Em jantar com um pequeno grupo de empresários, incluindo apoiadores de primeira hora e alguns nem tão próximos, Jair Bolsonaro procurou mostrar que conta com suporte na elite econômica.
Acompanhado por ministros, entre eles Paulo Guedes (Economia), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) e Marcelo Queiroga (Saúde), além do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o presidente usou a oportunidade para reafirmar empenho na vacinação e compromisso com uma gestão responsável.
Afora a ausência de pudor na busca de crédito por uma campanha de imunização que o Planalto sempre rechaçou, o encontro acaba por expor involuntariamente o que mais falta ao governo Bolsonaro na condução da economia.
A confiança do setor produtivo e de investidores deve ser obtida com políticas públicas consistentes e clareza de propósitos. Rega-bofes para alguns convidados mostram exatamente o contrário.
Alguns dos presentes demonstraram otimismo após o encontro, mas o grupo constitui amostra ínfima do empresariado. Logo surgiu quem denunciasse a tentativa de tomar a parte pelo todo.
Recorde-se que um contingente muito mais amplo de industriais, banqueiros, executivos e economistas assinou recentemente carta com críticas ao governo e cobrança de providências concretas para a superação da pandemia e apoio à população mais carente.
Conforme os relatos, os ministros procuraram destacar temas positivos, como não poderia ser diferente —alguns avanços da agenda legislativa e leilões de infraestrutura.
Entretanto a cortina de fumaça é incapaz de esconder a gravidade da conjuntura. O atraso na vacinação ceifa vidas, enquanto o país vive entre estagnação econômica, alta da inflação e desconfiança a respeito das contas públicas.
Todos esses problemas são agravados pela incúria do Planalto e pelo descompromisso do Congresso, mais preocupado com seus interesses paroquiais. O mais recente episódio foi a tentativa (mais uma) de burlar o teto para os gastos federais com um Orçamento fictício.
A farsa, que agora se transformou em impasse político, foi viabilizada pela colaboração entre alas do governo e o centrão, com o objetivo de ampliar despesas em benefício de redutos eleitorais.
Enquanto Bolsonaro colhe aplausos e gentilezas no varejo, os mercados demonstram clara e diariamente —por meio de inflação, baixo crescimento, desemprego, alta do dólar e dos juros— o déficit de credibilidade do governo. Este deveria ser o recado levado a sério pelo presidente e por seus auxiliares.
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