Há semanas, uma apresentadora de TV informou que certo político foi "apanhado com a boca na botija". Bem, sendo a botija um vaso cilíndrico, de boca estreita, gargalo curto e uma asinha, que se usa para armazenar água, pode-se de fato ser apanhado com a boca nela. Mas, nesse caso, qual seria a notícia? Talvez a apresentadora quisesse dizer que o fulano foi apanhado "com a mão na cumbuca" —o que, isto sim, é comprometedor porque, enfiada a mão numa cumbuca para pegar indevidamente alguma coisa, é difícil tirá-la lá de dentro. É o que os políticos vivem fazendo e sendo flagrados, embora nada lhes aconteça.
A boca é mais usada para ser posta no trombone —"Beltrano botou a boca no trombone", para dizer que ele está esbravejando contra alguma coisa. Nunca houve no Brasil tantos motivos como hoje para se botar a boca no trombone, embora, por enquanto, com poucos resultados. Um presidente da República, por exemplo, "põe a cara no fogo" por um pilantra e, ao vê-lo apanhado com a mão na cumbuca, deveria pelo menos chamuscar-se. Mas outros pilantras se articulam para protegê-lo e quem fica com a cara vermelha, de ira e vergonha, somos nós.
E todos já dissemos um dia que "sicrano cuspiu no prato em que comeu". É uma expressão consagrada, que já teve muitas e ilustres variações. A melhor é a do cronista que, ao ser dispensado pela atriz com quem tivera uma história de paixão, comentou resignado: "Cuspindo no prato que te comeu, não é?". Quem são? Desista, não vou dar os nomes. Somente as iniciais: Rubem Braga e Tonia Carrero.
Pois uma nova variação acaba de surgir, lançada pela colunista do UOL Madeleine Lacsko. Ao saber que Jair Bolsonaro, desdizendo-se, humilhando-se, acapachando-se, vai apelar para a odiada TV Globo e descarregar nela o grosso de sua milionária propaganda oficial, comentou:
"Bolsonaro come no prato em que cuspiu."
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