A Justiça Federal anulou nesta terça-feira (16) a concessão
de passaporte diplomático para o líder da Igreja Universal do Reino de
Deus, Edir
Macedo, e sua mulher, Ester Eunice Rangel Bezerra.
O juiz federal Vigdor Teitel, da 11ª Vara Federal do Rio de
Janeiro, deferiu um pedido de liminar, em resposta a uma ação popular, e
suspendeu os efeitos de uma portaria que garantiu o documento especial a
Macedo.
Na decisão, Teitel diz que a atividade no exterior de Macedo
como líder da Igreja Universal não significa “interesse do país” que justifique
a “proteção adicional consubstanciada no passaporte diplomático”.
“As viagens missionárias - mesmo que constantes -, e as
atividades desempenhadas no exterior não ficam, de modo algum, prejudicadas sem
a utilização do documento em questão”, complementa Teitel.
“Ante o exposto, defiro a liminar, para suspender os efeitos
da portaria de 12 de abril de 2019, que concedeu passaporte diplomático aos
réus Edir Macedo Bezerra e Ester Eunice Rangel Bezerra, até ulterior decisão”,
concluiu.
A portaria
que concedeu o passaporte diplomático a Macedo e sua mulher foi
assinada pelo chanceler Ernesto Araújo.
O documento especial tem validade de três anos.
Não é a primeira vez que Macedo recebe o benefício. De
acordo com o ministério das Relações Exteriores, o último passaporte
diplomático do líder da Igreja Universal havia sido concedido em
janeiro de 2014, com validade até o mesmo mês de 2017.
Antes disso, ele havia obtido o documento especial em 2006 e
em 2011.
A justificativa dada pelo ministério das Relações Exteriores
é que o líder da Igreja Universal desempenha um papel relevante para as
comunidades brasileiras no exterior.
"O ministério entende que, por serem líderes da Igreja
Universal do Reino de Deus, que beneficia, entre outras, comunidades
brasileiras em dezenas se países, os requerentes exercem atividade continuada
de relevante interesse para o Brasil, que exige numerosas viagens ao exterior e
justifica a emissão de passaportes diplomático em seu nome", afirmou a
assessoria de imprensa do Itamaraty nesta segunda-feira (15).
O documento diplomático garante uma série de facilidades
para o seu portador. Além de filas exclusivas em diversos aeroportos, ele dá
direito a isenção de visto de entrada em alguns países que têm acordo firmado
com o Brasil.
A prática de dar passaportes diplomáticos a líderes
religiosos remonta no Brasil ao período do Império, quando a religião oficial
era o catolicismo. Até meados dos anos 2000, no entanto, apenas representantes
da Igreja Católica tinham acesso ao benefício.
A partir de 2006, durante o governo de Luiz Inácio Lula da
Silva (PT), o Itamaraty passou a conceder o documento para até dois
representantes de cada religião, para seguir o princípio da isonomia.
A medida foi revista em 2016, já no governo Michel Temer
(MDB), quando o chanceler era José Serra (PSDB).
À época, o ministério fez uma consulta à AGU (Advocacia
Geral da União), e o órgão se manifestou contra a concessão de passaportes
diplomáticos para líderes religiosos. A AGU argumentou que o Brasil é um estado
laico e que a condição de líder religioso, "por si só", não configura
justificativa para o benefício.
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