RIO - Detentor de três prêmios Jabuti e autor de mais de 50
livros, o escritor e historiador Joel Rufino dos Santos era um nome de
referência em cultura afro-brasileira. O pensador enveredou também pela
dramaturgia ao longo de sua prolífica carreira. Levam sua assinatura três peças
teatrais e duas minisséries para a TV. O Tribunal de Justiça de Estado do Rio
de Janeiro (TJRJ) comunicou, nesta sexta-feira, conforme noticiou o blog do colunista Ancelmo Gois , o
falecimento de Rufino dos Santos, que era também diretor-geral de Comunicação e
de Difusão do Conhecimento (DGCOM). O historiador morreu, aos 73 anos, em
decorrência das complicações de uma cirurgia cardíaca realizada no dia 1º de
setembro. O corpo de Joel Rufino será cremado ainda nesta sexta-feira em
cerimônia reservada a parentes.
Rufino dos Santos deixa a esposa Teresa Garbayo dos Santos,
os filhos Nelson e Juliana e os netos Eduardo, Raphael, Isabel e Victoria.
O babalaô Ivanir dos Santos, interlocutor da Comissão de
Combate à Intolerância Religiosa, ressaltou que o professor professor Rufino
dos Santos foi fundamental para a luta contra o racismo e por uma
representatividade maior da cultura negra no Brasil.
— Joel foi um grande intelectual que lutou pela
redemocratização, durante a ditadura militar, e foi importantíssimo na agenda
do movimento negro brasileiro. Ele deu uma contribuição inestimável à
militância e à academia — lembrou o babalaô. — Os jovens que estão, agora, na
universidade, pesquisando a pauta negra, têm que se inspirar nele. Ele também
levou, de forma pedagógica, as questões do racismo e do preconceito às
crianças, por meio de seus livros.
O presidente do TJRJ, desembargador Luiz Fernando Ribeiro de
Carvalho, lamentou a morte do profissional exemplar e amigo em uma nota.
“É uma grande perda para o Tribunal de Justiça, para os
meios intelectuais e professores. Uma alma generosa. Que ele descanse em paz.
Vamos guardar do professor os melhores exemplos. A nós, Joel Rufino vai deixar
a semente do seu exemplo, de um homem dedicado ao humanismo e a causa pública”,
declarou Ribeiro de Carvalho, ressaltando que, à frente da DGCOM desde
fevereiro deste ano, Rufino dos Santos promoveu iniciativas inovadoras
vinculadas à causa pública e à cidadania, entre elas, o desenforcamento de
Tiradentes e a realização de um baile charme no próprio tribunal.
Coordenador do
Laboratório de Análises Econômicas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais
(LAESER), Marcelo Paixão também disse que recebeu com muita tristeza a notícia.
“Sua luta, suas reflexões, sua trajetória serão uma eterna
fonte de sabedoria e inspiração para todos e todas que lutam contra o racismo e
pela causa da igualdade racial. Descanse em paz, professor. Aprendemos vossas
lições e saberemos honrar sua luta!”, escreveu o economista.
Filho de pernambucanos, Rufino dos Santos nasceu no ano de
1941 em Cascadura, bairro da Zona Norte, onde cresceu apreciando a leitura de
histórias em quadrinhos. Referência na literatura sobre a cultura africana no
país, ele escrevia desde criança, mas só teve seu primeiro livro publicado em
1963. Ainda jovem entrou para o curso de História da antiga Faculdade de
Filosofia da Universidade do Brasil, onde começou a sua carreira de professor,
dando aula no cursinho pré-vestibular do grêmio da faculdade.
Convidado pelo historiador Nelson Werneck Sodré para ser seu
assistente no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), lá conviveu com
grandes pensadores, e foi um dos co-autores da História Nova do Brasil, um
marco da historiografia brasileira. Com o golpe de 1964, Rufino dos Santos, por
sua militância política, precisou sair do Brasil, asilando-se na Bolívia,
depois no Chile. Com o exílio, não só interrompeu a sua vida acadêmica, como
também não participou do nascimento do seu primeiro filho, que se chama Nelson
em homenagem ao seu mestre e amigo.
Voltando ao Brasil, viveu semi-clandestino, e foi preso três
vezes. Na última , cumpriu pena no Presídio do Hipódromo, de 1972 a 1974. As
cartas, muitas, que escreveu para Nelson, foram, mais tarde, publicadas no
livro “Quando eu voltei, tive uma surpresa”, ganhador do Prêmio Orígenes Lessa,
em 2000, para jovens leitores.
Com a aprovação da Lei da Anistia, foi re-integrado ao
Ministério da Educação e convidado a dar aulas na graduação da Faculdade de
Letras e posteriormente na pós-graduação da Escola de Comunicação, UFRJ.
Obteve, da Universidade, os títulos de notório saber e alta qualificação em
História e de doutor em Comunicação e Cultura. Recebeu também, do Ministério da
Cultura, a comenda da Ordem do Rio Branco, por seu trabalho pela cultura
brasileira. Ainda exerceu os cargos de coordenador do Projeto da UNESCO “A Rota
dos Escravos”, presidente da Fundação Palmares do Ministério da Cultura e
subsecretário de Educação do Estado do Rio de Janeiro.
Um de seus trabalhos mais recentes, o livro “A história do
negro no teatro brasileiro” (editora Novas Direções), une algumas de suas áreas
de interesse, ao tecer um panorama da presença do negro nos palcos, desde o
início da prática da arte cênica no país até os dias de hoje.
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