Semanas tensas para Ernesto Araújo.
Barrado na porta do Salão Oval da Casa Branca pela entourage
do presidente, um vexame sem precedentes, e abalado pela saída do camarada
Ricardo Vélez, enviado aos leões pelo próprio Olavo de Carvalho, o ministro
trocou o sorriso dos deslumbrados por um ar de ressaca.
Como é habito entre os fracos, ele tem descontado o
nervosismo nos seus funcionários.
Entre os alvos consta Sérgio Amaral, respeitado servidor do
Estado que retornou à carreira para servir em Washington no governo Temer.
Curiosamente, o embaixador é a única testemunha sensata da
circense viagem presidencial, durante a qual Ernesto Araújo teve um memorável
pique de tensão emocional. Abruptamente despachado para São Paulo, Amaral terá
tempo para ponderar se os dois fatos estão interligados.
Nessa mesma semana, Mario Vilalva foi fritado na cadeira da
Apex. Entidade de utilidade questionada e cronicamente instrumentalizada para
benefício individual, ela quase terminou nas mãos de Paulo Guedes, que
pretendia acabar com a farra.
Os olavistas do segundo escalão resistiram ferozmente e
depois conspiraram para derrubar Vilalva, manifestando sedenta ambição em
assumir o seu comando, sabe-se lá com que objetivo.
Essas duas intrigas não se aproximam em gravidade à
intervenção para impedir a homenagem dos formandos do Instituto Rio Branco ao
grande patriota José Maurício Bustani.
Num ambiente de intimidação extrema por parte do governo
Bush, Bustani teve a coragem de enfrentar John Bolton, na altura subsecretário
para controle de armas e segurança internacional do governo americano, sobre a
artimanha criminosa de falsificar provas para justificar a invasão do Iraque.
Em outras palavras, ele está sendo punido pelo simples fato
de ser um desafeto do principal aliado americano do chanceler.
Volta e meia exageradas, as afirmações de que o governo
Bolsonaro é subordinado aos Estados Unidos devem ser sujeitas a exame crítico.
Mas Ernesto Araújo, sozinho, tem conseguido levar a definição de vassalagem a
outro nível.
As brigas internas poderiam ser um sinal de que o ministro é
o próximo na fila das exonerações. Vélez passou por turbulências semelhantes
antes de ser removido. Mas a comparação pode ser enganosa.
Sem sindicatos, professores e estudantes nas costas, Ernesto
Araújo vem cumprindo na perfeição o roteiro que lhe foi atribuído: perseguir os
quadros do Itamaraty, chegar aos limites do grotesco no revisionismo histórico
e siderar a comunidade internacional com o seu comportamento errático.
Essa dinâmica caótica na política externa tem acobertado a
inoperância do governo na agenda doméstica. Feito notável, raramente se
discutiu com tanta intensidade assuntos internacionais no Brasil.
Isso torna Ernesto, e a sua devoção despudorada a uma visão
de mundo única pela repulsa que suscita, insubstituível. As mentes sãs do
Itamaraty devem se preparar para continuar sofrendo em silêncio por mais tempo.
Tal como no espaço, ninguém vai ouvir gritos no Palácio.
Mathias Alencastro, pesquisador do Centro Brasileiro de
Análise e Planejamento e doutor em ciência política pela Universidade de Oxford
(Inglaterra).
Nenhum comentário:
Postar um comentário