Um cavaleiro se aproxima a galope, empunhando um escudo e a
bandeira do Brasil. Vestido de templário da Casa Turuna, ele freia o tordilho e
solta o brado retumbante: “Patriotas, venho de longe em sagrada missão!”.
“Contra os comunistas e traidores da pátria!”, prossegue, antes de partir ao
som de uma marcha militar.
O vídeo viralizou na sexta-feira, para orgulho do catarinense
Emílio Dalçoquio Neto. Herdeiro de uma transportadora de cargas, ele se
inspirou nas cruzadas para divulgar os atos governistas do dia 15.
“A ideia é mostrar que estamos numa guerra santa contra o
comunismo”, explica o catarinense de 54 anos. Para ele, quem fez piada com a
produção amadora não tem amor pelo país. “O vídeo incomodou, né? Comunista fica
nervoso mesmo”, provoca.
O empresário está ansioso pelas manifestações do próximo
domingo. O objetivo, ele diz, é acusar Legislativo e Judiciário de conspirarem
contra o presidente. “O governo é ótimo, mas não deixam o Bolsonaro trabalhar.
O Congresso e o STF estão contra os interesses do povo brasileiro”, esbraveja.
Dalçoquio afirma que o tribunal “vai ter problema” se barrar
os projetos do presidente. Perguntei se o problema incluiria o uso das Forças
Armadas, mas ele preferiu fazer mistério. “Não vou responder isso daí”,
desconversou.
O bolsonarista cultiva uma visão particular da História. A
exemplo do presidente, sustenta que o regime instaurado pelo golpe de 1964 não
foi um ditadura militar. “Isso é mentira, pô! Que ditadura é essa que tem
novela, Chacrinha, Sílvio Santos?”, questiona.
Ele reprova a Constituição de 1988 e admira o ditador
Augusto Pinochet, que comandou um regime sanguinário no Chile. “O Pinochet
resolveu o problema. Ah, matou três mil? É verdade. A versão da barata sobre o
Baygon é terrível”, ironiza.
Dalçoquio despontou do anonimato na greve dos caminhoneiros
de 2018. Ele foi flagrado incentivando motoristas a queimarem veículos, e sua
empresa foi investigada sob suspeita de promover um locaute.
“Quem estava coordenando a greve era o pessoal do MST. Era
para ter uma intervenção militar e provocar o cancelamento da eleição”,
despista.
Na época, ele já trocava mensagens com o atual presidente.
“Fui o primeiro a receber o Bolsonaro em Santa Catarina, em outubro de 2015.
Quase ninguém acreditava nele”, orgulha-se.
Na visão do empresário, a vitória do capitão salvou o país
da ameaça vermelha. “Nós estávamos a um passo de entrar para a Ursal. O único
que podia mudar isso era o Bolsonaro”, discursa.
Argumentei que a União das Repúblicas Socialistas da América
Latina só existe no mundo da ficção, mas ele se mostrou convencido do
contrário. “A Manuela Dávila, do PCdoB, disse que o Brasil estava indo para a
Ursal. Até o papa está fomentando isso. O papa também é comunista”, sentenciou.
Dalçoquio diz ter tirado dinheiro do próprio bolso para
incentivar a campanha do capitão. Quanto gastou? “Nem eu sei”, enrola. O
empresário não aparece na prestação de contas entregue à Justiça Eleitoral.
Depois da vitória, ele fundou o grupo de ultradireita Lux Brasil. Em janeiro, o
presidente o recebeu para uma sessão de fotos no Planalto.
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