Pelo visto, mesmo quem considerava a recuperação da economia
uma questão de torcer a favor ou contra o governo Bolsonaro, começa a jogar a
toalha. Os indicadores do trimestre ainda não estão consolidados, mas os sinais
são de que o PIB do período pode fechar com “crescimento zero” ou até
“crescimento negativo”. Aqueles eufemismos aos quais os técnicos gostam de
recorrer para amaciar a dura realidade da estagnação ou da recessão. Pior, a
essas alturas já se acredita que o ano está perdido.
A esperança, nesse caso, foi protelada para 2020. Exagero?
Há quem diga que sim, considerando-se que o governo, sensível a essa situação e
a seus desdobramentos políticos, ainda poderia adotar pauta específica para
injetar algum ânimo à economia. Essa aparente precipitação, porém, parece
ligada a uma preocupação em não repetir o que aconteceu no ano passado – quando
os primeiros meses foram de puro entusiasmo com a expectativa de um crescimento
nas vizinhanças de 3% e os últimos meses de pura decepção, com a confirmação de
que o resultado final do ano ficaria a um terço dessa marca. Por esse
raciocínio, é melhor se preparar desde já, para a aterrissagem ser mais suave.
Dois importantes indicadores agregados do comportamento da
atividade econômica comprovam que, para dizer o mínimo, a situação está
desconfortável. Diagnóstico reforçado pelas filas quilométricas de
trabalhadores à procura de um emprego e pela quantidade de lojas fechadas nas
ruas e nos shoppings das grandes cidades. Depois de uma alta de 0,3% em
janeiro, o Monitor do PIB da Fundação Getulio Vargas (FGV) apontou uma queda de
0,4% em fevereiro, que bateu na agropecuária, na indústria e no setor de
serviços. Desempenho definido pela FGV como “modo de espera”.
O mesmo movimento foi detectado pelo Índice de Atividade
Econômica do Banco Central, o IBC-Br. Fevereiro mostrou uma queda de 0,73%, a
maior em nove meses, desde a parada dos caminhoneiros, em seguida a uma redução
de 0,3% em janeiro. Na esteira desses resultados, ganha velocidade a descida
das projeções para o fechamento do ano. Embora a Pesquisa Focus, do BC, ainda
aponte um aumento de 1,95%, vários analistas já põem suas estimativas mais para
perto de 1%. E, se essas apostas mais conservadoras emplacarem, 2019 será o
terceiro ano consecutivo praticamente com o mesmo resultado medíocre – foi 1,1%
tanto em 2017 como em 2018 –, depois da longa recessão que engoliu 8% do PIB.
Se há quase um consenso de que a economia brasileira não tem
força suficiente para acelerar o crescimento neste ano, as recomendações para
mudar esse quadro têm divergências. Os devotos do liberalismo radical acreditam
que o crescimento só virá mais à frente, como consequência direta das reformas,
especialmente a da Previdência, e o “natural” restabelecimento da confiança dos
investidores. Na outra ponta estão os adeptos da tese de que será preciso
acionar imediatamente instrumentos afiados de incentivo à demanda, mesmo
levando-se em conta que alguns artificialismos, nessa direção, já tiveram sua
eficiência testada e reprovada em outros governos. Sem isso, não haverá
disposição de investimento, ainda que as reformas consigam vencer as
resistências do Congresso e sejam aprovadas em tempo razoável.
Cada vez mais, contudo, ouvem-se vozes em defesa da
combinação de duas coisas. Cuidar das chamadas mudanças estruturantes, mas
também vitaminar alguns setores, como o da construção civil e obras públicas,
para que eles garantam algum fôlego à atividade econômica, num prazo mais
curto. Aqui é o caso de perguntar: cadê o programa de reativação de obras
paradas, tão falado durante a campanha eleitoral?
Como se não bastassem as enormes dificuldades para se
identificar e aplicar as terapias indicadas para reabilitar a economia, há
ainda essa barafunda na política. Os três Poderes não se entendem e esticam a
corda da normalidade democrática. Em pouco mais de uma semana, o presidente
desautorizou, numa só penada, o superministro da Economia e a cúpula da
principal empresa do País, o Supremo ressuscitou a censura à imprensa e
desencadeou uma caça aos críticos nas redes sociais. E o Congresso se aproveita
da confusão, dita a pauta conforme seus interesses, expondo a extrema
fragilidade da articulação política do governo. Nesse cenário, quem se arrisca
a pôr dinheiro para valer – e para ficar – na economia brasileira? Um ano perdido,
“apenas”, talvez até seja lucro.
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