No interminável xadrez do Oriente Médio, a região
geopoliticamente mais complexa do mundo, às vezes as peças se movem.
Foi o que aconteceu, com a devida fanfarra eleitoral do
patrono Donald Trump, no acordo
entre Israel e os Emirados Árabes Unidos, anunciado na semana passada.
Pelo arranjo, a monarquia do golfo Pérsico deve se tornar o
terceiro país árabe a estabelecer relações com o Estado judeu, depois de Egito
(1979) e Jordânia (1994).
A diferença é que aquelas nações haviam combatido Israel.
Agora, os Emirados na realidade querem a cooperação para eventualmente lutar ao
lado de Tel Aviv. O paradoxo de uma paz para a guerra encontra sua explicação
atravessando as águas do Golfo Pérsico, no Irã.
O país dos aiatolás opera há décadas uma expansão regional,
por meio de grupos xiitas em lugares como o Líbano ou o Iêmen.
Do outro lado, está o centro do mundo sunita, o ramo
majoritário do Islã, no Oriente Médio —a Arábia Saudita. Os potentados da
península Arábica no geral se alinham ao soberano em Riad, com a notável
exceção do Qatar. Há anos existem contatos discretos entre israelenses e esses
sunitas.
Agora, rasga-se o véu de segredo, em nome de uma aliança
que, se der certo, deverá atrair outros árabes moderados. A contenção do Irã
pode ser buscada pela via econômica, mas a história não permite descartar a via
do conflito armado.
Como no caso do inócuo plano de paz apresentado por Trump no
começo deste ano, o sujeito oculto do processo é a questão
palestina.
Aos erros de suas lideranças e à opressão israelense, ora
política oficial americana, soma-se enfim o pragmatismo de um Estado árabe em
relação aos palestinos.
Os Emirados tentaram disfarçar, colhendo uma promessa morna
de suspensão do plano de Binyamin Netanyahu de anexar 30% das áreas da
Cisjordânia com apoio dos EUA.
Da mesma forma, houve protestos entre árabes, além da
previsível queixa do Irã. O mais provável, contudo, é que os palestinos sejam
deixados para trás em sua causa nacional, abrindo o caminho para novos e
perigosos movimentos de peças no tabuleiro.
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