Como respostas aos gritos das ruas e da história do Brasil e
do mundo, diante da resiliência danosa do racismo estrutural, ambientes
sociais, com destaque para a Justiça, lentamente tem construído ações objetivas
que fortalecem a máxima de que: não basta não ser racista, é preciso ser
antirracista.
Com esse tema, no Conselho Nacional de Justiça, Dias Toffoli
criou um grupo de trabalho para construir propostas de combate ao racismo no
sistema de Justiça. O Procurador Geral, Augusto Aras, o CNMP e CNJ, incluíram
no Observatório Nacional da Justiça, a busca pela Igualdade e pelo fim da
Discriminação Racial, como um pilar das políticas do judiciário. O Ministro
Herman Benjamin, do STJ, instituiu cotas para professores negros no mestrado da
Escola Nacional da Magistratura e Luiz Fux, Presidente do STF, anunciou a
criação do Observatório dos Direitos Humanos, no CNJ. No executivo municipal, o
prefeito paulista, Bruno Covas, cancelou a aplicação do mata – leão, como
prática de ação na guarda civil municipal, e vai nomear 12 Centros de Educação
com nomes de personalidades negras.
Mesmo o fugidio ambiente empresarial começa a se render ao
novo normal. A Cyirela Comercial Properties, por exemplo, promove a
qualificação em diversidade racial para seu corpo de segurança e investe no
empreendedorismo de jovens negros; o Grupo Pão de Açúcar instituiu o termo de
conduta para combate à discriminação racial com suas empresas de segurança; a
Petrobras incluiu no manual de conduta dos fornecedores o respeito à
diversidade racial; a empresa americana Google criou um fundo de cinco milhões
para inclusão de negros na tecnologia; a Ambev criou um programa de contratação
de 80 jovens negros, com observadores independentes negros; já o Magazine Luiza,
por sua vez, implementou um programa de trainee exclusivo para negros; e a
empresa de telefonia Vivo reservou trinta por cento de vagas para negros no seu
democrático programa de trainee. Diferentemente do mundo político que se mantêm
quase indiferente a esse mutirão da cidadania racial.
No caso do partilhamento das verbas de campanhas entre
mulheres brancas e negras, não pestanejou. Pôs-se em silêncio. Nenhum partido
ou grande personalidade política se pronunciou ou se comprometeu a aplicar com
entusiasmo a decisão justa e republicana do TSE, e, depois, a liminar do STF,
determinando sua aplicação imediata. Mesmo sendo algo limitado, simbólica e
historicamente trata-se de grande progresso. Valoriza a voz das ruas e cumpre o
propósito civilizatório de corrigir a distopia política que opõem negros e
brancos e confronta os fundamentos da igualdade e da participação democrática.
Ou não será esse o propósito da política e dos políticos? O que esse silêncio
nada inocente terá para nos dizer?
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