Não se nota motivação na transferência
da Secretaria Especial de Cultura para a pasta do Turismo, recém-promovida,
além de nova mostra de desprezo do presidente Jair Bolsonaro pelo setor —ou por
aquilo que ele julga ser o setor.
Ao que parece, o alcance da visão das hostes bolsonaristas
sobre a política cultural não vai além de confrontar artistas e intelectuais
simpatizantes da esquerda, supostamente em razão de generosas verbas do
patrocínio estatal.
Assim, tratou-se de rebaixar a secretaria o ministério
dedicado à área, providência de importância mais simbólica do que
administrativa. Pior, a estrutura foi acomodada de início na esdrúxula pasta da
Cidadania, um saco de gatos de programas sem maior relação entre si sob o
comando do conservador Osmar Terra (MDB).
Na sequência houve uma série de iniciativas, em diversas
instâncias do Executivo, no sentido de boicotar eventos e obras a partir de
preconceitos ideológicos tacanhos.
O primeiro secretário de Cultura, Henrique Pires, deixou
o cargo em agosto, quando o ministério suspendeu edital para projetos de TV
que contemplava séries com temática LGBT. Seu substituto, o economista
Ricardo Braga, durou poucas semanas no governo.
Assume o posto agora Roberto Alvim, no que evidencia outro
ato de revanchismo contra expoentes do mundo artístico que Bolsonaro vê como
antagonistas. O ex-diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte, afinal,
ganhou triste notoriedade com um ataque
recente à atriz Fernanda Montenegro.
O vexame se completa com a transferência da secretaria para
o Turismo, ministério inexpressivo no qual se equilibra aos trancos e barrancos
Marcelo Álvaro Antônio, investigado por envolvimento no esquema de candidaturas
de fachada do PSL —sigla da qual o presidente busca agora se afastar.
Esquece-se, no mais das vezes, que a Cultura não se limita a
subsídios tributários a produções em música, cinema ou teatro.
Seu aparato inclui, por exemplo, o Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, o Instituto Brasileiro de Museus e a Fundação
Biblioteca Nacional, que juntos dispõem de R$ 850 milhões no Orçamento deste
ano —o suficiente para mais que duplicar as verbas da pasta que vai
absorvê-los.
Haveria sentido, teoricamente, na combinação entre políticas
de valorização do turismo e da cultura. Não parece ser o caso, porém.
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