagunça que fez ao meter a mão nos preços da Petrobras, desde que
tome tenência. Mas:
1) esses disparates deixam sequelas, que se acumulam e têm
custos para a economia inteira;
2) Jair Bolsonaro faz fama de que é um caminhão
desembestado, que se move por caprichos, pinimbas e impulsos na estrada da
demagogia. Até agora, não funcionam os freios tutelares, de generais ou outros;
3) o presidente já prepara outros atentados contra seu
governo. Gente que não se ocupa de finanças, o povo em geral, acha que esses
colapsos de preços na Bolsa são brincadeirinha de especulador. Não é bem assim.
A venda em massa de ações da Petrobras é um aviso. A queda
do valor da empresa significa que os investidores não querem negócio com uma
companhia sujeita a controle de preços e outras tolices que reduzem lucros ou
causam dano ainda pior.
Caso a besteirada persista, o desconto no valor das ações
será maior, assim como vai aumentar o custo de a empresa levantar recursos no
mercado, de se financiar por empréstimos ou outros meios.
Arrazoado semelhante vale para a economia inteira, para o
custo de financiamento do governo (juros) e, por tabela, para as empresas do
país.
Mesmo com os tantos recuos do governo, bobagens e
incompetências frequentes em política e economia deixam sequelas: um dólar mais
caro, juros de médio e longo prazo mais altos, Bolsa mais barata, risco maior.
Em suma, fica mais caro fazer negócio. As empresas investem menos. Em resumo
simples, assim a economia cresce menos.
Já está acontecendo de novo.
O preço do diesel não foi o único dedaço de Bolsonaro na
Petrobras. O presidente prometeu investimento da petroleira em Israel, por
exemplo (apenas ele descobriu que haveria um maná de óleo na costa
israelense?). Já mexeu na periodicidade do reajuste do diesel. Vai se emendar?
Governo mais falido
Com jeito, o governo ainda pode atenuar esses estragos.
Falta combinar com Bolsonaro.
Está claro nos ministérios e claríssimo no Ministério da
Economia que, se não entrar um dinheirinho extra, o governo não vai ter como
pagar alguns serviços no fim deste ano. Sim, vai ter de parar atividades
sérias; algumas partes da administração já funcionam apenas no papel, motores
sem gasolina.
Mas Bolsonaro ainda pensa seriamente em anistiar dívidas de
ruralistas, algo em torno de R$ 11 bilhões, para ficar em apenas um exemplo de
tolice séria que vem por aí.
Gente graduada de vários ministérios diz que o Brasil já não
está pagando compromissos com organizações internacionais, por exemplo.
O investimento em obras vai cair dos cerca de R$ 53 bilhões
do ano passado para algo entre R$ 35 bilhões e R$ 40 bilhões neste 2019 (em
valores de hoje): a uns 40% do que era em 2014 (como proporção do PIB).
Se houver a graça para os ruralistas, vai haver asfixias e
necroses de partes da administração.
Todo o investimento federal em obras viárias (estradas etc.)
no ano passado ficou em R$ 10 bilhões, menos que o dinheiro da anistia dos
ruralistas. Cortar ainda mais obra em andamento é contraproducente e acelera a
ruína da infraestrutura. “Ou vão cortar submarino nuclear, aviões de combate?”,
pergunta um alto burocrata do governo sobre o orçamento de investimento ora
mais privilegiado, o da Defesa.
Ainda não é uma situação Rio de Janeiro. Mas já dá para
sentir o cheiro da maresia.
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