Mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.
A jornalista Vera Magalhães foi atacada pelo deputado Douglas Garcia. Filmando com o celular, o deputado acusou a jornalista de receber salário de R$ 500 mil para criticar Bolsonaro (uma falácia já esclarecida diversas vezes) e ainda a chamou de "vergonha do jornalismo brasileiro".
Se o deputado acha que há uso ilegal de verba pública, deve procurar os meios cabíveis para investigação. Deputado não assedia cidadão. Deputado não é influencer, que faz vídeo para ganhar like no Instagram. Deputado deve propor projetos de lei e fiscalizar o Executivo. Ou seja, deputado deve trabalhar.
O ataque faz parte do modus operandi bolsonarista em relação à imprensa e às mulheres. Bolsonaro já disse que não estupraria uma deputada porque ela é muito feia. Disse que uma repórter da Folha "queria dar o furo", imputando conotação sexual à atividade profissional. Estimulou o turismo sexual, falando que "quem quiser vir aqui fazer sexo com mulher, fique à vontade". Para ele, mulheres devem receber salários menores porque engravidam. Sem contar a famosa "fraquejada" porque teve uma filha. A lista é interminável.
Ao ser questionado, Bolsonaro sempre fala que é piada ou jeito de se expressar (mesma desculpa usada para a vacina que transforma as pessoas em jacaré e para a imitação grotesca de pacientes com falta de ar). Porém, assim como deputado não é influencer, presidente não é humorista. O chefe de Estado deve respeitar a liturgia do cargo e o princípio da moralidade. Por sinal, a partir desse princípio, a Justiça Federal condenou a União a pagar R$ 5 milhões de indenização por falas machistas de Bolsonaro.
Presidente não é humorista porque não governa para os fãs, governa para todos os cidadãos. O que um presidente fala e faz representa os valores da sociedade que governa e tem o poder de influenciar os governados. Queremos que o machismo seja valorizado e estimulado no Brasil? Essa é uma boa pergunta a ser feita na hora de eleger um governante.
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