Fundador da OpenAI foi demitido e recontratado em dias, ao que tudo indica com base em temores incertos
Em novembro do ano passado, a americana OpenAI conquistou fama global ao lançar o ChatGPT, robô de bate-papo capaz de se comunicar de modo praticamente indistinto dos humanos. Foi o estopim para que, de uma hora para outra, a tecnologia promissora conhecida como inteligência artificial (IA) se tornasse assunto nas redes sociais, escolas, lares e bares. A façanha fez de Sam Altman, fundador e principal executivo da OpenAI, o rosto da nova tecnologia — e da empresa a startup mais badalada, valorizada e invejada do mundo.
Um ano depois, a OpenAI voltou a surpreender, desta vez pela confusão. Há pouco mais de duas semanas, o conselho de administração demitiu Altman sem dar explicações. Quatro dias depois, quando mais de 700 funcionários ameaçavam pedir demissão para acompanhá-lo noutro empreendimento, a empresa voltou atrás. Altman retornou ao comando e houve mudanças no conselho. Ninguém entendeu direito o que tinha acontecido.
Uma disputa de narrativas tenta explicar o imbróglio na OpenAI. Para alguns, foi um embate entre autoproclamados idealistas, preocupados com a segurança da tecnologia (os ex-integrantes do conselho), e quem está menos alarmado com potenciais efeitos negativos e deseja desenvolvê-la rápido (Altman e seus apoiadores). A valer uma versão plausível, a OpenIA avançou no desenvolvimento da inteligência artificial geral (IAG), meta teórica em que computadores executarão qualquer tarefa intelectual humana — e os conselheiros ficaram assustados.
Diante de uma nova tecnologia, é fácil se perder em debates sobre como é maravilhosa ou ameaçadora. Nessas horas, é importante lembrar que a humanidade já passou por situações semelhantes. Avanços que permitem a máquinas substituir trabalho humano são tão velhos como a história da indústria. A eletrificação a partir do início do século XX revolucionou a produção nas fábricas e a vida em sociedade. A exploração do petróleo transformou o transporte, a produção agrícola e o modo como vivemos. A própria tecnologia digital e de comunicação provocou mudanças radicais na organização da sociedade, com efeitos até na política.
A cada nova transformação, novas regras e instituições foram criadas para garantir que as tecnologias fossem usadas em benefício da maioria. Com a IA não poderá ser diferente. Algoritmos precisam ter o bem-estar humano como bússola, elevando a produtividade do trabalho, aumentando a qualidade de pesquisas ao sugerir parcerias entre acadêmicos de perfis complementares ou produzindo informações melhores para seres humanos tomarem decisões. Garantir que isso ocorra não é tarefa de idealistas, presidentes de startups como a OpenAI ou das gigantes do Vale do Silício. O lançamento do ChatGPT em 2022 mostrou ao mundo o potencial da IA. As empresas devem continuar a ter a liberdade e os incentivos para desenvolvê-la. Mas o drama da demissão inesperada e recontratação a jato de Altman também tornou evidente a necessidade de governos regularem o uso da tecnologia.
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