Entre as coisas de que o Brasil menos precisa neste momento
de crise e incerteza é um entrevero com nosso maior parceiro comercial. Foi
exatamente o que logrou produzir o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), ao
veicular mensagens responsabilizando a China pela pandemia da Covid-19.
Na quarta (18), o parlamentar, filho do presidente da República
e presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, endossou a acusação
de que a culpa pela disseminação global do novo coronavírus pertence ao Partido
Comunista Chinês, comparando o caso ao acidente nuclear de Tchernóbil, ocorrido
em 1986.
No dia seguinte, tentou dar nova
interpretação a suas palavras, mas o problema já estava criado.
A
resposta à fanfarronice foi drástica. Em tom de agressividade inusual na
linguagem diplomática, o embaixador do país asiático declarou que as falas do
deputado “são um insulto maléfico contra a China e o povo chinês”, que vai
ferir a relação amistosa entre os dois países.
O vice-presidente, Hamilton Mourão, buscou aplacar o
mal-estar afirmando que as declarações de um deputado não refletem a opinião do
governo. Na contramão desse esforço, e certamente em busca de agradar ao chefe,
o chanceler Ernesto Araújo divulgou nota em que pediu a retratação do
embaixador chinês.
Publicadas no mesmo dia em que Jair Bolsonaro enfrentou
protestos em diversas cidades do país, as mensagens do filho parecem ter o
objetivo de excitar a militância bolsonarista das redes sociais, mirando um
alvo também da predileção do americano Donald Trump.
Não que inexistam motivos para criticar o comportamento da
China desde o surgimento do novo vírus. Parece claro que a ditadura agiu, no
mínimo, de forma negligente nas primeiras semanas do surto, minimizando a
importância da infecção e calando profissionais de saúde que alertavam para os
perigos da doença.
Hoje, contudo, tendo controlado a epidemia, o país adquiriu
um papel proeminente no auxílio a outras nações assoladas pela enfermidade
—numa atitude em que não faltam pretensões geopolíticas.
Ao se comportar como parlamentar nanico, Eduardo Bolsonaro
não só atrapalha uma parceria que proporcionou US$ 65 bilhões em exportações no
ano passado como indispõe o Brasil com o governo chinês numa hora em que se
necessita de cooperação global.
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