Em dez caudalosos parágrafos, o manifesto
de fundação da Aliança pelo Brasil, partido que pretende dar sustentação
personalista a Jair Bolsonaro, não toca no propalado liberalismo econômico
associado ao governo do presidente.
Não é casual. Bolsonaro nunca foi um liberal ao longo de sua
vida partidária em oito siglas até aqui. O acoplamento de economistas ortodoxos
à sua equipe serviu mais como fiador para os mercados de sua aventura
presidencial do que como prova de conversão.
Textos como esse não significam muito na prática. A Aliança,
nome que remete à agremiação de apoio ao regime militar, tem em seu programa
ênfase na identificação com a liderança do presidente e sua criticada agenda de
costumes, e só.
Para
os fins colocados, é o que basta. Malsucedido na tentativa de tomar para si
o PSL que o hospedou para a campanha de 2018, Bolsonaro embarcou no primeiro
projeto de partido criado para uma família no Brasil moderno.
A fim de disputar a eleição municipal do ano que vem, a
Aliança tem menos de cinco meses para obter registro no Tribunal Superior
Eleitoral. Não
é fácil.
Não serão surpresa disputas judiciais por acusações de
fraudes com a ratificação cartorial de assinaturas, mas isso não impediu
políticos de ir em frente no passado, como Gilberto Kassab e seu PSD.
A diferença, a despeito do fato de que Bolsonaro emprega o
mesmo advogado que auxiliou o ex-prefeito paulistano na sua empreitada em 2011,
é que o presidente nada tem de agregador.
Decerto que as eleições de 2020 fomentarão uma concentração
do quadro de candidaturas, devido ao veto às coligações no pleito proporcional,
e nesse sentido compreende-se que Bolsonaro queira uma sigla para chamar de
sua.
Entretanto a jogada também favorece uma fragmentação ainda
maior da representação congressual —hoje há nada menos que 25 partidos na
Câmara, nenhum deles dominante em termos de bancada.
O antes nanico PSL tem hoje 53 deputados, o segundo maior
contingente após o PT, e aliados do presidente especulam uma Aliança com cerca
de 30 nomes na Casa.
Não é exatamente animador em termos de encaminhamento de
propostas ou para evitar movimentos contrários ao Palácio do Planalto, como
comissões de inquérito e convocações.
No presidencialismo brasileiro, é a caneta do mandatário
máximo que modula o jogo político. Isso tem mudado aos poucos, como a condução
pelo Parlamento da reforma da Previdência demonstra, e não será com um partido
mediano e radical que Bolsonaro terá a vida facilitada do outro lado da praça
dos Três Poderes.
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