Míriam Leitão, O
GLOBO
Quando a pandemia tiver passado, e a economia começar a
voltar ao normal, o número de desempregados vai aumentar muito. O país estará
com mais confiança, empresas que sobreviverem pensarão em investir e é nesse
momento que mais pessoas responderão sim à pergunta: “você procurou emprego e
não encontrou?” Dessa resposta sai o índice do desemprego. E hoje muita gente
não procura. Por causa da pandemia, da crise, da certeza de que não será
contratado. E, se não procura, não entra na estatística de desocupados. O
verdadeiro número se esconde em outros dados.
Ontem o IBGE informou que no trimestre terminado em maio a
média do desemprego ficou em 12,9%. O número é alto, mas significa 12,7 milhões
de brasileiros desempregados, 368 mil a mais do que no trimestre terminado em
fevereiro, portanto, antes da pandemia se instalar no país. No mesmo trimestre
do ano passado, o total de desempregados era 13 milhões. E há um ano a situação
não estava tão ruim quanto agora. Por isso é que a verdade do fosso que nos
aguarda se vê nos números laterais, e o tamanho do buraco será visto quando o
país estiver se sentindo melhor. Pessoas esperançosas sairão procurando emprego
e não encontrarão.
Quando setembro vier, pensa o economista Bruno Ottoni, o
número subirá. Ele acha que no terceiro trimestre é que será o fundo do poço.
Números ruins circulam em muitas planilhas, inclusive nas governamentais. Mas é
difícil saber ao certo.
O que se sabe hoje é que caiu em 7,8 milhões o número de
pessoas na população ocupada comparado com o trimestre móvel terminado em
fevereiro, e esse é o dado mais relevante. A população subutilizada chegou a um
número recorde: 30,4 milhões de pessoas. Os que estão em desalento, ou seja,
nem pensam em procurar emprego, aumentaram em 15,3%. São 5,4 milhões de
brasileiros. Vai somando. A situação está dramática.
Há números que parecem bons, mas não são: caiu a
informalidade para o menor percentual da série, 37,6%. Já foi mais de 40%. E
aumentou o rendimento real habitual em 3,6%. Em outro momento, isso seria sinal
de que informais passaram a ter emprego com carteira assinada e que estavam
ganhando mais. Infelizmente, contudo, eles são sinais de que o desemprego bateu
mais fortemente nos mais vulneráveis, explicou Ottoni. Quem não tem vínculo
está perdendo o emprego mais rapidamente. E os formais têm salários maiores.
Isso explicaria a aparente contradição. A massa real de rendimentos, ao
contrário do que afirmou ontem o ministro Paulo Guedes, caiu, como era de se
esperar.
O governo costuma se creditar ter poupado 11 milhões de
empregos, que é o número de contratos do mercado formal que foram atingidos
pelas Medidas Provisórias do emprego, a que formalizou a redução do salário e
da jornada, e a que permitiu a suspensão do contrato de trabalho. As MPs
ajudaram sim, mas não quer dizer que as empresas demitiriam todos os seus
empregados. E as que recorreram a esse expediente só manterão seus funcionários
se sobreviverem, evidentemente. Portanto, quando o governo falha,
miseravelmente, como tem falhado nas linhas de crédito para as micro, pequenas
e médias empresas, está ameaçando as empresas e os empregos.
O Brasil já estava mal quando veio a pandemia. É isso que
precisa ficar claro. Estava mal porque não tinha se recuperado da recessão
iniciada no governo Dilma, e que consumiu 7% do PIB entre 2015 e 2016. E estava
mal porque a recuperação estava perdendo o pouco de força que tinha quando veio
a pandemia. O Codace, da Fundação Getúlio Vargas, que mede os ciclos
econômicos, mostrou esta semana que a recessão começou já no primeiro
trimestre. Em outras palavras: o Brasil não estava decolando. O país estava com
dificuldade de manter o ritmo fraco de atividade quando foi atingido por um
meteoro.
O dado mais eloquente é o número absoluto de pessoas
ocupadas. É o menor da série histórica. São 7 milhões a menos do que há um ano,
e 7,8 milhões a menos do que antes da pandemia. Esse exército de desempregados
se junta aos 12 milhões de brasileiros que já não tinham emprego antes da
pandemia.
O Brasil tem vários trabalhos a fazer depois de vencer o vírus para superar os desequilíbrios do mercado de trabalho. A situação já era ruim antes e ficou muito mais grave com a queda brusca da economia nesta nova recessão. O remédio terá que ter a grandeza da crise.
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