Com seu partido do senso comum, ex-prefeito paulistano
tem vitória eleitoral e vai assumindo posição de pivô
No balanço de perdas e ganhos das eleições municipais, Gilberto
Kassab tem aparecido consensualmente como um grande vitorioso. Logo
após a divulgação dos resultados do segundo turno, o professor Bruno
Reis, numa
participação na TV Folha, comentou que o ex-prefeito de São Paulo vem
se dedicando desde início da década de 10 à criação do que seria um novo
partido "pivotal" no Brasil, uma sigla que de certa forma possa
recriar no futuro a função do MDB no
passado.
O termo pivotal, muito usado em língua inglesa, nos remete à
ideia de alguma coisa que funcione como um eixo central.
Não foi por acaso, portanto, que na ocasião do lançamento da
legenda, Kassab —ao lado de nomes como Kátia Abreu e
Guilherme Afif Domingos— tenha se saído com a sempre lembrada declaração:
"Não será de direita, não será de esquerda, nem de centro. É um partido
que terá um programa a favor do Brasil, como qualquer outro deve ter".
A definição, que nega ou tenta escapar dos
pontos cardeais históricos da política, foi motivo de justificáveis gracejos.
Soou, afinal, como espécie de piada pronta na geleia geral do pluripartidarismo
brasileiro, a levantar suspeitas sobre mais uma legenda de aluguel ou destinada
a faturar no balcão da fisiologia, onde apoios são comprados e vendidos a cada
nova eleição.
O PSD, no entanto,
com fraquezas e defeitos que existam, vem contrariando os prognósticos mais
pessimistas e ganhando terreno como uma espécie de partido do senso comum
brasileiro, sem bandeiras ideológicas marcantes e discursos inflamados,
guiando-se por seu ideário básico favorável à liberdade econômica, ao direito
de propriedade, à sustentabilidade,
à inovação tecnológica,
à transparência e eficiência da administração pública e às liberdades
individuais.
A agremiação de Kassab foi a que mais conquistou prefeituras
nas eleições municipais. Além disso, foi ele "pivotal" em São Paulo,
como secretário e espécie de coach político do governador Tarcísio
de Freitas. Com os pés em duas canoas, como se diz, mantém ministérios no
governo Lula e
procura esfriar os ânimos e deslocar a direita radical. Pretende construir, e
vai se aproximando disso, uma representação política menos exaltada para o
establishment e as classes emergentes, que em grande parte se jogaram nos
braços de Jair
Bolsonaro em 2018.
Atribui-se a Kassab a avaliação de que Tarcísio deveria
evitar o risco de enfrentar Lula em 2026. Sua reeleição em São Paulo, vista de
hoje, são favas contadas, o que fortaleceria sua posição para 2030. É claro que
o pós-Lula seria o palco adequado para o sonho apoteótico de Kassab. Mas a
dinâmica política nem sempre favorece cálculos tão alongados. Tudo dependerá
dos sinais da capacidade de Lula vencer e até do potencial de quem, senão
Tarcísio, venha a ser o nome da direita.
Lula, apesar do natural desgaste, poderá colocar-se em
posição de favorito. Para isso, contudo, terá de ganhar mais popularidade e
superar logo o persistente negacionismo fiscal alimentado por seu partido. A
ver o que a aventada proposta de uma PEC apresentará de fato. Se o governo não
patrocinar um plano crível de contenção de gastos vai perder a queda de braço
com o mercado e pode ser engolfado por uma crise de confiança.
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