Por Eduardo Bresciani, O Estado de S. Paulo
Brasília - Assessor do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) até
dezembro passado, quando foi demitido, Wellington de Oliveira diz em entrevista
exclusiva ao Estado que vai procurar a Polícia Federal para mudar seu
depoimento sobre a autoria de um vídeo de apoio ao pastor Feliciano veiculado
em março do ano passado com ataques contra outros parlamentares, como Jean
Wyllys (PSOL-RJ).
Oliveira diz ter sido orientado pela equipe do pastor a
mentir e negar a autoria do vídeo. Agora, contará ser o responsável pela
produção e ter encaminhado a Feliciano o material antes da publicação na
internet. A PF investiga o caso a pedido dos deputados atacados. "Vou
procurar a Polícia Federal e desmentir a história do vídeo", diz o
ex-assessor. "Ele (Feliciano) adorou, comprou a ideia e mandou realizar o
vídeo, inclusive aprovou por e-mail, só não queria assumir como nosso."
O vídeo chama de "rituais macabros" manifestações
feitas contra o pastor e afirma que Wyllys, opositor do deputado, tem
"preconceito contra cristãos".
O material diz ainda que a Comissão de Direitos Humanos da
Câmara, antes da presidência de Feliciano, havia sido comandada por
simpatizantes de movimentos homossexuais e usa imagens de seminário sobre
sexualidade na infância dizendo que ele estimularia a pedofilia.
O vídeo postado na internet traz também imagens dos
deputados Érika Kokay (PT-DF) e Domingos Dutra (SDD-MA), também adversários de
Feliciano.
Oliveira diz que a produção do vídeo fez parte de um projeto
maior que não foi adiante, segundo o relato dele, porque o pastor não queria
assumir a autoria das críticas e preferia vê-las disseminadas como
"viral" na rede.
Feliciano figurou nas manchetes ao longo de 2013 ao assumir
a Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Sua chegada ao cargo gerou protestos
de movimentos da área que o acusam de "racista" e
"homofóbico" por declarações publicadas nas redes sociais. Oliveira
trabalhou ao lado dele por nove anos realizando a produção do programa de TV e
a assessoria de imprensa na Câmara. Atuou também como pastor em Ribeirão Preto.
Fantasmas. Oliveira também confirma a existência de ao menos
onze funcionários fantasmas no gabinete de Feliciano. As suspeitas foram
reveladas em março do ano passado pelo jornal Folha de S. Paulo. Segundo
Oliveira, pessoas ligadas às igrejas do pastor recebem da Câmara sem realizar
qualquer trabalho relativo à atuação do parlamentar. O ex-assessor diz que o
deputado usa dinheiro da Câmara para pagar salários a pastores e outros
funcionários, além de dívidas relativas a serviços prestados antes do mandato.
"Todos estes que listei fazem o trabalho para a igreja, para o escritório
particular, nada para a política, para o mandato."
Segundo Oliveira, do atual gabinete, Adilson Brito, André
Oliveira, Rafael Octávio e Roseli Octávio atuam somente para as igrejas de
Feliciano na região de Orlândia (SP), berço político do deputado pastor. Os
salários deles vão até R$ 3,5 mil. Roseli Octávio é bispa na sede da Catedral
do Avivamento, em Orlândia, enquanto seu filho, Rafael, atua na igreja em
Franca (SP). Brito atua em Guará (SP) e André Oliveira, em São Joaquim da Barra
(SP).
Oliveira cita ainda outros exemplos de pessoas que trabalham
para Feliciano diretamente, sem ligação com a política. Wagner Guerra, que tem
salário de R$ 8,6 mil, cuida das contas pessoais e da agenda do deputado, não
tendo qualquer relação com o gabinete. Marina Octávio, mulher de Guerra e filha
de Roseli, também está lotada no gabinete. O ex-assessor diz que faz as
denúncias na busca de "moralizar" o meio religioso e por uma
"crise de consciência" após ter convivido com os desvios.
Feliciano nega ter orientado o ex-assessor Wellington de
Oliveira a produzir o vídeo com ataques a adversários e diz que só soube do
material ao recebê-lo por e-mail. "Se ele está dizendo que foi ele, que
assuma. Eu não sei quem fez, mas que ficou bom, ficou", disse.
Ele chamou de "falácia" a acusação de que
funcionários do gabinete trabalham para as igrejas. "Essas pessoas
trabalham para mim como deputado. O trabalho na igreja é voluntário."
Chefe de gabinete, Talma Bauer chamou de "leviandade" as acusações de
Oliveira. Adilson Brito disse que trabalha na "área política", mas
não explicou que serviço realiza. Os outros funcionários citados não foram
localizados ou não responderam às ligações.
Veja o vídeo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário