Facções políticas em guerra aberta pelo poder no Rio
Um ex-capitão contra um ex-fuzileiro naval
Se um delegado da Polícia Federal, como contou o empresário
Paulo Marinho, vazou para o senador Flávio Bolsonaro em outubro de 2018 que ele
seria alvo de uma operação que poderia prejudicar a eleição do seu pai, por que
duvidar que possam ter vazado informações sobre a operação da Polícia Federal
que teve como alvos o governador Wilson Witzel, do Rio, e sua mulher?
A operação veio em boa hora para o presidente Jair
Bolsonaro. A vida dele não está fácil. Responde a inquérito por tentativa de
intervenção na Polícia Federal. Seu celular pode ser apreendido. Investigações
no âmbito do Supremo Tribunal Federal levantam suspeitas sobre atos dos seus
filhos. E a escolha que fez de recursar-se a combater o Covid-19 lhe cobrará um
preço alto e justo.
Mas, por ora, isso está longe de significar que a operação
que alcançou o casal Witzel tenha sido encomendada para amenizar a coça que os
Bolsonaro estão tomando. Tampouco os comentários feitos de véspera por
bolsonaristas sobre a possibilidade de o casal ter-se envolvido em
bandalheiras, significam necessariamente que eles souberam da operação com antecedência.
Compilem-se as notas publicadas desde janeiro em jornais
importantes a propósito de futuras operações da Lava Jato. A mais recente
edição da VEJA, em circulação desde a última sexta-feira, foi fundo na
revelação da tempestade que se abateria sobre os Witzels. Era pedra mais do que
cantada. Nos corredores do poder, em Brasília, murmurava-se a respeito há
semanas.
Como polícia judiciária, a Polícia Federal só age se
autorizada. E foi pelo ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de
Justiça, em despacho considerado bem fundamentado por ministros de tribunais
superiores e advogados respeitados. As investigações corriam desde a época de
Sérgio Moro como ministro e de Maurício Aleixo como delegado-geral da Polícia
Federal.
O Rio assistirá daqui para frente à guerra entre duas
facções políticas: a comandada por Bolsonaro e a comandada por Witzel. A facção
de um ex-capitão contra a de um ex-fuzileiro naval. As duas se juntaram em 2018
para ganhar as eleições. Começaram a se separar quando Witzel, ao sobrevoar
certa vez o Rio na companhia de Bolsonaro, avisou-o que seria candidato à sua
sucessão.
Cada facção tem seu braço armado – agentes das várias
polícias, milicianos com ou sem conexão com o tráfico de drogas, e os dois
maiores grupos do chamado crime organizado, o Comando Vermelho e o Primeiro
Comando da Capital. O caso da rachadinha no gabinete de Flávio e o da execução
de Marielle Franco serão usados à farta para tornar a guerra ainda mais
sangrenta.
Witzel poderá ser um adversário mais perigoso para Bolsonaro
do que Bolsonaro para ele. É provável que a Assembleia Legislativa aprove a
abertura de um processo de impeachment para cassar seu mandato. Mesmo que
escape, dificilmente Witzel se reelegerá. Seu projeto de suceder Bolsonaro foi
para o lixo. Uma pessoa acuada mata com a esperança de não morrer.
A guerra que mal começa já produziu uma vítima – a Polícia
Federal. Sua isenção está em dúvida. E a dúvida só se agravará quando o
Procurador-Geral da República concluir que Bolsonaro, ao contrário do que disse
Moro, jamais tentou controlá-la. Tempos estranhos, estes, onde o excesso de
provas serve para absolver, não para denunciar e condenar.
O troco chinês não demorará muito a ser dado
Bolsonaro não perde por esperar
Uma vez que o serviço secreto chinês tem informantes dentro do governo
brasileiro, como admitiu o presidente Jair Bolsonaro, a essa altura já sabe o
que foi dito sobre a China na reunião ministerial de 22 de abril último.
Os trechos do vídeo da reunião censurados pelo ministro
Celso de Mello mais revelam do que escondem. Ali ficou clara a ojeriza de
Bolsonaro e de alguns dos seus ministros ao maior parceiro comercial do Brasil
no mundo.
Justamente por tal condição é que eles não querem bater de
frente com o governo comunista chinês. Sentem-se obrigados a aturá-lo e vivem
sob a pressão do agronegócio, parte da base eleitoral de Bolsonaro.
Mas as relações entre os dois países foram abaladas. E o
Brasil pagará caro por isso, e também por estimular manifestações hostis que se
repetem semanalmente em Brasília há pouca distância da embaixada da China.
O governo chinês é reconhecido por seu pragmatismo, mas a história do Império do Meio ensina que ele não engole desaforos. A paciência milenar nada tem a ver com conformidade, mas com sabedoria.
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