Se dependesse só de Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da
Câmara dos Deputados, começaria em breve a contagem regressiva para a volta do
Congresso à normalidade com a retomada das sessões de corpo presente. Mas se
depender de Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente do Senado, isso tão cedo acontecerá.
Alcolumbre argumenta que a média de idade dos senadores é
muito mais alta do que a média de idade dos deputados, e que por isso muitos
deles enfrentam problemas de saúde. A pandemia ainda está aí e autoridades
médicas advertem para a hipótese de ela recuperar força em regiões onde, hoje,
está mais fraca.
O que Alcolumbre esconde é que há outro motivo para retardar
a volta dos senadores e deputados a Brasília: quanto mais tempo ficarem em seus
Estados, melhor para o governo. O retorno significaria também o prosseguimento
dos trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das fake news.
A CPMI é um pesadelo para Jair Bolsonaro, seus filhos, e
parte do rebanho que os apoia. Da mesma forma que o inquérito conduzido no
Supremo Tribunal Federal pelo ministro Alexandre de Moraes que investiga a
distribuição de notícias falsas nas redes sociais e o financiamento de
manifestações antidemocráticas.
É mais do que certo que a CPMI e o inquérito apontarão os
três filhos Zero de Bolsonaro, e assessores do presidente com gabinetes no
Palácio do Planalto, como envolvidos diretamente com a produção e disseminação
de notícias falsas que já atingiram a honra de ministros do Supremo e de
adversários do governo.
Alcolumbre é sensível a tudo que incomoda Bolsonaro. Ele se
elegeu presidente do Senado com o apoio do governo à época em que Onyx
Lorenzoni era ministro da Casa Civil. No cargo, comporta-se como aliado de
Bolsonaro, ora o aconselhando, e na maioria das vezes se rendendo docemente às
suas vontades.
E tem mais uma coisa: Alcolumbre aspira a um novo mandato de
presidente do Senado. O regimento interno da Casa não permite, mas ele alimenta
a esperança de driblá-lo. Para Bolsonaro estaria de bom tamanho. A festa será
mais ruidosa se ele emplacar na presidência da Câmara um nome do Centrão.
A obra ficará completa com a indicação por Bolsonaro de
alguém “terrivelmente evangélico” para a vaga que se abrirá no Supremo com a
aposentadoria do ministro Celso de Mello. Então ele poderá comemorar um ano
quase perfeito. O “quase” é por conta dos milhares de mortos e dos milhões de
infectados pelo Covid-19.
Nada, porém, que uma versão mais generosa do Bolsa Família
não possa dar um jeito. Pela primeira vez, ontem, o presidente Donald Trump
recomendou aos americanos que usem máscara. Trump corre o risco de não se
reeleger em novembro. Bolsonaro ainda tem mais de dois anos pela frente.
Governo se prepara para jogar dinheiro fora
Mais fácil fazer o dever de casa
Sem que ainda tenha tido tempo para mostrar serviço, o ministro Fábio Faria
(PSD-RN), das Comunicações, genro do apresentador de televisão Silvio Santos,
teve pelo menos uma ideia.
Para melhorar a imagem do Brasil no exterior, pretende
investir em anúncios de televisão a serem veiculados em canais internacionais
de notícias, de preferência em países da Europa.
Os tais anúncios defenderiam a tese de que o agronegócio
brasileiro nada tem a ver com o avanço do desmatamento na Amazônia. E que a
Amazônia não está tão desmatada assim.
Não daria mais certo se o governo adotasse medidas
convincentes de proteção da Amazônia? Nada custaria, por exemplo, demitir o
ministro do Meio Ambiente.
Que governo estrangeiro ou que grande investidor passaria a olhar com mais boa vontade para o Brasil só por conta de um comercial de televisão? Dinheiro jogado fora.
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