Entre 2009 e 2018 o desemprego no mundo declinou
gradualmente. Mas essa tendência se estancou e deve permanecer estagnada por ao
menos dois anos, segundo o relatório da Organização Internacional do Trabalho
(OIT) Perspectivas Sociais e do Emprego no Mundo. Não à toa,
a organização destaca que 7 entre 11 sub-regiões do globo experimentaram um
crescimento na incidência de protestos contra o desemprego e suas
consequências.
O declínio no desemprego dos últimos anos se deu sobretudo
nos países de renda alta. Isso, diga-se de passagem, serve como um
contra-argumento ao temor generalizado de que as transformações tecnológicas
estão levando ao desemprego em massa. Em contraste, países de renda média que
passaram por crises econômicas mantiveram altas taxas de desemprego e é
improvável que consigam revertê-las nos próximos anos.
A OIT estima que há 188 milhões de desempregados no mundo,
ou 5,4% da força de trabalho. Somados a toda mão de obra subutilizada, são 470
milhões (13%) de pessoas. Dos 3,3 bilhões de trabalhadores do mundo, 2 bilhões
(61%) são informais. Destes, 1,4 bilhão trabalha em países de renda média ou
baixa, em condições vulneráveis e por remunerações bem menores que as dos
assalariados típicos. Mais de 630 milhões de trabalhadores, quase 1 em 5, não
recebem o suficiente para tirar a si mesmos e suas famílias da faixa de pobreza
extrema ou moderada. Nos países de renda baixa essa parcela chega a 66% dos
trabalhadores.
Some-se a isso as disparidades de gênero e de geração. A
força de trabalho ativa das mulheres é de 47%, enquanto a dos homens é de 74%.
Na América Latina, o nível médio de educação das mulheres é mais alto, mas elas
recebem 17% menos, uma situação ainda mais dramática quando se considera que o
número de lares sustentados por mulheres está em ascensão. O aumento da
coabitação, de divórcios e de mães solteiras faz com que no Brasil, por
exemplo, as mulheres já sejam chefes de família em 30% dos lares. Cerca de 267
milhões de jovens no mundo (22%) não trabalham nem estudam. Mesmo na Europa e
Ásia Central a qualidade dos empregos para os jovens foi prejudicada pela
crescente incidência de empregos temporários.
Além de todos esses desafios, o volume total de capital
disponível para o trabalho tem encolhido. Entre 2004 e 2017, a parcela de renda
do trabalho – em oposição à renda auferida pelos detentores do capital –
declinou de 54% para 51%. Segundo a OIT, este decréscimo está em grande parte
relacionado à erosão da renda dos autônomos, com a proliferação de novas formas
de trabalho precário e informal.
Entre os próprios trabalhadores a desigualdade de renda é expressiva.
Os 10% mais bem pagos recebem em média US$ 7.400 ao mês, enquanto os 10% mais
pobres recebem US$ 22. Em quase todos os países – com algumas exceções, como
China e Índia – a desigualdade de renda está estagnada, e, segundo as revisões
estatísticas da OIT, é maior do que se supunha anteriormente.
Para o Brasil, as projeções são angustiantes. Entre 2019 e
2025, a taxa de desemprego deve cair apenas de 12% para 11,4% (acima da média
mundial de 5,4%). Ou seja, em cinco anos o número de desempregados recuaria
apenas de 12,8 milhões para 12,6 milhões. Entre os jovens o índice de
desemprego hoje é de 25%. No total, somando-se subempregados, desalentados,
informais e outros em condições precárias, a mão de obra subutilizada chega a
quase 25 milhões, cerca de 25% da força de trabalho, bem acima da média mundial
de 13%.
Trata-se de uma tragédia humanitária que demanda a atenção
de todos. As medidas do governo para estimular a contratação se reduziram a
baratear a mão de obra para os empregadores. Mas não há por que eles
contratarem quando a capacidade ociosa da indústria, por exemplo, oscila na
casa dos 25% a 30%. Por mais tração que as reformas e medidas do governo
consigam dar à economia, o desemprego seguirá alto por alguns anos. É
imperativo que o governo Bolsonaro dê mais atenção às políticas sociais do que
deu em seu primeiro ano.
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