segunda-feira, 28 de outubro de 2024

ELEIÇÃO DE 2024 FOI A ÚLTIMA PÁ DE CAL NO ENTERRO DO PSDB

Camila Rocha, Folha de S. Paulo

Partido foi atropelado pelo bolsonarismo e, desde então, nunca mais conseguiu se recuperar

Os resultados das eleições de 2024 foram a última pá de cal no enterro do PSDB. O partido já havia sofrido perdas significativas nas eleições de 2022. Em uma federação com o Cidadania desde o último pleito nacional, as siglas que, em 2018, elegeram 37 deputados federais, perderam 19 parlamentares. Considerando apenas o resultado dos tucanos, a redução foi de 29 deputados para 13.

No Senado, o partido nunca havia tido menos de 10 integrantes desde 1990. Porém, em 2018 o número caiu para 8, e, em 2022, foi reduzido pela metade. Nos anos seguintes, a migração dos senadores Alessandro Vieira (SE), Mara Gabrilli (SP) e Izalci Lucas (DF) para outras legendas, fez com que o partido passasse a ter apenas um senador, Plínio Valério (AM), constantemente assediado por outras siglas.

Além disso, também houve uma redução histórica no número de governadores. Entre 1994 e 2010 os tucanos contaram com ao menos seis governadores, hoje são apenas três. Agora, com a redução do número de prefeituras, o fim da sigla é inevitável.

Em 2008 o partido contava com 786 prefeituras, em 2012 o número oscilou para 707, e, em 2016, ano do impeachment de Dilma Rousseff, subiu para 806. Desde então, a queda foi acentuada. Em 2020 foram 535 prefeituras, e neste ano, o número caiu para 273.

No estado de São Paulo, o partido lançou 65 candidaturas para a prefeitura, na eleição passada, sob a gestão de João Doria, haviam sido 400. Nas capitais, o resultado dos tucanos não poderia ser pior.

Apesar de ter lançado sete candidatos para disputar capitais, nenhum deles chegou sequer ao segundo turno, o que não ocorria desde a fundação do partido em 1988. Na cidade de São Paulo, berço político do partido, José Luiz Datena obteve um resultado pífio, com apenas 1,84% dos votos. Além disso, o PSDB não foi capaz de eleger um único vereador na cidade.

Após abraçar o antipetismo como principal bandeira, e engrossar as fileiras daqueles que demandaram o impeachment de Dilma Rousseff, o partido foi atropelado pelo bolsonarismo. E, desde então, nunca mais conseguiu se recuperar.

Não deixa de ser uma infeliz simbologia que, após a morte de Bruno Covas, neto de um dos principais fundadores do partido, seu vice, Ricardo Nunes, tenha recebido o bolsonarismo de braços abertos.

Com a vitória de Nunes, não só o vice-prefeito da cidade será um coronel bolsonarista, como a Secretaria da Educação, hoje ocupada por um tucano, também deve cair na mão da extrema-direita. Com orçamento estimado em 22 bilhões de reais, a Secretaria da Educação não apenas possui mais recursos do que outras áreas, mas ocupa lugar de destaque na cruzada reacionária promovida pelo bolsonarismo.

Se historicamente a esquerda brasileira entrou em inúmeros conflitos com o PSDB por conta da adesão da sigla ao credo neoliberal, no campo da defesa da democracia e dos direitos humanos houve muitas convergências. Agora, o partido que foi fundado em meio à Assembleia Constituinte de 1988 como representante da modernidade contra o atraso, chega ao fim sepultado por velhos e novos atrasos.

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