Com a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal
(STF) ministro Dias Toffoli de adiar em seis meses a implantação do sistema do
juiz de garantias, que dividiria com o juiz de sentença os processos, não
apenas verifica-se que não há condições de incluir essa nova figura sem uma
ampla reorganização do sistema judicial brasileiro. Estamos novamente às voltas
com uma disputa entre os membros do STF, que já tem seis ministros
declaradamente a favor do novo sistema.
O ministro Luis Fux, que substitui em setembro Toffoli na
presidência do STF, é contra essa mudança e poderia acatar as ações de
inconstitucionalidade já a partir de domingo, quando assume interinamente a
presidência no recesso do judiciário.
O novo prazo dado por Toffoli para a implantação do juiz de
garantias, que considera “um avanço sem precedentes”, se esgota em julho, e se
tiver que ser prorrogado mais uma vez – o que é bastante provável – corre o
risco de não entrar em vigor tão cedo, ou nunca.
De saída, Toffoli limitou a atuação dos juizes de garantias.
Eles não atuarão em casos dos tribunais superiores e nem nos tribunais
regionais, de segunda instância. Também não serão parte de disputas nos
tribunais eleitorais. E só participarão dos novos processos, a partir da sua
implementação. Os processos em curso não terão essa nova figura jurídica.
Há também, a longo prazo, a possibilidade de mudar essa
maioria no plenário, pois em novembro aposenta-se o decano do STF, ministro
Celso de Mello, defensor intransigente do juiz de garantias. Um novo ministro,
a ser indicado pelo presidente Bolsonaro, será a favor do juiz de garantias ou
contra? O próprio presidente, daqui a seis meses, ou um ano, continuará a
favor?
O ministro Dias Toffoli cedeu às pressões da realidade e deu
a mão à palmatória ao adiar a criação do juiz de garantias. Pouquíssimas
pessoas acreditavam ser possível implanta-lo imediatamente, e desde o primeiro
momento a pressão foi muito forte.
Foi uma decisão correta do ministro Toffoli, que comprova
que a criação dessa nova figura jurídica foi no mínimo apressada. O presidente
Bolsonaro tinha indicações, dadas pelo ministro da Justiça Sergio Moro, de que
a criação do juiz de garantias era impraticável na atual situação, e dependia
de muitas mudanças, inclusive do Código de Processo Penal.
O mais correto teria sido lançar o debate, estudar os
detalhes e depois implementar, se fosse viável e realmente necessário. Vai se
passar pelo menos um ano para a medida sair do papel – se sair, pois, como
vimos, em um ano muita coisa pode mudar.
Juiz de garantias é uma boa medida, mas foi criado como uma
espécie de vingança contra a Operação Lava-jato, contra a relação do então juiz
Moro com os procuradores de Curitiba, e esta não é uma maneira correta de se
fazer mudanças desse naipe, com base na política. É difícil que dê certo.
Queda de braço
A greve contra a reforma da Previdência na França chega a seu 44º dia em pleno declínio, mas ainda com capacidade de provocar grande perturbação no cotidiano das pessoas.
A greve contra a reforma da Previdência na França chega a seu 44º dia em pleno declínio, mas ainda com capacidade de provocar grande perturbação no cotidiano das pessoas.
Ontem, cerca de 28 mil manifestantes em Paris, número
bastante abaixo do que já se registrou nos primeiros dias de greve, conseguiram
mais uma vez provocar um imenso engarrafamento na cidade, com grandes avenidas
fechadas ao tráfego.
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