Entre a eleição e a posse, o presidente Jair Bolsonaro
desistiu de extinguir o Ministério do Meio Ambiente. Talvez fosse melhor ter
mantido o plano original. A nomeação de Ricardo Salles transformou a pasta num
playground da bancada ruralista. Ele atua como um antiministro, empenhado em
destruir o que deveria proteger.
A escolha do advogado paulista já foi uma provocação. Antes
de assumir o cargo, ele foi condenado por improbidade administrativa, acusado
de fraudar um plano de manejo para favorecer mineradoras. Fundador do grupo
Endireita Brasil, candidatou-se a deputado pelo Partido Novo, financiado por
fazendeiros e fabricantes de armas. Não se elegeu, mas arrumou uma boquinha no
governo do capitão.
Desde janeiro, Salles tem se dedicado ao desmonte do
ministério. Acabou com a secretaria de mudanças climáticas e apoiou a
transferência do Serviço Florestal Brasileiro e da Agência Nacional de Águas
para outras pastas.
O antiministro também se especializou em ameaçar e perseguir
servidores. Em fevereiro, promoveu uma demissão em massa no Ibama. Cortou as
cabeças de 21 dos 27 superintendentes regionais do órgão, responsável pelo
combate ao desmatamento.
Em março, transferiu a atuação do atacado para o varejo. Ele
exonerou José Augusto Morelli, fiscal do Ibama que autuou Bolsonaro por pesca
ilegal em 2012. O então deputado foi fotografado com a vara de pescar numa
estação ecológica, mas alegou que estava no aeroporto. A multa foi cancelada no
apagar das luzes do governo Temer.
Nos últimos dias, Salles radicalizou a caça aos servidores.
Abriu processo disciplinar contra funcionários do ICMBio que não compareceram a
uma reunião dele com parlamentares ligados ao agronegócio. A atitude levou o
presidente do órgão a entregar o cargo. Em nota, servidores acusaram o ministro
de trabalhar pela “destruição da gestão ambiental federal”.
O clima de intimidação tem produzido resultados. No início
do mês, o presidente do Ibama se dobrou à pressão e autorizou um leilão de
petróleo próximo a Abrolhos. Ignorou um parecer técnico que alertou para o
risco de um vazamento atingir o paraíso de corais. No país de Mariana e
Brumadinho, não parece exagero temer por uma nova tragédia em alto-mar.
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