Foi um espetáculo constrangedor, protagonizado pelo
presidente Jair Bolsonaro, a entrevista coletiva realizada na quarta-feira para
detalhar as ações do governo no combate ao coronavírus. Alguns de seus
ministros até tentaram esclarecer os jornalistas a respeito dos esforços para
lidar com a crise. Já o presidente só tinha uma preocupação: chamar a atenção
para si mesmo e capitalizar politicamente o desempenho do governo, que para ele
é ótimo. De quebra, usou a ocasião para, mais uma vez, atacar a imprensa.
No auge do cabotinismo, o presidente declarou, triunfante:
“Nosso time está ganhando de goleada. Duvido que quem vier me suceder um dia,
acho muito difícil, consiga montar uma equipe como eu montei. E tive a coragem
de não aceitar pressões de quem quer que seja. Então, se o time está ganhando,
vamos fazer justiça, vamos elogiar seu técnico, e seu técnico se chama Jair
Bolsonaro”. O mau português é o menor dos problemas de tal declaração, que
resume o grau de alheamento do presidente.
Até o momento em que resolveu aparecer com seus ministros
para prestar esclarecimentos sobre o que o governo estava fazendo contra a
galopante disseminação do coronavírus, Bolsonaro insistia que a crise era fruto
da “histeria” alimentada pela imprensa, mesmo quando já estava clara a dimensão
terrível da pandemia.
Diante da patente incapacidade de Bolsonaro para lidar com a
situação e cansados da fabricação diária de conflitos desde sua posse, os
brasileiros começaram a protestar, promovendo panelaços em diversas cidades.
Ademais, a popularidade do presidente nas redes sociais, outrora um território
que o bolsonarismo dominava, começou a derreter na mesma proporção em que
crescia a certeza da inépcia de Bolsonaro.
Certamente foram esses os motivos que levaram o presidente a
armar o circo travestido de “entrevista coletiva”, em que não faltaram nem
mesmo as máscaras protetoras que só devem ser usadas por quem apresenta os
sintomas da covid-19 ou é profissional da saúde, conforme instruções do próprio
Ministério da Saúde. Ou seja, não havia nenhuma necessidade de o presidente e
os ministros usarem as máscaras, a não ser que o objetivo fosse meramente
cenográfico – o que se pôde constatar diante das evidências de que nenhum deles
sabia direito como manuseá-las, acentuando o caráter picaresco do evento e, por
extensão, do desgoverno de Bolsonaro. São imagens que ficarão para a história.
Também ficará para a história a desfaçatez de um presidente
que usa um momento tão delicado da vida nacional para se promover e para
inventar inimigos, em especial a imprensa, com indisfarçáveis propósitos
autoritários. Na entrevista em que deveria detalhar seus planos contra a
pandemia, Bolsonaro gastou energia para tentar jogar a opinião pública contra
jornalistas e mentiu mais de uma vez – ao dizer que estava preocupado com o
coronavírus desde fevereiro; e ao negar que tenha convocado manifestações
contra o Congresso mesmo diante da recomendação do Ministério da Saúde de que
não houvesse aglomerações. De quebra, aproveitou o ensejo para convocar seus apoiadores
a fazer um panelaço para se contrapor a mais um protesto contra seu governo,
ocorrido anteontem.
Tudo isso em meio à devastação social e econômica causada
pela pandemia, que deixa aflitos todos os brasileiros, em especial os mais
pobres e aqueles que estão no mercado de trabalho informal. A aflição aumenta
ainda mais diante da confirmação de que não temos presidente de verdade, e o
que temos tudo faz para atrapalhar o próprio governo e, por extensão, o País.
Nisso está sendo auxiliado pelo deputado Eduardo Bolsonaro, seu filho mais
novo, que, macaqueando o presidente norte-americano, Donald Trump, atribuiu à
China a “culpa” pela crise, criando um atrito diplomático gratuito e
desnecessário com nosso maior parceiro comercial justamente nesta hora de grande
vulnerabilidade.
Cientistas de todo o mundo lutam para encontrar tratamento
para a covid-19. No Brasil, constata-se que a incompetência do atual governo é
incurável.
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