O presidente da República corre para tentar compensar em menos de 90 dias o que a sua incompetência produziu em três anos e meio de mandato. A energia com que agora cobra empenho de ministros pela reeleição contrasta com a indolência de suas longas folgas no litoral e o desleixo na escolha de prioridades e quadros para a gestão.
Os berros e os palavrões típicos de suas conversas entre quatro paredes não terão o condão milagroso de transformar a realidade de dezenas de milhões de cidadãos que irão às urnas em outubro preocupados sobretudo com a economia.
Ações, como a de despejar bilhões de reais em cortes de impostos e aumentos de gastos no curtíssimo prazo, poderão melhorar a competitividade do candidato Jair Bolsonaro (PL). Mas, como toda atitude desesperada, essa que leva a maioria do Congresso a alterar a Constituição como quem troca de roupa também implica custos.
Parte da conta será assumida pelos próximos mandatários e paga após as eleições pelo contribuinte e pelos que mais dependem de serviços públicos, pois as prestidigitações populistas são fugazes. Mas uma outra parcela do fardo já pesa nas costas de seus patrocinadores.
O terremoto produzido nas últimas semanas sob as regras elementares da condução fiscal e do regime de preços alimenta uma violenta deterioração dos indicadores financeiros. Disparam a cotação do dólar e a percepção de risco de calote do Brasil. Os juros em todas as modalidades se elevam, e o patrimônio em reais se deprecia.
Decerto há uma variável internacional —o temor de uma reviravolta recessiva na economia global— a impulsionar a degringolada. A Argentina em nova agonia política e inflacionária também ajuda a piorar a reputação regional.
Não seria o momento recomendado, portanto, para o Brasil atirar-se a aventuras de irresponsabilidade fiscal. Tivesse Bolsonaro se portado condignamente ao longo do mandato, reforçando a credibilidade das instituições políticas e econômicas ao invés de erodi-la, as defesas do país contra a ressaca global estariam mais sólidas.
O presidente dificilmente teria atingido seus atuais níveis de impopularidade, inauditos para um postulante à reeleição. A boa governança do Congresso teria evitado os saques oligárquicos ao Orçamento, e o Bolsa Família teria sido desde a eclosão da pandemia ampliado e melhorado para amparar a metade mais pobre da população.
Como Jair Bolsonaro preocupou-se mais com passear de motocicleta, imprecar contra instituições da democracia e patrocinar agendas exóticas ditas conservadoras, deixou de governar para a maioria e tem sido punido por isso. Só lhe restaram desespero e improviso.
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