sexta-feira, 30 de novembro de 2018

ENTRE A POLÍTICA E A RELIGIÃO

Artigo de Fernando Gabeira
A forte presença religiosa no governo Bolsonaro estimula a abertura de um diálogo entre política e religião, na verdade, uma tentativa de examinar esse constante intercâmbio de duas dimensões diferentes de abordagem de nossos problemas. Durante a campanha, Bolsonaro usou muitas vezes o verso bíblico de João: “Conhecei a verdade e a verdade vos libertará”.
Aplicado às circunstâncias eleitorais, funcionou: conhecer a verdade sobre o sistema político, os erros do PT, e escolher um caminho alternativo pelo voto. Mas esse mesmo verso de João aplicado à complexidade do governo perde um pouco sua substância política. Creio que muitas vezes será preciso tomar decisões sem conhecer toda a verdade. E mesmo quando a alcançamos, é uma verdade provisória contestada.
A palavra salvação em política é ambígua e leva, de modo geral, a uma desconfiança. Ela se instalou como um contrabando na religião laica do marxismo, que definiu o sujeito da salvação: a classe operária. O problema é que a classe operária, na teoria revolucionária, precisava organizar seu exército para nos salvar. E nos colocava diante de um novo dilema: quem nos salvará dos salvadores?
A salvação pelo mercado, a exportação do livre-comércio e a democracia liberal provocaram alguns desastres. E isso é visto com resistência em muitos pontos do mundo, onde o nacionalismo ressurge.
Agora a presença religiosa é direta: esteve presente na escolha do novo ministro da Educação. Ao anunciar o nome de Ricardo Vélez Rodríguez, a opção de Bolsonaro foi interpretada por alguns articulistas como algo coerente, uma decorrência lógica de suas propostas de campanha. Não estou tão seguro de que tenha sido uma escolha tão linear. Bolsonaro visitou a Coreia do Sul e lá deve ter ouvido falar de outras experiências inovadoras de educação no mundo.
Durante algum tempo manteve diálogo com um setor mais técnico e, segundo a imprensa, chegou a considerar o nome do Instituto Ayrton Senna. Imagino que o diagnóstico que recebeu não ponha a questão dos valores como o problema principal de nossa educação, mas sim a baixa qualidade.
Claro que a existência de um viés ideológico nos fóruns que definem a política educacional e universidades é sempre mencionado como problema. Mas não conseguem explicar por que nos últimos 30 anos verbas e vagas foram fortemente ampliadas sem repercussão positiva no aumento da produtividade nacional.
Nesse contexto, uma aproximação maior com a ciência e a tecnologia seria indicação preciosa. O novo ministro afirmou que é necessário combater o cientificismo. Não elaborou sobre o conceito.
Há várias maneiras de interpretar o seu propósito. Uma, mais sofisticada, combate uma visão religiosa da ciência, uma nova ideia de salvação. Ou será que é uma referência à origem da vida humana como o resultado de alianças das bactérias e uma passagem pelos macacos?
Nesse caso, o debate lembrara um excelente filme americano do século passado, O Vento Será Tua Herança. É baseado na história verdadeira de um professor julgado por ensinar a teoria de Darwin nas escolas. O jovem professor é interpretado por Gene Kelly e o defensor do criacionismo, por Spencer Tracy. O debate é muito interessante. Tracy, como defensor das ideias tradicionais, é brilhante. Essa é uma das qualidades do filme, pois não ironiza nem transforma a visão religiosa numa caricatura. Aliás, essa seria uma tática desastrosa, como já foi na campanha. Se a política quiser dialogar com a religião, não precisa, em momento nenhum, desrespeitá-la.
Bolsonaro fez uma escolha fiel aos evangélicos, ele mesmo batizado no Rio Jordão. Mas fez a melhor escolha em termos de governar o Brasil nesta quadra complexa?
Existe uma tensão clara entre os apoiadores de Bolsonaro na abordagem do problema que considera principal: a predominância da esquerda na educação Os mais lúcidos consideram que isso é uma luta de ideias e deve ser travada nesse plano. Outros preferem um decreto, com a Escola sem Partido.
Deus está presente na política externa. Não é algo distante dos sentimentos do povo brasileiro. Mas uma política externa, ao tentar interpretar os sentimentos do povo, precisa escolher, entre muitos, os que queremos transmitir ao mundo. Até agora escolhemos a paz, o esforço pela solução política dos conflitos. Isso não tem um sentido missionário, não queremos transmitir outra crença além da necessidade de harmonia, cooperação.
Erramos na escolha? Não foi ela que enfraqueceu nosso papel no exterior, e sim as investidas missionárias do PT na sua visão da ampliar o domínio da esquerda na continente. E, pior ainda, ao lado da Odebrecht, com dólares na mão, golpeando os processos democráticos locais.
Antes de Bolsonaro não pensávamos tanto em oposição Ocidente-Oriente. Claro que não ignoramos o avanço da China, sua ascensão como potência mundial. Pra mim, o Oriente é maior que a China.
Por que levar nosso Deus ao Japão, à Índia, ao Paquistão, ou salvar um budista de si próprio?
O caso da China tem de ser visto com frieza. Oito presidentes americanos acreditaram que, entrando na rota do capitalismo, a China iria transformar-se numa democracia liberal. Foram eles, os americanos, os grandes parceiros do crescimento chinês. Seremos nós, agora, que vamos achar a saída para suas expectativas frustradas?
Mesmo com uma visão negativa de seu sistema político, a China não pode ser substituída completamente pelos americanos em nossas transações econômicas. Até porque, apesar dos acenos, a política de Trump, America First, é contraditória com essa expectativa.
De qualquer maneira, são apenas suposições. O ideal seria os ministros seguirem o caminho de Sergio Moro: entrevista coletiva. Isso nos liberaria de interpretar blogs, frases sem um contexto e do risco de deformar o pensamento do outro.
Artigo publicado no Estadão em 30/11/2018
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NÃO SOMOS UM AMONTOADO DE LARVAS

Ricardo Soares, DOMTOTAL
Sim, juro que  não queria mas tá difícil escrever uma crônica otimista. Sempre questionei a validade ou eficácia da tal “crônica militante”  e nem me imagino fazendo algo que preste nesse sentido.Mas diante do momente presente vocês vão me desculpar. Mesmo que correndo o risco de ser mal avaliado , voilá !
O meu, o nosso país, não é um amontoado de larvas que aderem às carnes podres.Por  isso protesta , mesmo que timidamente, diante da putrefação total das instituições. Estamos compondo um poema de Augusto dos Anjos e suas funestas metáforas. Mas não nos emendamos.Não devíamos ser esse arremedo de medos e difamações,de fogueiras justiceiras e deseducações.
Não somos um gente irada a bradar certezas , não é o sangue nos nossos olhos que vai nos dar razão. É a conciliação. Mas onde, afinal, ela está ? onde fica esse país , soma de gentes e de países outros ? de pessoas crentes e impenitentes ? Um país não diz só que o futuro “ a Deus pertence” mas ergue o seu próprio destino, dá liga à sua própria argamassa, distensiona tensões com a prosa nas varandas onde remotas brisas trazem passados mais gloriosos. Um país é feito, ainda, de bandas, lendas, circos, enormes pedaços doces de bolos amorosos,  mulatas, evangélicos, católicos, ateus e renegados.
Mas um país não é feito de meias verdades e nem de justiças seletivas, mártires inócuos ou heróis de ocasião. Um país é feito de sua própria história ,dos seus rios, suas árvores derrubadas, seus prédios públicos, seus túneis escuros , suas serras e espinhaços.Por fim um país não é feito de grandes miopias.Não, antes de mais nada é preciso enxergar as alegrias, saudar sim os bem nascidos mas cuidar dos desassistidos, costurar, cerzir , bordar um longo manto a agasalhar o pranto daqueles que precisam.
*Ricardo Soares é diretor de tv, roteirista, escritor e jornalista. Publicou 8 livros , dirigiu 12 documentários.
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A MULHER QUE VEIO COM A CHUVA

A festa hoje é para a guerreira que não foge à luta, Luiza Erundina, a mulher que veio com a chuva. Sinônimo de competência, coerência e luta pelos direitos humanos.  O trabalho parlamentar de Erundina é uma referência na política nacional. A honestidade e responsabilidade tem norteado a vida pública dessa paraibana que tem uma força e fé inabalável. Erundina nos enche de orgulho, é um ser humano fantástico.
Biografia – Luiza Erundina de Souza, nasceu no dia 30 de novembro de 1934 na cidade de Uiraúna, Paraíba. É a sétima de dez filhos de um artesão de selas e arreios de couro. Começa a trabalhar ainda na infância, vendendo bolos feitos pela mãe.
Repete a 5ª série duas vezes para não parar de estudar, uma vez que a cidade não tinha curso ginasial. Vai morar em Patos, com uma tia, em 1948, para cursar o ginásio. Forma-se em Serviço Social na Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa, em 1967, e segue para São Paulo em 1971 para fazer mestrado na Escola de Sociologia e Política. Luíza Erundina sonhava ser médica, contudo, por dificuldades de ordens diversas, viu-se obrigada a suspender os seus estudos durante nove anos. Mesmo assim, ajudaria a fundar, em Campina Grande, a Faculdade de Serviço Social.
Por vias da militância católica, ela assumiria, em 1958, o seu primeiro cargo público: aos 24 anos de idade, tornar-se-ia diretora de Educação e Cultura da Prefeitura Municipal de Campina Grande. E, em 1964, seria nomeada secretária de Educação e Cultura dessa cidade.
Erundina graduou-se como assistente social, em 1966, pela Universidade Federal da Paraíba; e, em 1970, concluiu o mestrado em Ciências Sociais, pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
Vale registrar que, em Campina Grande, na década de 1970, ela iniciava a sua atuação na esfera política, participando das Ligas Camponesas e fazendo oposição ao Golpe Militar. E que, naquela cidade e período histórico, a participação de mulheres nordestinas, na política, praticamente inexistia. Por essa razão, ela passaria a sofrer perseguições.
Foi em 1971 que Erundina decidiu se transferir para São Paulo em definitivo; e, ainda nesse ano, foi aprovada em um concurso público para assistente social da Prefeitura, indo trabalhar com os nordestinos migrantes nas favelas da periferia da cidade.
É aprovada em concurso para a Secretaria do Bem-Estar Social da prefeitura paulistana e logo depois passa a colaborar com movimentos de periferia que reivindicam moradia e ocupam terrenos públicos abandonados, muitas das vezes em associação com as Comunidades Eclesiais de Base. Em 1980, é convidada pelo então líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva a ser uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores (PT), pelo qual se elege vereadora em 1982 e deputada estadual constituinte em 1986. Em 1985, é escolhida pelo partido para ser a vice-prefeita na chapa do candidato Eduardo Suplicy por ocasião das eleições municipais daquele ano. Suplicy fica em terceiro no pleito, vencido por Jânio Quadros (PTB), mas a expressiva votação recebida pelo PT (cerca de 19% dos votos) impulsiona o crescimento do partido na cidade. Em 1987, já como deputada estadual, é agredida pela Polícia Militar durante uma manifestação de funcionários públicos contra o governo do estado (à época comandado por Orestes Quércia) promovida pelo PT.
Integrante da ala considerada mais radical do PT, ligada ao trotskismo, Luiza Erundina candidata-se em 1988 às prévias do partido para a decisão do candidato à prefeitura de São Paulo nas eleições daquele ano. O outro candidato das prévias é o deputado federal constituinte Plínio de Arruda Sampaio, oriundo do setor majoritário e moderado da legenda e apoiado por suas maiores lideranças: Lula, José Genoíno e José Dirceu. Erundina vence Plínio na disputa interna e se lança, com efeito, à corrida municipal, concorrendo com o ex-prefeito e ex-governador Paulo Maluf (PDS), com o secretário estadual João Oswaldo Leiva (PMDB), apoiado pelo governador Orestes Quércia e pelo prefeito Jânio Quadros, com o deputado federal José Serra (PSDB), com o jornalista e secretário municipal de Jânio, João Mellão Neto (PL), e com o ex-secretário municipal e genro de Jânio Quadros, Marco Antônio Mastrobuono (PTB).
De início em terceiro nas pesquisas eleitorais (atrás de Maluf e Leiva), com uma campanha caracterizada pelos baixos recursos, pela militância pesada do partido nos bairros (sobretudo periféricos, que se converteriam nos grandes redutos eleitorais de Erundina naquele ano) e pelos eloquentes ataques, durante o Horário Eleitoral Gratuito, à administração de Jânio Quadros e aos demais candidatos, vistos todos como representantes dos setores mais conservadores e elitistas da sociedade, Luiza Erundina foi crescendo aos poucos na eleição, beneficiada pela insatisfação generalizada da sociedade com o poder público, pela, à época, diferenciada proposta representada pelo PT, pela alta rejeição a Maluf e pelo baixo cacife eleitoral de Leiva, tido por muitos como um candidato-fantoche. Durante o processo, Erundina ainda agregou o apoio de demais siglas de esquerda, como o PDT e o PCdoB, chegando, na penúltima semana do pleito (na época não havia segundo turno), em situação de empate técnico com Leiva e atrás de Maluf.
A greve na Companhia Siderúrgica Nacional em Volta Redonda, ocorrida nas proximidades da eleição e que terminou com a morte de três operários devido à truculenta ação do Exército, ajudou a opinião pública a se sensibilizar acerca das reivindicações do movimento sindicalista e a rejeitar ainda mais o poder constituído de então. Alguns analistas políticos consideram que a repercussão da greve ajudou na vitória de Erundina em 15 de novembro de 1988, com 33% dos votos válidos, ante 24% de Maluf e 14% de Leiva, desmentindo as pesquisas dos dias anteriores, que davam vitória a Maluf. O próprio candidato do PDS, quando informado da vitória da petista por um jornalista da Rádio Jovem Pan, chegou a declarar que contestaria o resultado da eleição junto ao TRE. Contudo, tal intenção não foi concretizada. Após a totalização dos votos, descobriu-se que a Rede Globo não divulgou uma pesquisa do Ibope, concluída na véspera do dia da votação, que já indicava a vitória de Erundina. As circunstâncias da eleição de Erundina para a prefeitura da maior cidade do país causaram grande impacto, sobretudo pelo alto grau de surpresa, pelo próprio perfil pessoal da nova prefeita (solteira, migrante nordestina e ativa militante de esquerda) e pela significativa mudança em relação ao sistema administrativo outrora constituído.
Trajetória política
Prefeitura de São Paulo
Luiza Erundina foi prefeita do município de São Paulo entre 1989 e 1993, eleita pelo PT.
Na sua gestão elaborou ações importantes nas áreas de educação (os responsáveis pela pasta eram os educadores Paulo Freire e, depois, Mário Sérgio Cortella, reconhecidos internacionalmente) e saúde, como o aumento do salário e da capacitação dos professores da rede municipal, a melhoria na distribuição e qualidade da merenda escolar, a criação dos MOVAs (Movimentos de Alfabetização, centros de alfabetização e instrução de adultos) e a implantação de serviços de fonoaudiologia e neurologia, entre outros, nos postos da cidade, além do desenvolvimento de políticas sociais mais voltadas para a periferia.
A gestão de Erundina colocou a problemática habitacional como prioridade ao apoiar a implantação habitação de interesse social por mutirão autogerido, o que ajudou a diminuir o déficit habitacional no município. A prática do mutirão foi descontinuada por seus sucessores, como Paulo Maluf, os quais priorizaram a construção de edifícios de apartamentos por métodos convencionais, visto que os mutirões proporcionavam um certo nível de organização política aos envolvidos, assim como possibilitavam sua mobilização com relação ao atendimento de suas demandas, o que não ocorria nos projetos habitacionais de Maluf e dos demais prefeitos.
No setor de esportes, junto a seu secretário Juarez Soares, conseguiu trazer de volta a Fórmula 1 para a cidade, abrigando-a no circuito de Interlagos. Na área da cultura (comandada pela filósofa Marilena Chauí) foi responsável pela construção do Sambódromo do Anhembi e pela restauração das grandes bibliotecas do centro da cidade, como a Biblioteca Mário de Andrade. Também sancionou a lei de incentivo fiscal à cultura do município, a Lei Mendonça. Nos transportes públicos investiu na modernização da frota da CMTC e incentivou as empresas particulares a fazerem o mesmo, principalmente através de subsídios governamentais às tarifas. No transporte individual, Erundina foi bastante criticada por não ter dado continuidade em algumas obras viárias de seu antecessor Jânio Quadros, como os túneis sob o Rio Pinheiros e o Lago do Parque do Ibirapuera, empreitadas que foram retomadas por Paulo Maluf.
O ponto mais polêmico de sua gestão foi a tentativa de mudança nas regras da cobrança do IPTU, naquilo que se chamou de "IPTU progressivo": pelo projeto, apresentado em 1992 (último ano de sua gestão), proprietários de imóveis de maior valor teriam um aumento no imposto (ao mesmo tempo em que outros imóveis, isentos da cobrança, voltariam a contribuir), ao passo que imóveis menores teriam os custos diminuídos até a isenção. Tal medida foi duramente rechaçada pela Câmara dos Vereadores (de maioria oposicionista) e por setores da imprensa, até ser derrubada pelo Supremo Tribunal Federal, que considerou a iniciativa da prefeitura inconstitucional. Pela campanha deflagrada contra a atitude da prefeita e pela mesma potencialmente também atingir alguns setores da classe média, a administração de Luiza Erundina sofreu uma sensível queda em sua popularidade.
Durante seu período na prefeitura foi considerada uma das principais lideranças de esquerda no país, mas não conseguiu constituir um sucessor. O candidato de seu partido, Eduardo Suplicy, perdeu as eleições de 1992 para Paulo Maluf. Em 1996, 2000 e 2004, Erundina candidatou-se novamente ao cargo de prefeita, sem obter sucesso em nenhuma delas (apesar de ter disputado o segundo turno em 1996).
Ministra da Administração Federal
Com o advento do impeachment do presidente Fernando Collor, em 1993, logo após dar posse a Paulo Maluf na prefeitura de São Paulo, Luiza Erundina seria convidada, pelo vice de Collor e seu sucessor Itamar Franco (1992-1994), a se tornar ministra-chefe da Secretaria da Administração Federal, dentro dos esforços de Itamar Franco em constituir um governo de coalizão política (coalizão à época chamada de "política de entendimento nacional"), abrigando no primeiro escalão políticos e lideranças de diferentes correntes. Por ter aceitado o cargo, contrariando a orientação do partido, o Diretório Nacional do PT decidiu suspender, por um ano, todos os seus direitos e deveres partidários. Na ocasião, segundo uma nota divulgada pelo PT, a deputada teria rompido com a disciplina partidária, ao não consultar a legenda sobre o assunto, e ao desrespeitar a decisão do partido de fazer oposição a Itamar. Dessa maneira, em 1997 (mesmo após se candidatar pelo partido à prefeitura de São Paulo no ano anterior e ao Senado Federal em 1994), depois de 17 anos de militância, ela sairia do PT, posto que o episódio constituiu um desgaste progressivo seu com as demais lideranças da legenda. Em maio de 1993 deixou a Secretaria da Administração Federal principalmente devido a divergências com o Ministro da Casa Civil, Henrique Hargreaves, sendo substituida pelo general-de-brigada Romildo Canhim.
Saída do PT e entrada no PSB
Em 1998, Erundina transfere-se para o Partido Socialista Brasileiro (PSB); nesse ano, se elege deputada federal para a legislatura 1999-2003. No ano 2000, ela se candidata novamente à Prefeitura de São Paulo, mas perde a eleição para Marta Suplicy (PT). Em contrapartida, é reeleita deputada federal em 2002, para a legislatura 2003-2007, apoiando a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República.
Deputada federal
Em 1994 foi candidata ao Senado ficando em 3º lugar com mais de 4 milhões de votos, sendo derrotada por José Serra (PSDB) e Romeu Tuma (PL). Perdeu a eleição municipal de 1996 no segundo turno para Celso Pitta e, após uma série de desentendimentos com o partido, deixou o PT para filiar-se ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), representando por esse partido, a partir de 1999, o estado de São Paulo no Congresso Nacional em Brasília, como deputada federal.
Em 2002 e em 2006 foi novamente eleita para o posto. Nessas últimas eleições conseguiu obter expressiva votação, ficando entre os quinze parlamentares mais bem votados do estado. Em 2006, quando se reelege, faz oposição ao governo Lula.
Ainda em 2006, Erundina protestou contra o aumento de 91% nos salários dos parlamentares.
Em 2008 foi convidada para ser a vice na chapa encabeçada por Marta Suplicy à prefeitura de São Paulo, o que era de seu interesse, mas não de seu atual partido. O vice da campanha de Marta acabou sendo Aldo Rebelo do PC do B, apesar de o PSB ter decidido apoiar Marta.
Nas eleições de 2010, discorda do apoio de seu partido ao empresário Paulo Skaf para a disputa do governo de São Paulo e consegue, mais uma vez, se eleger para o Congresso Nacional, conquistando assim o quarto mandato seguido como deputada federal, sendo a décima mais votada do estado com 214.144 (1%), à frente de políticos como Arlindo Chinaglia, Márcio França, José Aníbal.
Candidatura a vice-prefeita de São Paulo
Luiza Erundina em anuncio para ocupar o cargo de vice-prefeita na campanha de Fernando Haddad para prefeito de São Paulo.
Em junho de 2012, tornou-se pré-candidata a vice-prefeita de São Paulo na chapa de Fernando Haddad (PT), composição muito celebrada pelo próprio PT por considerar que o nome de Luiza Erundina impulsionaria a campanha, já que Haddad, apesar de ter sido Ministro da Educação de Lula e Dilma Rousseff por mais de 6 anos, ainda era um nome pouco conhecido pela população como um todo. Entretanto, após a aliança do PT com Paulo Maluf e seu Partido Progressista também para a candidatura Haddad, firmada até mesmo com uma visita do ex-presidente Lula à residência de Maluf (em um ato político amplamente divulgado pela imprensa), Erundina anuncia seu declínio à candidatura. É substituída por Nádia Campeão, do Partido Comunista do Brasil. Contudo, Luiza Erundina continua a apoiar o nome de Fernando Haddad nas eleições, que se converteria no vencedor do pleito.
RAiZ - Movimento Cidadanista[editar | editar código-fonte]
Em 22 de janeiro de 2016,a deputada lança em Porto Alegre no Fórum Social Temático, um novo partido, o RAiZ - Movimento Cidadanista. O RAiZ tem com base os princípios do ecossocialismo, ubuntu e teko porã, e se inspira nas novas experiências dos círculos cidadanistas e de partidos-movimentos como o espanhol Podemos (Espanha).
Saída do PSB e entrada no PSOL[editar | editar código-fonte]
Em março de 2016, após 19 anos Erundina deixa o Partido Socialista Brasileiro (PSB), por esse apoiar o impeachment da presidente Dilma Roussef, e transfere-se, no período da janela partidária sem perda de mandato, ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) numa filiação transitória, até que a RAiZ - Movimento Cidadanista obtenha registro definitivo.
Candidata do PSOL, a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP) concorreu à presidencia da Câmara dos deputados do Brasil, na votação de 13 de julho de 2016, em substituição a Eduardo Cunha, que havia renunciado uma semana antes por conta das denúncias que lhe eram feitas acerca do escândalo da Lava Jato. Erundina afirmou que a eleição da Câmara é uma oportunidade de “renovação” e afirmou que é chegado o momento de uma mulher assumir o comando da Casa. A deputada foi a 9ª a registrar candidatura à presidência da Câmara após a renúncia do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) do cargo de presidente. Ela também prometeu “radical mudança”, se assumir o posto, e criticou o processo de impeachment da então presidenta Dilma Rousseff. Erundina criticou os retrocessos do Governo Temer e as manobras de Eduardo Cunha. Há apenas 2 projetos em disputa: "a manutenção de uma Câmara desmoralizada, manobrada pelo fantasma de Eduardo Cunha, e do outro lado aqueles que lutaram pelo afastamento de Cunha"; em seu discurso, ela ressaltou que é necessário uma nova Câmara a um novo tempo e defendeu a eleição de uma mulher ao cargo: “essa eleição é uma oportunidade para a Câmara pagar uma dívida histórica com as mulheres. Nenhuma mulher ocupou a presidência desta Casa, e poucas foram eleitas para cargos de titular da Mesa Diretora. Isso se deve à sub-representação feminina dos espaços de poder, inclusive do Parlamento”, disse. A candidata disse que é preciso discutir questões que são de “real interesse do País”, como a reforma política, a reforma tributária, a regulamentação dos dispositivos constitucionais sobre comunicação social, a reforma agrária e urbana. Quanto ao andamento dos trabalhos, prometeu fortalecer o trabalho das comissões e a participação do Colégio de Líderes. Para além dos 6 representantes de seu partido na Câmara, Erundina recebeu 22 votos nominais. Deputada há 5 mandatos, Erundina é suplente da atual Mesa Diretora. No momento em que Erundina fazia seu pronunciamento de candidatura, a hashtag #ErundinaEntraCunhaSai foi o assunto mais comentado do Twitter, mundialmente.
Candidatura à Prefeitura de São Paulo em 2016
Em outubro de 2016 foi candidata pela quinta vez à Prefeitura de São Paulo, desta vez pelo PSOL, tendo Ivan Valente como candidato a vice-prefeito. O PSOL quis evitar as primárias fazendo a decisão da escolha por um consenso. As movimentações pré-campanha ocorrem num contexto de crise política envolvendo um pedido de impeachment do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, do PT.
Em 24 de julho, o PSOL oficializou a candidatura de Luiza Erundina ao cargo de prefeita de São Paulo, com Ivan Valente como vice. Durante o evento, foi revelada a primeira aliança da chapa: o PCB formando a coligação "Os Sonhos Podem Governar". Em 30 de julho, houve o anúncio da segunda aliança: o PPL.
Com informações da Wikypedia
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quinta-feira, 29 de novembro de 2018

CASSAÇÃO DO DIPLOMA

Do Congresso em Foco
A Procuradoria Regional Eleitoral do Paraná (PRE-PR) pediu à Justiça Eleitoral, nesta quinta-feira (29), a cassação do diploma (que será expedido no próximo dia 18) e a inelegibilidade por oito anos do deputado federal Fernando Francischini (PSL-PR). Um dos principais aliados de Jair Bolsonaro (PSL) na Câmara, Francischini é alvo de uma ação de investigação judicial (aije) que o acusa de ter impulsionado a própria candidatura com base em notícias falsas que questionaram a lisura do processo eleitoral.
Membro da chamada "bancada da bala", Francischini foi eleito deputado estadual no último mês de outubro. Ele foi o mais votado no Paraná – teve apoio de 427.627 eleitores – e ajudou no desempenho do PSL no estado.
"O uso abusivo dos meios de comunicação, no caso a internet, para divulgação de notícias falsas e sabidamente inverídicas relativas a “fraudes” em urnas eletrônicas, certamente foi capaz de prejudicar a livre manifestação da vontade política popular, demonstrando a potencialidade de as condutas ilegais beneficiarem candidato – o próprio Francischini, bem como seu partido político – PSL", afirma um trecho do documento de 20 páginas, assinado pela procuradora Eloisa Helena Machado.
Congresso em Foco procurou Francischini para comentar o processo, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem.
Fake news
Em uma live em seu Facebook oficial no dia 7 de outubro, data do primeiro turno das eleições, Francischini fez uma live afirmando que advogados do PSL teriam descoberto duas urnas "fraudadas ou adulteradas" no Paraná.
O vídeo continua disponível na rede social do parlamentar. Até esta quinta (29), havia mais de 315 mil curtidas e mais de 410 mil compartilhamentos do conteúdo.
"Nós estamos estourando isso aqui em primeira mão pro Brasil inteiro para vocês. Urnas ou são adulteradas ou fraudadas. Com a ajuda do juiz eleitoral e do promotor eleitoral. A gente tá trazendo essa denúncia gravíssima antes do final", afirma no vídeo.
Segundo Francischini, os equipamentos não teriam permitido que eleitores votassem em Bolsonaro ao apertarem o número 17, o que ele classificou como um "cambalacho" para prejudicar o então candidato à presidência da República.
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A TRAJETÓRIA POLÍTICA DE PEZÃO

Do UOL
Foi em 2006, ano das eleições para governador, que Luiz Fernando de Souza, mais conhecido como Pezão, foi escolhido pelo então PMDB para disputar o Executivo do Rio de Janeiro ao lado do então senador Sérgio Cabral. A decisão  alavancou a carreira política de Pezão --em seu currículo, ele acumulava o cargo de subsecretário de Governo na gestão de Rosinha Mateus, em 2005, além de dois mandatos de prefeito e dois de vereador de Piraí, sua cidade natal.
 A dupla Cabral e Pezão escolhida para disputar o governo do Rio foi eleita em segundo turno, com 68% dos votos, e reeleita em 2010, no primeiro turno, com 66% dos votos --resultado da instalação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) no estado.
Na ocasião, o Rio entrava no ciclo de investimentos para sediar a final da Copa do Mundo (2014) e realizar a Olimpíada (2016). Pezão ganhou destaque, sendo reconhecido como braço direito de Cabral e acumulando, além do cargo de vice-governador, a Secretaria de Obras --nesta pasta, ele coordenou obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e do Arco Metropolitano (autoestrada no entorno da região metropolitana), além da recuperação da região  serrana, devastada pelas chuvas de janeiro de 2011.
Pezão se elegeu governador fluminense em 2014 --no mesmo ano, assumiu o cargo por oito meses devido à saída de Cabral, que começava a ter a imagem desgastada devido a irregularidades.
Pezão foi eleito tendo Francisco Dornelles (PTB) como vice. Após a prisão preventiva (por período indeterminado) do governador nesta quinta-feira (29), Dornelles assume o comando do governo do Rio. A dupla foi eleita no segundo turno com 4.343.298 votos --900,5 mil votos a mais do que Marcelo Crivella (PRB), hoje prefeito do Rio--, 55,78% dos votos válidos na ocasião.
 Ele foi reeleito já com o estado dando sinais da pior crise econômica da histórica do Rio. Em 2016, as contas públicas entraram em colapso e o governador ainda precisou se ausentar por sete meses para combater um câncer.
Crise nas finanças e linfoma Não-Hodgkin
Em março daquele ano, Pezão foi diagnosticado com linfoma Não-Hodgkin, um tipo de câncer que ocupa a 11ª posição entre os tipos mais frequentes da doença, excluindo o câncer de pele não melanoma.
A doença é provocada pela multiplicação descontrolada de versões defeituosas dos chamados linfócitos T. Essas células do sangue estão entre as que fazem parte do sistema de defesa do organismo, sendo responsáveis tanto por liberar substâncias que matam células infectadas por vírus ou outros agentes causadores de doenças.
Pezão passou por seis ciclos de quimioterapia e precisou se afastar por sete meses do Palácio Guanabara, a sede do governo do Rio.
Durante a ausência de Pezão, Dornelles decretou estado de calamidade pública do Rio a 49 dias do início da Olimpíada. A crise financeira do estado levou ao aumento do desemprego, atraso no pagamento dos servidores estaduais e de empresas terceirizadas, além de bloqueios de contas públicas.
Paralelamente, os índices de criminalidade voltaram a crescer. Viaturas da polícia chegaram a ficar sem combustível para rodar, e o atendimento nos hospitais públicos cada vez mais precário.
Pezão trabalhou para a assinatura com o governo federal em 2017 do acordo de recuperação fiscal --o regime suspendeu o pagamento da dívida do estado com a União por três anos, aliviando o fluxo de caixa e permitindo o pagamento dos salários atrasados.
Acusações e irregularidades
Além de problemas na economia, o governador enfrentou uma série de denúncias de corrupção e viu, em novembro de 2016, a prisão de seu principal aliado, o ex-governador Cabral --condenado na Lava Jato a mais de 180 anos de prisão.
Em 2015, ao lado de Cabral, Pezão foi alvo de inquérito no STJ (Supremo Tribunal de Justiça) por suspeita de envolvimento em esquema de corrupção na Petrobras. O doleiro Alberto Youseff afirmou que a campanha à reeleição dos dois recebeu R$ 30 milhões desviados de obras da estatal.
O nome de Pezão foi citado ainda em outras irregularidades: em abril de 2017, dois executivos da Odebrecht o acusaram de receber dinheiro em espécie e também em contas no exterior. O valor não foi informado.
Ele foi mencionado ainda em esquema de corrupção no TCE (Tribunal de Contas do Estado). O delator Jonas Lopes Neto, filho de Jonas Lopes de Carvalho, ex-presidente do TCE, disse em delação que arrecadou R$ 900 mil para pagar despesas pessoais de Pezão. Os recursos eram provenientes de empresas de alimentação que tinham contrato com o estado.
O governador também é suspeito de receber propina da Fetranspor, grupo composto por empresas de transporte público. Um funcionário do doleiro Álvaro Novis afirmou que pagou propina no valor de R$ 4,8 milhões ao governador. Edimar  Dantas contou que foram cinco pagamentos em 2014 e 2015.
Carlos Miranda, apontado como operador do esquema de corrupção de Sérgio Cabral, também disse que Pezão foi beneficiado com mesadas no valor de R$ 150 mil durante sete anos.
Em todas as ocasiões, o governador negou as acusações.
Intervenção federal na segurança
Diante da escalada da criminalidade, o governador pediu ao presidente Michel Temer (MDB) a adoção de uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem) ampliada no Rio, quando forças militares passam a exercer poder de polícia.
Em fevereiro, Temer decretou intervenção na segurança pública do estado --com isso, o comando da segurança pública passou a ser realizado pelas Forças Armadas, retirando do estado a autonomia sobre as decisões na área e evidenciando um governador politicamente enfraquecido.
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ABERTURA DE INVESTIGAÇÃO

Do O GLOBO
BRASÍLIA – A Procuradoria-Geral da República ( PGR ) pediu ao Supremo Tribunal Federal ( STF ) a abertura de uma investigação preliminar, anterior ainda à fase de inquérito, para apurar suspeitas de pagamento via caixa dois do grupo J&F, dono da JBS, para o deputadoOnyx Lorenzoni (DEM-RS), futuro chefe da Casa Civil do governo do presidente eleito Jair Bolsonaro.
Em manifestação enviada na semana passada ao ministro Edson Fachin, relator da delação no STF, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, solicitou uma série de investigações preliminares com base em tabela de pagamentos de caixa dois entregue pelos delatores da J&F. Dentre os casos estão dois repasses a Onyx, um de R$ 100 mil, em 2014, e outro de R$ 100 mil, em 2012. O primeiro já foi admitido pelo futuro ministro, mas ele nega o recebimento de 2012. Dodge solicitou que seja aberta no STF uma “petição autônoma” envolvendo os dois fatos. Após uma análise preliminar, caso a PGR considere que há elementos para prosseguir com uma investigação, ela pode pedir a abertura de um inquérito contra Onyx ou arquivar a petição se considerar as provas insuficientes.
“Verificou-se, como consta nas planilhas do ‘item 2’ acima, situações em que o recebimento de dinheiro de forma dissimulada ocorreu no curso do mandato parlamentar por agentes políticos que ainda são detentores de foro no STF, fazendo-se necessária a autuação de petições autônomas para adoção de providências em relação a cada autoridade envolvida”, justificou Dodge.
A PGR também solicitou a abertura de petições autônomas no STF para verificar os casos de caixa dois da J&F aos seguintes políticos, que mantiveram foro privilegiado: deputado Paulo Teixeira (PT-SP), senador Ciro Nogueira (PP-PI), senador Renan Calheiros (MDB-AL), deputado Alceu Moreira (MDB-RS), deputado Jerônimo Goergen (PP-RS), deputado Zé Silva (SD-MG), deputado Marcelo Castro (MDB-PI), senador Wellington Fagundes (PR-MT), senador Eduardo Braga (MDB-AM).
Dodge afirma ao STF que, após a abertura dessas petições, fará uma nova análise dos autos para determinar a remessa à primeira instância dos casos envolvendo os políticos não eleitos neste ano e que, por isso, perderam o foro privilegiado. Após essa análise, ela pedirá novos desmembramentos da investigação baseada na delação da J&F.
Procurada, a assessoria de Onyx afirmou que ele já se pronunciou sobre os fatos. Em relação aos supostos repasses de 2012, o parlamentar afirmou que não foi candidato naquele ano. Sobre 2014, disse que recebeu o repasse por intermédio de outra empresa sem saber inicialmente que a verba vinha da J&F, mas que posteriormente reconheceu o erro.
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ATRÁS DAS GRADES

Do G1

A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira (29) Luiz Fernando Pezão (MDB), governador do Rio de Janeiro. A força-tarefa da Lava Jato deu voz de prisão contra o político por volta das 6h no Palácio Laranjeiras, residência oficial do chefe do estado.
Batizada de Boca de Lobo, a operação é baseada na delação premiada de Carlos Miranda, operador financeiro de Sérgio Cabral. O ex-governador, de quem Pezão foi vice, também está preso.
Comboio da Polícia Federal deixou o palácio com o governador preso às 7h35. Ele chegou à Superintendência da PF, na Praça Mauá, às 7h52.
Segundo o Ministério Público Federal, Pezão opera esquema de corrupção próprio, com seus próprios operadores financeiros. Há provas documentais do pagamento em espécie a Pezão de quase R$ 40 milhões, em valores de hoje, entre 2007 e 2015.
Na avaliação da força-tarefa da Lava Jato, solto, o governador poderia dificultar ainda mais a recuperação dos valores, além de dissipar o patrimônio adquirido em decorrência da prática criminosa. Segundo o MPF, o esquema de corrupção ainda estava ativo.
A assessoria do governo do estado afirmou que não vai se pronunciar. Com a prisão de Pezão, assume automaticamente Francisco Dornelles, seu vice.
Resumo
  • A prisão preventiva foi determinada pelo STJ;
  • São nove mandados de prisão, incluindo a de Pezão, e 30 de busca e apreensão;
  • A decisão foi baseada em delação de Carlos Miranda, operador financeiro de Cabral;
  • A Justiça determinou o bloqueio de R$ 39 milhões em bens;
  • São investigados os crimes de lavagem de dinheiro, organização criminosa e corrupção ativa e passiva.
  • Pezão é o quarto governador do Rio a ser preso.
Os nove presos
  1. Luiz Fernando Pezão, governador do Estado do Rio de Janeiro
  2. José Iran Peixoto Júnior, secretário de Obras de Pezão
  3. Affonso Henriques Monnerat Alves da Cruz, secretário de Governo de Pezão
  4. Luiz Carlos Vidal Barroso, servidor da Casa Civil e Desenvolvimento Econômico
  5. Marcelo Santos Amorim, sobrinho do governador
  6. Cláudio Fernandes Vidal, sócio da JRO Pavimentação
  7. Luiz Alberto Gomes Gonçalves, sócio da JRO Pavimentação
  8. Luis Fernando Craveiro de Amorim, sócio da High Control Luis
  9. César Augusto Craveiro de Amorim, sócio da High Control Luis

A Polícia Federal cumpre ainda 30 mandados de busca e apreensão. Um deles é na casa de Pezão em Piraí, no Sul do estado, base do governador.
Há equipes também no Palácio Guanabara, sede do governo, em Laranjeiras. Motoristas que passavam em frente, na Rua Pinheiro Machado, buzinavam, em sinal de comemoração.
A ordem de prisão preventiva foi expedida pelo ministro Felix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde governadores têm foro.
Atualmente, dos três poderes do Estado do Rio, estão presos o governador e o ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Picciani.
Boca de Lobo
Carlos Miranda detalhou o pagamento de mesada de R$ 150 mil para Pezão na época em que ele era vice do então governador Sérgio Cabral. Também houve, segundo a delação, pagamento de 13º de propina e ainda dois bônus de R$ 1 milhão como prêmio.
Segundo o depoimento à Justiça, o "homem da mala" do ex-governador Sérgio Cabral disse que o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, guardou R$ 1 milhão em propina com um empresário do Sul Fluminense.
O nome da operação faz alusão aos desvios de recursos, revelados nas diversas fases da Operação Lava Jato, que causa a sensação na sociedade de que o dinheiro público vem escorrendo para o esgoto.
Boca de Lobo é o dispositivo instalados em vias públicas para receber o escoamento das águas da chuva drenadas pelas sarjetas com destino às galerias pluviais.
O trecho da delação, homologada pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, foi revelado pelo jornal O Globo em abril.
O dinheiro vinha de empreiteiras e fornecedoras que tinham contrato com o governo do estado, afirmou o delator. Miranda acrescentou ainda que, de 2007 a 2014, Pezão, na época vice-governador, também ganhou um 13º salário, além de dois bônus, de R$ 1 milhão cada.
Com a prisão de Luiz Fernando Pezão nesta quarta-feira (29), quatro dos últimos cinco governadores eleitos do Rio de Janeiro estão ou já foram presosSérgio CabralAnthony Garotinho e Rosinha Matheusforam presos quando já não eram mais governadores do RJ. A exceção é Wilson Witzel, que toma posse em 1º de janeiro de 2019.
Nas duas ocasiões, o governador negou as acusações. Sobre a mesada, Pezão disse que "as afirmações eram absurdas e sem propósito". "O governaor afirma que jamais recebeu recursos ilícitos e já teve sua vida amplamente investigada pela Polícia Federal", disse a nota.
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terça-feira, 27 de novembro de 2018

OPOSIÇÃO À OPOSIÇÃO

Artigo de Cristovam Buarque, O GLOBO
O novo governo ainda não tomou posse, e os derrotados tentam se aglutinar para ganhar a próxima eleição, em 2022. Não percebem que, mais do que Bolsonaro vencer a eleição de 2018, a população brasileira disse “não” aos que agora defendem unidade dos derrotados. Querem ganhar o próximo pleito com a mesma postura que apresentaram, com o mesmo discurso e a mesma falta de sintonia com o futuro.
O povo disse não a essas siglas que tentam se aglutinar sem fazer autocrítica, sem entender onde erraram, sem formular alternativas. Parecem acreditar que foi o povo quem errou, escolhendo outro candidato, e propor uma nova chance aos eleitores para acertarem em 2022. Dizem que o único errado é o PT, do qual agora se afastam depois de terem bajulado Lula ao longo de anos. Esquecem que, no primeiro turno, o PT teve mais votos que todos os candidatos das siglas que agora se dizem da esquerda não petista. E insistem na esquerda em nada diferente do que o eleitor repudiou em outubro. Não percebem o apego do povo ao país e seus símbolos, continuam falando para as comparações, de empresários e de trabalhadores, cujas reivindicações asfixiam as finanças públicas. Não entenderam o esgotamento gerencial e fiscal do Estado, nem assumem compromissos com responsabilidade fiscal e estabilidade monetária.
Se quiserem fazer oposição pelo bem do Brasil, esses partidos e líderes precisam começar a fazer oposição a si próprios: entender onde estão errando há décadas, formular uma proposta para o futuro do Brasil, definir como dar coesão e rumo ao país e a sua sociedade, dividida socialmente e improdutiva economicamente. Dizer em que esse caminho é antagônico ao do PT e ao do Bolsonaro e, por isso, oposição aos dois.
A primeira autocrítica seria à política do compadrio de siglas com propósito eleitoreiro, como tentaram durante os dois meses que antecederam o pleito e tentam agora olhando 2022. A segunda é entender que perderam sintonia com os rumos da história; perceber as revoluções que ocorreram no mundo: a globalização e as amarras que provocam na economia nacional; a informática, a robotização e o desemprego estrutural consequente; os limites ecológicos ao crescimento; o aburguesamento dos movimentos sindicais e a miopia e oportunismo dos movimentos sociais; a importância da educação de qualidade igual para todos como o vetor do progresso econômico e social. A terceira é perceber que não se constrói justiça social sobre economia ineficiente; por isso, é preciso respeitar os limites orçamentários, despolitizar regras da economia, zelar pela estabilidade monetária, reconhecer o papel do livre-comércio e a necessidade de reformas que desamarrem o Brasil. Concentrar os propósitos revolucionários na garantia de escola com qualidade igual para todos: os filhos dos trabalhadores na mesma escola que os filhos dos patrões.
Uma oposição consequente deve começar pela autocrítica de seus erros, reconhecendo não ter oferecido uma alternativa progressista e sintonizada com o espírito de nossos tempos. Cada democrata-progressista deve fazer oposição ao que Bolsonaro representar de retrocesso, mas isso não basta: é preciso avançar dizendo que rumo pode oferecer para um Brasil eficiente, justo, sustentável, livre.
Antes de fazer oposição aos vitoriosos, a “exquerda” nostálgica que tenta se aglutinar precisa fazer frente a seu próprio passado derrotado, não apenas por Bolsonaro, mas pela história. Sem isso, chegará em 2022 outra vez sem propostas para o futuro ou dizendo que seu projeto é apenas ser contra o novo governo e o PT ao qual serviram até ontem.
Engenheiro, doutor em Economia, foi Reitor da Universidade de Brasília, governador do Distrito Federal, ministro da Educação, atualmente é Senador da República (PPS-DF)
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INCERTEZAS A DISTÂNCIA

Da Folha de S.Paulo
O Ministério da Educação homologou neste novembro um conjunto de normas que regulamentam pontos da reforma do ensino médio aprovada no ano passado.
Consta, dentre os tópicos ratificados pelo MEC, as regras que irão nortear o aprendizado a distância —uma das novidades instituídas pela lei de 2017. Definiu-se que poderão ser cumpridos fora da sala de aula até 20% da carga horária do ensino médio diurno, 30% do noturno e 80% do EJA (Ensino de Jovens e Adultos).
Cabe agora aos conselhos estaduais de educação determinar como tais diretrizes serão aplicadas nas unidades da Federação.
Tal procedimento terá grande importância, pois, a depender de como for implementada, a proposta tem potencial para aprofundar, em vez de mitigar, deficiências do ensino médio —vale lembrar, a etapa com o pior desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica e a maior taxa de evasão.
O principal problema do documento reside na maneira como é definido o ensino a distância: este, afirma o texto, poderá ocorrer por meios digitais ou não.
Na prática, isso abre brecha para que atividades tão díspares como ações comunitárias, excursões, trabalhos escolares, feiras de ciências e campeonatos esportivos, entre outras, terminem sendo utilizadas por escolas para completar a carga horária obrigatória.
Surge, assim, a possibilidade de que os alunos percam parte não desprezível do já diminuto tempo dentro de sala de aula —e, mais grave, de modo a mascarar mazelas como a falta de professores.
Hoje, no Brasil, a carga horária do ensino médio é de 800 horas (ou quatro horas/dia), devendo chegar a mil (ou cinco horas/dia) em 2022. Nos países mais desenvolvidos (da OCDE), o período é de no mínimo 6 horas; em algumas nações asiáticas, chega-se a mais de 10.
Estudos brasileiros e internacionais já mostraram que mais tempo na escola implica melhor desempenho dos estudantes em exames.
Mesmo que o ensino a distância se restringisse a meios digitais, contudo, há dúvidas quanto ao alcance de sua utilização na educação básica —embora constitua, decerto, uma opção de grande valia em locais de difícil acesso.
Não parecem claras, acrescente-se, as evidências empíricas nas quais o MEC se apoia para a definição da norma recente.
Diante de tantas incertezas, o mais adequado é que os conselhos estaduais de educação ajam com cautela, garantindo, por exemplo, que conteúdos fundamentais, como português e matemática, continuem sendo ministrados apenas de maneira presencial.
Ademais, esses órgãos deveriam zelar para que os tópicos a serem ensinados a distância contem com modelos pedagógicos específicos, bem como professores preparados para atuar nessa modalidade.
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segunda-feira, 26 de novembro de 2018

MORRE JOEL RUFINO DOS SANTOS

Do O GLOBO
RIO - Detentor de três prêmios Jabuti e autor de mais de 50 livros, o escritor e historiador Joel Rufino dos Santos era um nome de referência em cultura afro-brasileira. O pensador enveredou também pela dramaturgia ao longo de sua prolífica carreira. Levam sua assinatura três peças teatrais e duas minisséries para a TV. O Tribunal de Justiça de Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) comunicou, nesta sexta-feira, conforme noticiou o blog do colunista Ancelmo Gois , o falecimento de Rufino dos Santos, que era também diretor-geral de Comunicação e de Difusão do Conhecimento (DGCOM). O historiador morreu, aos 73 anos, em decorrência das complicações de uma cirurgia cardíaca realizada no dia 1º de setembro. O corpo de Joel Rufino será cremado ainda nesta sexta-feira em cerimônia reservada a parentes.
Rufino dos Santos deixa a esposa Teresa Garbayo dos Santos, os filhos Nelson e Juliana e os netos Eduardo, Raphael, Isabel e Victoria.
O babalaô Ivanir dos Santos, interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, ressaltou que o professor professor Rufino dos Santos foi fundamental para a luta contra o racismo e por uma representatividade maior da cultura negra no Brasil.
— Joel foi um grande intelectual que lutou pela redemocratização, durante a ditadura militar, e foi importantíssimo na agenda do movimento negro brasileiro. Ele deu uma contribuição inestimável à militância e à academia — lembrou o babalaô. — Os jovens que estão, agora, na universidade, pesquisando a pauta negra, têm que se inspirar nele. Ele também levou, de forma pedagógica, as questões do racismo e do preconceito às crianças, por meio de seus livros.
O presidente do TJRJ, desembargador Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho, lamentou a morte do profissional exemplar e amigo em uma nota.
“É uma grande perda para o Tribunal de Justiça, para os meios intelectuais e professores. Uma alma generosa. Que ele descanse em paz. Vamos guardar do professor os melhores exemplos. A nós, Joel Rufino vai deixar a semente do seu exemplo, de um homem dedicado ao humanismo e a causa pública”, declarou Ribeiro de Carvalho, ressaltando que, à frente da DGCOM desde fevereiro deste ano, Rufino dos Santos promoveu iniciativas inovadoras vinculadas à causa pública e à cidadania, entre elas, o desenforcamento de Tiradentes e a realização de um baile charme no próprio tribunal.
 Coordenador do Laboratório de Análises Econômicas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (LAESER), Marcelo Paixão também disse que recebeu com muita tristeza a notícia.
“Sua luta, suas reflexões, sua trajetória serão uma eterna fonte de sabedoria e inspiração para todos e todas que lutam contra o racismo e pela causa da igualdade racial. Descanse em paz, professor. Aprendemos vossas lições e saberemos honrar sua luta!”, escreveu o economista.
Filho de pernambucanos, Rufino dos Santos nasceu no ano de 1941 em Cascadura, bairro da Zona Norte, onde cresceu apreciando a leitura de histórias em quadrinhos. Referência na literatura sobre a cultura africana no país, ele escrevia desde criança, mas só teve seu primeiro livro publicado em 1963. Ainda jovem entrou para o curso de História da antiga Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, onde começou a sua carreira de professor, dando aula no cursinho pré-vestibular do grêmio da faculdade.
Convidado pelo historiador Nelson Werneck Sodré para ser seu assistente no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), lá conviveu com grandes pensadores, e foi um dos co-autores da História Nova do Brasil, um marco da historiografia brasileira. Com o golpe de 1964, Rufino dos Santos, por sua militância política, precisou sair do Brasil, asilando-se na Bolívia, depois no Chile. Com o exílio, não só interrompeu a sua vida acadêmica, como também não participou do nascimento do seu primeiro filho, que se chama Nelson em homenagem ao seu mestre e amigo.
Voltando ao Brasil, viveu semi-clandestino, e foi preso três vezes. Na última , cumpriu pena no Presídio do Hipódromo, de 1972 a 1974. As cartas, muitas, que escreveu para Nelson, foram, mais tarde, publicadas no livro “Quando eu voltei, tive uma surpresa”, ganhador do Prêmio Orígenes Lessa, em 2000, para jovens leitores.
Com a aprovação da Lei da Anistia, foi re-integrado ao Ministério da Educação e convidado a dar aulas na graduação da Faculdade de Letras e posteriormente na pós-graduação da Escola de Comunicação, UFRJ. Obteve, da Universidade, os títulos de notório saber e alta qualificação em História e de doutor em Comunicação e Cultura. Recebeu também, do Ministério da Cultura, a comenda da Ordem do Rio Branco, por seu trabalho pela cultura brasileira. Ainda exerceu os cargos de coordenador do Projeto da UNESCO “A Rota dos Escravos”, presidente da Fundação Palmares do Ministério da Cultura e subsecretário de Educação do Estado do Rio de Janeiro.
Um de seus trabalhos mais recentes, o livro “A história do negro no teatro brasileiro” (editora Novas Direções), une algumas de suas áreas de interesse, ao tecer um panorama da presença do negro nos palcos, desde o início da prática da arte cênica no país até os dias de hoje.
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MAIS MÉDICOS, MENOS FANTASIA

Artigo de Fernando Gabeira
Os cubanos foram embora. O Programa Mais Médicos não existe mais, tal como foi criado no governo Dilma. Sou otimista quanto ao futuro do programa. Talvez possa ser feito de uma forma melhor.
Breve, a discussão ideológica ficará para trás, e então poderemos nos concentrar no que realmente interessa: a saúde de milhões de brasileiros.
A grande oportunidade que está diante de nós é a ida de milhares de jovens médicos brasileiros para o interior. As condições salariais são atraentes. O dinheiro ficaria no Brasil. Mas não é esse o principal ganho. O encontro de milhares de jovens da classe média urbana com os rincões do Brasil pode representar para eles um grande aprendizado.
Já houve grandes momentos históricos em que esse encontro se deu. Na Rússia, no século XIX, quando milhares de estudantes foram compartilhar o cotidiano dos camponeses. Havia muito romantismo, ideias revolucionárias, uma visão idealizada dos pobres do campo. Embora o resultado tenha sido revoluções esmagadas, foi um período rico para a própria cultura russa.
Aqui, no Brasil, as idealizações não são as mesmas. Minha impressão é que os brasileiros vão encontrar no interior surpresas positivas sobre as pessoas que vivem lá. Os russos se decepcionaram porque esperavam ver nos camponeses um reflexo de suas fantasias urbanas.
A ida dos médicos brasileiros teria o mesmo valor pedagógico que a carreira oferece aos militares: percorrer diferentes pontos do país, sentir a diversidade, acreditar mais ainda no potencial do Brasil.
Não há contraindicação ideológica. Ouso dizer mesmo para uma juventude de esquerda dos grandes centros: o choque cultural seria benéfico. Certamente, sairia mais realista.
Meu primeiro trabalho na TV, creio em 2014, foi sobre uma cidade do Maranhão chamada Buriti Bravo. Já era uma aproximação com o Programa Mais Médicos. Uma visita às cidades mais desamparadas, no Maranhão e no Amapá.
Semana passada, procurei algumas pessoas como o escritor Antonio Lino, que fez uma dezena de viagens para escrever sobre o Mais Médicos. E também o sanitarista Hermano Castro, da Fiocruz.
Minhas primeiras conclusões: o programa é essencial para as cidades cobertas; ele pode ser feito majoritariamente por brasileiros, o que não significa que alguns estrangeiros não possam participar, dentro das regras do jogo. Constatei também que o gargalo é a formação desse tipo de médico. Isto estava previsto no programa de Dilma, mas não foi bem desenvolvido.
É preciso ser realista. Apesar dos salários, ainda é muito difícil fixar um jovem médico no interior. A realidade me leva de novo ao mundo das ideias.
A única maneira de atenuar realmente o problema é uma valorização simbólica desse tipo de trabalho. Transmitir um pouco, por exemplo, a chama que ilumina um grupo como o Médicos Sem Fronteiras, que leva ajuda a pessoas em grandes dificuldades. No caso, o governo comprar essa ideia talvez não ajude tanto quanto se fosse aceita pelo mundo cultural. Não proponho heróis positivos, são pessoas de carne e osso que merecem um reconhecimento maior.
Tanto os cubanos quanto a esquerda encaram esse trabalho como o produto de uma visão socialista, e desafiamos a verem na medicina um mercado, e não adotarem suas teses.
Esquecem que a exportação de serviços médicos é um importante item no comércio exterior cubano. É um negócio de Estado. Não só o Médicos Sem Fronteiras, mas inúmeras organizações humanitárias no mundo demonstram que essa presença ao lado dos mais fracos não é, unicamente, uma consequência da visão socialista.
Para completar a semana, ouvi uma conferência do ministro alemão Cristoph Bundscherer num painel sobre indústria 4.0. Paradoxalmente, ele falava de um futuro tecnológico com diagnósticos à distância, portanto, com menos médicos.
Se combinarmos a formação dos novos médicos com uma abertura para o mundo tecnológico, é possível atenuar esse grande problema brasileiro.
No momento, temos um pepino. No futuro, talvez nos lembremos da passagem dos cubanos apenas como um doloroso aprendizado. É raro um contrato ser rompido assim, numa área tão sensível, sem que tenhamos salvaguardas. Isso faz parte do legado. Ideologias se interessam pelas ideias, não pelas pessoas.
Artigo publicado no Globo em 26/11/2018
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MÁ EDUCAÇÃO

Charge do Aroeira
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DESMATAMENTO DESENFREADO

Da Folha de S.Paulo
O desmatamento na Amazônia voltou a crescer entre 2017 e 2018, e atingiu o maior patamar da última década, com 7.900 mil km² de floresta derrubados. O número representa um crescimento de 13,7% em relação ao período anterior (2016-2017).
Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (23) pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). As informações são relativas ao Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite), sob responsabilidade do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Na avaliação do MMA, o aumento no desmatamento tem quatro motivos principais: sinais de mudança nos ventos políticos, câmbio favorável ao agronegócio, o que estimula a abertura de novas áreas, um período de seca mais agudo do que a média e, em decorrência disso, um grande aumento no número de queimadas. 
Nas áreas desmatadas, o período pré-eleitoral foi marcado por um forte apoio ao então presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), um feroz crítico das políticas ambientais e da atuação do Ibama, principal órgão responsável pelo combate ao desmatamento.
Durante o período eleitoral de 2018, de agosto a outubro, houve uma explosão no desmatamento amazônico, que cresceu 48,8% em relação ao mesmo espaço de tempo do ano anterior. O monitoramento em questão, porém, é relacionado ao Deter B, outro projeto do Inpe que acompanha o desmatamento quase em tempo real, mas possui menor resolução que o Prodes. De toda forma, os dois sistemas apresentam grande convergência de informações.
Esses dados, contudo, só farão parte do Prodes 2019, pois o sistema considera as taxas anuais de desmatamento entre os períodos de agosto do ano anterior e julho do ano atual. 
O clima mais seco também teria facilitado o desmate. Usadas para a supressão ilegal da floresta, as queimadas bateram recorde no ano passado na série do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), iniciada em 1999. 
Para ambientalistas, medidas tomadas pelo governo Michel Temer (MDB), apoiado pela bancada ruralista, também estimularam o desmate ilegal. Uma das mais importantes, sancionada em julho do ano passado, foi o Programa Nacional de Regularização Fundiária, apelidado de “MP da Grilagem”.
Pela nova legislação, o aumento da área pública grilada passível de regularização subiu 1.500 hectares para 2.500 hectares, a serem pagos a preços bem abaixo do mercado. Além disso, a medida incluiu áreas invadidas ilegalmente até 2011 —antes, o prazo era 2004.
"Essa medida criou a perspectiva de ganhos bilionários para invasores de terras públicas”, afirma Paulo Barreto, pesquisador da ONG Imazon, que critica outras ações de Temer. 
O pesquisador aponta falhas no combate ao desmatamento ilegal relacionado à pecuária, o principal vetor de destruição da floresta.
Barreto lembra que, no ano passado, o então ministro do Meio Ambiente, Zequinha Sarney, se desculpou pela operação do Ibama Carne Fraca, contra frigoríficos no Pará que compram gado de áreas desmatadas ilegalmente, entre os quais a JBS.
Ele citou também a falta de colaboração dos estados amazônicos para fornecer informações do GTA (Guia de Trânsito Animal), inviabilizando a fiscalização do Ibama.
Desde 2013, os dados de desmatamento Prodes vem apresentando uma tendência de crescimento. O pico de destruição nesse período ocorreu em 2016, com 7.893 mil km², o que representou um aumento de 29% em relação ao ano anterior.
Via nota, o MMA afirma que tem feito esforços para combater o desmate na Amazônia, com orçamento reforçado e intensificação de ações. "O Ibama aumentou o número de autuações em 6%, de áreas embargadas em 56%, de madeira apreendida em 131% e de equipamentos apreendidos 183%, em operações voltadas a ilícitos contra a flora, em relação ao período anterior", diz a pasta.
O ministério destaca também a ação do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), que resultou em aumento de 40% em autuações, 20% em áreas embargadas e 40% em apreensões de madeira e equipamentos em áreas de conservação.
Em nota, a ONG Observatório do Clima (OC) diz que o aumento não surpreende, já sendo visível nos dados mensais que são divulgados pelo governo federal e pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia).
Segundo o OC, mesmo com os esforços de fiscalização do MMA, o aumento entra para a conta de acenos feitos à bancada ruralista por Temer e pelos governos estaduais. "A expectativa de anistia é o quanto basta para que as quadrilhas que atuam na extração de madeira e na grilagem de terras acelerarem a predação sobre a floresta, e foi isso o que se verificou", diz a nota.
A ONG Greenpeace e o OC também se dizem preocupadas com o possível impacto que o governo Jair Bolsonaro terá no desmatamento. Durante a campanha e depois dela, o presidente eleito atacou a atividade de órgãos ambientais de fiscalização e combate ao desmate, como o Ibama. 
Para as taxas anuais de desmatamento são consideradas derrubadas maiores do que 6,25 hectares. Os dados apresentados são uma estimativa, sendo que a versão consolidada só será apresentado no primeiro semestre de 2019.
Nas duas últimas décadas, a redução no desmatamento da Amazônia foi significativa. Após 2004 ter registrado o segundo maior desmate —27,8 mil km²— documentado desde o início do Prodes, as taxas de destruição chegaram ao nível mais baixo (4.571 km²) em 2012.
O recorde de derrubadas pertence a 1995, com 29,1 mil km² destruídos.
Seguindo a tendência vista desde o início dos registros do Prodes, Pará e Mato Grosso puxam o desmatamento, seguidos por Rondônia e Amazonas. 
O estado do Pará foi responsável por cerca de 36% do desmatamento registrado entre 2017 e 2018. O Mato Grosso responde por 22% e Rondônia por aproximadamente 17%.
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A FALTA DE TANCREDO

Do Correio Braziliense
Uma das causas históricas da crise fiscal que o país atravessa e da radicalização política que estamos vivendo talvez tenha sido a morte prematura do presidente Tancredo Neves, que não chegou a tomar posse, em 1985. Explico: a decorrência natural de sua eleição no colégio eleitoral, amparada por ampla mobilização popular, seria a formação de um governo liberal-conservador, capaz de executar um programa com essas características tanto do ponto de vista econômico quanto social, o que nenhum de seus sucessores até hoje fez.
Provavelmente, a Constituinte de 1988 também teria outras características, pois o processo seria liderado por um presidente eleito e parlamentarista; e não por José Sarney, um vice presidente contingenciado por um partido que ganhou e não levou, mas deu as cartas na elaboração da Constituição, sob comando de Ulysses Guimarães, um democrata radical, que era presidencialista e havia liderado a campanha das Diretas, já!
Tancredo havia participado de todas as manifestações dessa campanha, mas nunca afastou a possibilidade de o PMDB disputar a Presidência no colégio eleitoral, onde a eleição era indireta, caso a emenda Dante de Oliveira não fosse aprovada por maioria absoluta, como acabou acontecendo em 25 de abril de 1984. No final de junho, o PDMB lançou seu nome à sucessão do presidente João Figueiredo. Quatro dias depois, a Frente Liberal, dissidência do PDS, rompeu com o governo, e aderiu à candidatura de Tancredo. Na formação da Aliança Democrática, a Frente Liberal indicou Sarney para a vice-presidência.
Com 480 votos, Tancredo Neves atraiu setores conservadores que até então apoiavam o regime militar e derrotou Paulo Maluf, o candidato do antigo PDS, que obteve apenas 180 votos. O presidente eleito estava gravemente enfermo, porém, escondeu a doença e tentou retardar sua internação para depois da posse, temendo que esta não ocorresse. Um dia antes da posse, marcada para 15 de março de 1985, acabou submetido à uma cirurgia de emergência. José Sarney tomou posse como vice-presidente na manhã do dia 15. Depois de ter sido submetido a sete cirurgias, Tancredo faleceu na noite de 21 de abril. Na manhã do dia 22, Sarney foi confirmado na Presidência, depois de muitas negociações de bastidor entre a oposição e os militares. Na posse, Sarney leu o discurso que Tancredo havia rascunhado:
“Não celebramos, hoje, uma vitória política. Esta solenidade não é a do júbilo de uma facção que tenha submetido a outra, mas festa da conciliação nacional, em torno de um programa político amplo, destinado a abrir novo e fecundo tempo ao nosso país. A adesão aos princípios que defendemos não significa, necessariamente, a adesão ao governo que vamos chefiar. Ela se manifestará também no exercício da oposição. Não chegamos ao poder com o propósito de submeter a Nação a um projeto, mas com o de lutar para que ela reassuma, pela soberania do povo, o pleno controle sobre o Estado. A isso chamamos democracia!”
Reformas
O ministro da Fazenda de Tancredo era seu sobrinho, o ex-secretário da Receita Federal Francisco Dornelles, que foi mantido por Sarney, mas deixou o cargo para ser candidato a deputado federal em 1986. Em vez do ajuste fiscal, da reforma tributária e da desestatização que Tancredo pretendia fazer para combater a inflação, mas provocariam uma recessão, Sarney apostou no sucesso do Plano Cruzado, ao escolher Dílson Funaro para o comando da economia. “Sei que estou colocando a cabeça na guilhotina, mas vou arriscar, porque o povo brasileiro merece que se faça isso”, justificou, lançando o slogan “Tudo pelo social”. A principal medida do pacote econômico, o congelamento de preços por um ano, ganhou apoio imediato da população. Sarney convocou os brasileiros a fiscalizar as metas e os preços dos produtos. O sucesso foi espetacular.
Quando o ano terminou, o Brasil registrava seu menor índice de indigência e de pobreza e um crescimento do PIB de 7,49%. O nível de desemprego chegara a 2,16%. Nas eleições, o MDB venceu de ponta a ponta: elegeu 22 dos 23 governadores, 49 senadores e 260 de 487 deputados federais, a ampla maioria da Constituinte. O plano Cruzado previa reajuste automático dos salários sempre que a inflação alcançasse 20%. Com a economia muito aquecida, porém, houve excesso de demanda. Os juros negativos desestimulavam a poupança e pressionavam o consumo. O congelamento de preços fez a rentabilidade dos produtores cair para perto de zero e os produtos sumiram do mercado. O governo não controlava seus gastos, além de perder grandes quantias de reserva internacional. O plano fracassou enquanto o país discutia sua atual Constituição, que foi promulgada em 1988.
A agenda liberal foi retomada em 1989, quando o presidente Collor de Mello foi eleito pelo voto direto, mas seu governo também fracassou, por erros na condução da economia, falta de articulação política e crise ética provocada por uso de caixa dois. Agora, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, muito conservador nos costumes, tenta implementar uma radical agenda liberal na economia, mas ainda não tem uma base parlamentar que a respalde no Congresso. Por recomendação médica, e não por teimosia, como foi o caso de Tancredo, adia para depois da posse uma cirurgia para a retirada da bolsa de colostomia que utiliza desde quando recebeu a facada em Juiz de Fora (MG), em plena campanha eleitoral. A operação estava prevista para 12 de dezembro, dois dias após a sua diplomação. Os médicos do Hospital Albert Einstein constataram “inflamação do peritônio e processo de aderência entre as alças intestinais” que poderiam complicar a cirurgia. Como não se lembrar de Tancredo?
Do Blog do Luiz Carlos Azedo, Correio Braziliense
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PAPO CABEÇA

Charge do Aroeira
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domingo, 25 de novembro de 2018

A TEIMOSIA DOS FATOS

Da ISTOÉ
Governos arbitrários e regimes autoritários fazem mirabolantes movimentos para esconder as atrocidades e desumanidades que cometem. Varrem a própria sujeira para debaixo do tapete da história na tonta ilusão de que nunca chegará alguém para arrumar a sala. Um belo dia, o destino recompõe a verdade, como acaba de acontecer com a revelação de trezentas e trinta e uma cartas enviadas por Olga Benário a seu marido, o líder comunista Luiz Carlos Prestes, quando ambos estiveram presos, vítimas do nazismo na Alemanha e da ditadura do Estado Novo implantada no Brasil por Getúlio Vargas. O destino em questão é um pobre e humilde carroceiro, sem eira nem beira, que encontrou o pacote com todas essas cartas numa lixeira de Copacabana, no Rio de Janeiro.
Desconhecendo totalmente do que se tratava, ele, o destino a puxar carroça, vendeu tal pacote na feira de camelôs e ambulantes da Praça Quinze. O comprador interessou-se pelos selos e envelopes carimbados com a expressão “censura” pelos governos do México, Brasil, França e Alemanha, mas também não atinou com o valor histórico daquilo que possuía em mãos. Finalmente, o barraqueiro Carlos Otávio Gouvêa Faria percebeu que todo aquele amontado de papeis era a correspondência de Olga e Prestes — e, imediatamente, adquiriu todo o material (não revela o quanto pagou). Tudo isso se desenrolou ao logo de cinco anos, até que a história vem agora a público pelo excelente trabalho dos jornalistas José Casado e Ascânio Seleme.
Façamos um rápido corte na história das cartas para situarmos, também rapidamente, os personagens históricos Luiz Carlos Prestes e Olga Benário. Eles se conheceram na extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em dezembro de 1934. Por que estavam em Moscou? Prestes era o líder máximo do Partido Comunista do Brasil, stalinista e membro de destaque do Comintern (a Terceira Internacional instaurada, nos anos 1920, pelo leninismo). Olga Benário, de origem judaico-alemã, era uma das mais destacadas agentes soviéticas. Apaixonaram-se. Casaram-se. Lua de mel? Vieram ao Brasil para deflagar o levante comunista de 1935 (Rio Grande do Norte, Pernambuco e Rio de Janeiro) contra o governo de Getúlio Vargas. A derrota se deu de forma fragorosa. Em 1936 ambos foram presos no Rio de Janeiro, e aí começam as cartas (voltemos a elas) que, tantas décadas depois, seriam negociadas na Praça Quinze – e que por pouco não acabaram trituradas em algum caminhão de limpeza urbana. Elas tornam pública toda a tortura física e mental que Prestes e Olga sofreram, torturas promovidas e ocultadas pelo nazismo e por Vargas. Agora o tapete da sala do arbítrio foi levantado.
Em uma das primeiras cartas, jamais recebida por Prestes porque a ditadura de Getúlio Vargas a bloqueou, Olga informava sobre a sua gravidez. Mesmo grávida, no entanto, foi deportada por Vargas para a Alemanha de Adolf Hitler, e lá nasceu em novembro de 1936, em um campo de extermínio, a filha Anita Leocádia. Olga foi executada em 1942 em Ravensbrück. Prestes permaneceu preso no Rio de Janeiro por nove anos (sete deles numa solitária), ganhou anistia em 1945, elegeu-se senador e encontrou Anita, pela primeira vez, quando a garota já estava com quase dez anos de idade.
Há na história do Brasil muitos outros tapetes que esconderam sujeiras de regimes de exceção, mas que acabaram erguidos quando se abriram portas e janelas para o sol da democracia entrar nos aposentos — “o sol, o melhor detergente”, como o definiu o ex-juiz da Suprema Corte dos EUA Louis Brandeis. O tapete do golpe militar de 1964 serve de exemplo. No auge da repressão contra os que se opunham à ditadura, diversos guerrilheiros, assassinados sob tortura, tiveram os seus corpos enterrados clandestinamente no cemitério Dom Bosco, no bairro paulistano de Perus. Os coveiros da ditadura enterraram-nos em valas comuns, junto aos muros, e com os codinomes pelos quais tais militantes eram conhecidos em suas organizações de guerrilha. Quis o destino (sempre ele!) que ISTOÉ obtivesse listas com os nomes verdadeiros e também com os codinomes dessas pessoas. ISTOÉ foi então ao Instituto Médico Legal. Diante da apresentação dos nomes verídicos, nenhum registro surgiu de empoierados e cavernosos arquivos. Quando esses arquivos foram consultados pelos nomes falsos, a verdade berrou: todos os cadáveres enterrados, no silêncio das madrugadas, no cemitério de Perus.
Igual sujeira, varrida e escondida nessa época, foi a morte selvagem imposta ao guerrilheiro Stuart Edgar Angel, filho da estilista Zuzu Angel — ele morreu com a boca acoplada a um escapamento de jipe, do qual saía gás quando os tortutadores aceleravam o veículo. Zuzu, que chegou a costurar para a esposa do ditador Arthur da Costa e Silva (o carrasco do AI-5), procurou saber a verdade sobre a morte de Stuart junto aos próprios militares. Nada conseguiu. Fez campanha no Brasil, e nada. Fez campanha no exterior, e nada. A perceber que agentes da repressão começavam a segui-la, e temendo que provocassem a sua morte em um acidente de carro, distribuiu cartas a amigos, entre eles o cantor e compositor Chico Buarque, avisando que, se “algo” lhe acontecesse, os responsáveis seriam “os mesmos que mataram o meu filho”. O acidente ocorreu em 1976. Duas décadas depois, o próprio governo brasileiro (gestão FHC) levantou o tapete e admitiu: Zuzu fora assassinada. Para ela, Chico compos “Angélica”: “(…) quem é essa mulher/ que canta sempre esse estribilho/só queria embalar meu filho/que mora na escuridão do mar (…)”. Na quarta-feira 21, a Justiça do Rio de Janeiro suspendeu o leilão das cartas que estava programado.
E quer saber como essa raridade histórica foi perdida a ponto de ser encontrada numa lixeira.
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MOSTRANDO TUDO...

Charge do Aroeira
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