O anúncio de que a Noruega retomará a ajuda financeira para a preservação da Amazônia é bem-vindo e carregado de simbolismo. Não se trata apenas da perspectiva de liberação de verbas do bilionário Fundo Amazônia, congelado desde o primeiro ano de governo do presidente Jair Bolsonaro. O que começa a se delinear, na verdade, é o fim de uma fase tenebrosa em que o Brasil virou pária ambiental perante o mundo.
Como noticiou o Estadão, foi o ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega, Espen Barth Eide, quem anunciou a intenção do país escandinavo de voltar a aportar recursos para a conservação da Amazônia. Ele fez isso já no dia seguinte à eleição do petista Luiz Inácio Lula da Silva para suceder a Bolsonaro a partir de 1.º de janeiro de 2023. Em entrevista à agência de notícias AFP, o ministro norueguês declarou estar ansioso para entrar em contato com a equipe do presidente eleito e retomar a “relação historicamente positiva entre Brasil e Noruega”.
Tal “ansiedade” pela volta do Brasil à cena internacional como interlocutor e protagonista no enfrentamento das mudanças climáticas transpareceu na forma como diversos líderes mundiais saudaram a eleição de Lula. Foi o caso, entre outros, do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden; do primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak; e do chanceler da Alemanha, Olaf Scholz. A Alemanha, juntamente com a Noruega, é doadora do Fundo Amazônia, iniciativa lançada em 2008 e cujos recursos já custearam ações de fiscalização, por parte de órgãos ambientais brasileiros, contra a devastação da Amazônia.
Em meio ao desmonte das políticas ambientais iniciado em 2019, o governo Bolsonaro extinguiu o comitê orientador do fundo, órgão responsável por definir as diretrizes e os critérios de aplicação dos recursos. Fez isso sem consultar os governos da Noruega e da Alemanha, que suspenderam as doações. Na época, com sua deselegância habitual, o presidente Bolsonaro enviou, por intermédio da imprensa, o seguinte recado à então chanceler alemã, Angela Merkel: “Pegue essa grana e refloreste a Alemanha, ok? Lá está precisando muito mais do que aqui”.
O resultado é que cerca de R$ 3,5 bilhões do fundo permanecem parados no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Enquanto isso, claro, o desmatamento aumentou. Sob Bolsonaro, o governo não apenas abandonou políticas ambientais, como abriu mão até de doações. Dinheiro que teria sido extremamente útil para projetos de conservação e desenvolvimento sustentável, contribuindo para manter em pé a Floresta Amazônica.
Não surpreende que a Noruega tenha anunciado a disposição de retomar a ajuda financeira ao Brasil no dia seguinte à eleição. Para marcar suas diferenças em relação a Bolsonaro na área ambiental, Lula da Silva sinalizou a disposição de ir à Conferência do Clima, a COP-27, nas próximas semanas, no Egito. O governo Bolsonaro ainda não acabou, mas a mera perspectiva de seu fim, em janeiro, já desanuviou o clima a respeito das atitudes do Brasil em relação às questões ambientais. O mundo agradece.
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