Ribamar Oliveira, Valor Econômico
O ministro da Economia, Paulo Guedes, encontrou uma forma de atender ao desejo das alas militar e política do governo por mais investimentos em infraestrutura neste ano, sem furar o teto de gastos. A equipe econômica está finalizando um projeto de lei, que deverá ser enviado ao Congresso Nacional nos próximos dias, remanejando verbas orçamentárias no valor de até R$ 5 bilhões. A estratégia é reduzir as dotações de alguns setores, que não ainda não foram empenhadas, como as da saúde e da educação, e aumentar os investimentos.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, encontrou uma forma de atender ao desejo das alas militar e política do governo por mais investimentos em infraestrutura neste ano, sem furar o teto de gastos. A equipe econômica está finalizando um projeto de lei, que deverá ser enviado ao Congresso Nacional nos próximos dias, remanejando verbas orçamentárias no valor de até R$ 5 bilhões. A estratégia é reduzir as dotações de alguns setores, que não ainda não foram empenhadas, como as da saúde e da educação, e aumentar os investimentos.
Tudo será feito, segundo fonte credenciada ouvida pelo
Valor, respeitando os gastos mínimos previstos na emenda constitucional 95/2016
para a saúde e a educação. O projeto de lei (PLN) em elaboração será submetido
ao Congresso, que dará a última palavra. Está descartada, portanto, a edição de
medida provisória abrindo crédito extraordinário para fugir do teto de gastos,
como inicialmente foi pensado pelo ministro chefe da Casa Civil, Braga Netto, e
pelo ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho.
As Secretarias de Orçamento Federal e do Tesouro Nacional
estão fazendo levantamentos para identificar as áreas do governo que estão com
“excesso” de verbas e que podem ser remanejadas para outros ministérios,
particularmente o da Infraestrutura e o do Desenvolvimento Regional. As alas
militar e política querem concluir investimentos em rodovias e em obras de
combate à seca no Nordeste. Apenas as dotações que ainda não foram empenhadas
poderão ser remanejadas. Ou seja, só aquelas para as quais o governo ainda não
autorizou o gasto, que é a primeira fase da execução orçamentária.
A área de educação deverá perder recursos, pois a dotação
para este setor está bem acima do mínimo constitucional, como informou a fonte
do governo. A área da saúde também está bem acima, pois o governo destinou uma
grande quantidade de recursos para o setor no combate aos efeitos da pandemia
da covid-19, por meio de créditos extraordinários.
Outros setores do governo também poderão perder recursos. Em
defesa de sua estratégia, o governo alega que, se as verbas não forem
remanejadas, haverá um “empoçamento”, ou seja, mesmo que o gasto seja
autorizado, o Ministério ou órgão não conseguirá gastar os recursos neste ano e
o dinheiro ficará no caixa, sem uso. Até junho, o “empoçamento” já atingia R$
31,1 bilhões. Desse total, o Ministério da Cidadania tinha R$ 8,1 bilhões, o
Ministério da Saúde, 6,1 bilhões e o Ministério da Educação, R$ 3,9 bilhões.
Com a estratégia, a equipe econômica espera diminuir as
pressões de ministros e aliados políticos contra o teto de gastos. Mas,
certamente, enfrentará resistências da oposição ao governo no Congresso, pois
deputados e senadores terão dificuldade, especialmente em ano eleitoral, em
cortar verbas para a saúde e a educação, mesmo que seja para aumentar
investimentos em áreas estratégicas.
Agora, o problema da área econômica é encontrar espaço
dentro do Orçamento de 2021 para os investimentos. A proposta orçamentária
ficou muito difícil de fechar, pois o teto de gastos foi reajustado em apenas
2,13%. As despesas discricionárias (investimento e custeio da máquina
administrativa, exceto gasto com pessoal) ficarão abaixo de R$ 100 bilhões, de
acordo com fontes do governo, ante um valor de R$ 120 bilhões previsto para
este ano.
O governo só conseguirá fechar a proposta sem cortar ainda
mais os investimentos se o Congresso adiar a derrubada do veto do presidente
Jair Bolsonaro à desoneração da folha de salários de 17 setores da economia e
se conseguir adiar algumas despesas para 2022, como é o caso do Censo
Demográfico, feito pelo IBGE, previsto para o próximo ano.
No caso do veto à desoneração, os aliados do governo estão
tentando adiar a decisão do Congresso para setembro, após o envio da proposta
orçamentária no dia 31 de agosto, pois, nesse caso, caberá aos parlamentares
dizer onde cortarão outras despesas para compensar esse gasto. A desoneração
representa uma despesa para o Tesouro, submetida ao teto. Ele é obrigado, por
lei, a compensar a Previdência Social pela perda de receita com a desoneração.
Inadimplência histórica
Neste mês, poderá ocorrer uma das maiores inadimplências de tributos federais da história, pois as empresas terão que pagar duas parcelas do PIS/Cofins (referentes a março e julho) e duas parcelas da contribuição patronal de 20% sobre a folha de salários ao INSS (referentes a março e julho).
Neste mês, poderá ocorrer uma das maiores inadimplências de tributos federais da história, pois as empresas terão que pagar duas parcelas do PIS/Cofins (referentes a março e julho) e duas parcelas da contribuição patronal de 20% sobre a folha de salários ao INSS (referentes a março e julho).
Como todos se recordam, uma das medidas de combate aos
efeitos da recessão econômica provocada pela pandemia foi o adiamento do
pagamento de alguns tributos, o que é conhecido na área técnica como
diferimento. O PIS/Cofins referente a março, que seria pago em abril, foi
adiado para agosto, o mesmo acontecendo com a contribuição patronal ao INSS
devida em março.
A medida representou um alívio naquele momento para as
empresas, mas agora chegou o momento de pagar a conta. O Valor perguntou à
Receita Federal se não teme um elevado grau de inadimplência em agosto, devido
ao fato de que as empresas ainda estão em fase de recuperação e muitas delas
não terão condições de pagar duas parcelas das três contribuições no mesmo mês.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Receita disse que
“diversos indicadores já apontam em direção a uma recuperação da economia”.
Segundo ela, as vendas no Brasil no mês de junho mostraram o maior patamar do
ano de 2020, pois tiveram um resultado 15,6% maior que o de maio deste ano e de
10,3% superior ao de junho de 2019. Além disso, observou, em junho, todas as
regiões brasileiras mostraram recuperação no ritmo de vendas, tanto em valor
como em quantidades de notas emitidas.
De qualquer forma, é uma aposta, cujo resultado saberemos
mais adiante. O ideal talvez fosse encarar o problema e propor o pagamento
parcelado dos atrasados.
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