Otimismo, neste início do ano, é apostar num crescimento econômico superior a 1%, retomar o ritmo anterior à pandemia e continuar correndo atrás da maior parte do mundo, sem afundar numa nova recessão. A recuperação em V prometida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, tirou o Brasil do poço onde havia entrado em 2020. Se houve algum ganho, foi muito modesto. No ano recém-terminado, com muita inflação, muito desemprego e consumo contido, o Produto Interno Bruto (PIB) deve ter aumentado 4,5%, segundo a mediana das projeções captadas na última pesquisa Focus, divulgada nesta segunda-feira pelo Banco Central (BC). Em 2022 a expansão econômica deverá ficar em 0,36%, de acordo com a mesma pesquisa. Mas até essa estimativa pode ser considerada rósea demais por muitos economistas fora da equipe de Guedes.
Os demais 16,7% projetam recessão. Para metade dos participantes, neste ano a inflação continuará acima da meta (3,5%) e só convergirá para esse ponto em 2023. Menor atividade, juros mais altos e maiores gastos federais empurrarão para cima a dívida pública, de acordo com 88,9% das projeções obtidas no setor. Para conter a inflação, o BC continuará elevando os juros e a taxa básica estará em 11,75% no fim do ano. Juros continuarão subindo também segundo a pesquisa Focus, mas a previsão, nesse caso, indica uma taxa de 11,5% no fim do ano.
Crédito mais caro dificultará o consumo e a retomada dos negócios e do emprego. O aperto das famílias, pressionadas pelo desemprego, pelo encarecimento dos bens e serviços essenciais e pela piora das condições de financiamento, é perceptível no desempenho do comércio varejista. É fácil entender por que as ações mais desvalorizadas em 2021 foram as de empresas do varejo, como o Magazine Luiza, a Via (dona de Casas Bahia e Ponto), os supermercados Pão de Açúcar e as Lojas Americanas. O desempenho dessas empresas na B3, a bolsa de valores, basicamente refletiu o empobrecimento da maior parte das famílias, em grande parte explicável pelas falhas da política econômica do poder central.
Uma das projeções mais otimistas – crescimento econômico de 1,2% em 2022 – foi divulgada no fim do ano pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
De acordo com o estudo, a economia brasileira deve ter avançado 4,7% em 2021. O PIB industrial, depois de ter diminuído 3,4% em 2020 e aumentado 5,2% no ano seguinte, deverá expandir-se apenas 0,5% em 2022, voltando ao padrão de mediocridade observado desde o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Inflação elevada, juros altos, amplo desemprego, insumos escassos e energia cara continuarão dificultando a atividade nos próximos meses, de acordo com o documento da confederação. Alguma melhora poderá ocorrer no segundo semestre.
Mas os desajustes ocasionados pela pandemia, como as falhas de suprimento de insumos, explicam apenas em parte as dificuldades da indústria. A crise ligada ao surto de covid-19 agravou problemas conhecidos há muitos anos, como o custo Brasil, a insegurança jurídica e as complicações burocráticas. A correção desses problemas dependerá, em grande parte, da estabilidade macroeconômica e de uma pauta de reformas.
As propostas de mudança apresentadas pela CNI são ambiciosas. Incluem, além de medidas para um crescimento econômico mais vigoroso, uma política destinada a restabelecer o dinamismo da indústria, um setor severamente enfraquecido nos últimos dez anos. Depois da reforma da Previdência, nada relevante se fez na pauta de modernização institucional. Sem plano, sem metas e sem programas típicos de governo, o poder central cuida dos objetivos pessoais de um presidente capturado pelo Centrão.
Nada mais natural, nessas condições, que expectativas de baixo crescimento e desajustes continuados em 2022. Na pauta oficial, votos de feliz ano novo só valem para o presidente, seus familiares e seus aliados.
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