terça-feira, 31 de julho de 2018

MUSEU DO ECLIPSE

Artigo de Fernando Gabeira
Campanha de Bolsonaro produz nova palavra, o ‘heteroabraço’
Depois da Copa, começa a campanha eleitoral no Brasil. O momento é de composições, alianças, escolha de vice. Costumo defini-lo como um momento em que os jogadores ainda estão no vestiário, antes de saírem para o campo aberto sob o olhar da plateia.
Mas as notícias que vêm do túnel indicam um personagem que parece rivalizar com os candidatos: o centrão.
Participei de quase todas as campanhas até 2010. Estou procurando entender esta e vejo o papel do Congresso mais explícito. O Congresso provou o gosto de sangue através da fragilidade dos dois último governos, Dilma e Temer. Ambos precisaram muito dele para sobreviver. E o centrão ganhou força e vai usá-la para que tudo continue o mesmo, sobretudo a ocupação partidária da máquina, a troca de votos por verbas; enfim, o velho fisiologismo.
O centrão, com a fortuna do Fundo Partidário, preservara seu número de deputados e enfraquecera o presidente eleito com sua bomba fiscal.
É uma forma mais articulada do que no passado. Mas também eles têm mais medo do que no passado.
Enquanto os times não entram em campo, fora do túnel, no mundo real observe também algo mais novo nas eleições brasileiras.
Como no passado, algumas figuras da sociedade pensam em se candidatar e desistem. Desta vez, o número foi um pouco maior, e observe um grande peso das famílias na desistência dos possíveis candidatos. Sempre foi assim. Mas, no passado, a condição de político não repercutia tanto na vida da família, e a resistência era mais pela perda da proximidade do ente amado.
Agora pesa também, creio eu, além da ausência, o fato de que a pessoa vai transitar num universo ético desprezado, e isso repercute demais no cotidiano familiar.
Até os bancos brasileiros têm um pé atrás e classificam os parentes também como pessoas politicamente expostas.
Aproveitando que ainda estou no vestiário, cuido de alguns detalhes. É o período também em que surgem as denúncias. Uma delas me interessou não pelo conteúdo, mas pela palavra: museu do eclipse.
É um museu em homenagem ao maior eclipse da história, ocorrido em 1919.
Quando li museu do eclipse, pensei: certas palavras não podem cair na minha frente, pois esqueço logo a trama política, aliás bem tediosa.
Por que um museu do eclipse em Sobral?
Atribui-se ao eclipse de 1919 uma grande importância científica, pois foi possível comprovar aspectos da teoria da relatividade, inclusive em Sobral, onde se concentrou um grupo de cientistas brasileiros e ingleses.
Um eclipse que trouxe luz, algo para comemorar.
Peço licença para usá-la num contexto mais amplo. A tendência a manter o velho estilo de governar diante de nossa carência de mudança vai transformar o Brasil num museu do eclipse.
As convenções que vi pouco falaram de uma perspectiva para o país. A sensação apocalíptica se acentua quando você vê conservadores discursando, mandando abraços héteros, confessando heteropaixões.
No passado, todo mundo mandava abraços e pronto. Ninguém se preocupava em definir sua orientação sexual.
O tema ganhou uma nova dimensão nos últimos anos, e tornou-se no discurso de Bolsonaro uma bandeira eleitoral.
Sem perceber o clima de intensa divisão, acaba produzindo uma nova palavra, o “heteroabraço”. E, consequentemente, o homoabraço.
Não haverá abraço possível entre um hétero e um homo, fica uma lacuna no vocabulário. A única saída é tentar reencontrá-la na sua forma mais simples e cristalina: abraço.
Com essas palavras, a gente vai construindo o museu do eclipse. Aliás, a fala do Ciro Gomes prometendo botar juízes e promotores em caixinhas e restabelecer a autoridade política. Essa vai na íntegra.
São apenas registros. Não vejo uma campanha como uma sucessão de bater e apanhar. Na verdade, no Brasil, todos apanhamos tanto da realidade que o ideal seria achar uma boa forma de discutir.
Vi uma entrevista do Alckmin no “Roda Viva”. Sua resposta sobre o crescimento do PCC em São Paulo e sua expansão pelo Brasil. Ele respondeu que todos os líderes do PCC foram presos.
Mas foi incapaz de elaborar que, apesar disso, a organização cresceu, que alguma coisa está errada, que os mecanismos de repressão ao crime organizado ainda são frágeis.
Claro que enfatizar um lado positivo faz parte do discurso de um candidato. Mas para mim, que vejo de fora, soa assim: nós prendemos os líderes; agora, se estão crescendo, isso é problema deles.
Se pudesse escolher outro cenário, certamente o faria. Mas esse é o que teremos, e será uma longa viagem não só num país muito estranho, mas também num mundo muito estranho.
Artigo de publicado no O Globo, em 30/07/2018
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MORRE HÉLIO BICUDO

Do G1, São Paulo

O jurista e político Hélio Bicudo, de 96 anos, morreu na manhã desta terça-feira (31) em sua casa, nos Jardins, em São Paulo. O velório será nesta terça-feira (31), às 17h, no Funeral Home, na Rua São Carlos do Pinhal, 376, na Bela Vista, região central de São Paulo.

Segundo o advogado Thiago Nunes, amigo de Bicudo, ele morreu por volta das 10h30 em decorrência de vários problemas de saúde, inclusive cardíaco. Ele tinha sete filhos, sendo quatro homens e três mulheres. A mulher, Déa, faleceu em março deste ano.

Veja repercussão

Militante dos Direitos Humanos e ex-integrante do PT; FOTOS

Bicudo nasceu em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, foi aluno da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), na turma de 1946, e ex-integrante do Partido dos Trabalhadores (PT).

Ele foi um dos autores do pedido de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) na Câmara dos Deputados em 2015.

Ativista dos Direitos Humanos, ficou conhecido por condenar integrantes do Esquadrão da Morte, grupo de extermínio formado por policiais que agia em São Paulo nos anos 70, época em que era promotor.

"Não houve um confronto, houve um processo de eliminação, de execução por parte da polícia", contou Bicudo em entrevista.

Posteriormente, o jurista atuou como procurador de Justiça do Estado de São Paulo. Ele particiou da luta pela redemocratização do Brasil e atuou na campanha "Diretas Já".
Em 1986, Bicudo se filiou ao PT e foi candidato ao Senado. Ele foi secretário de Negócios Jurídicos do município de São Paulo na gestão da ex-prefeita Luiza Erundina entre 1989 e 1990, quando se elegeu deputado federal pelo PT.

Em 2000, foi empossado presidente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, com sede em Washington, nos Estados Unidos. Entre 2001 e 2004, foi vice-prefeito de São Paulo durante a gestão da petista Marta Suplicy. Em 2005, Bicudo deixou o PT, em meio a crise do mensalão.

Ele deixa sete filhos, netos e bisnetos. Bicudo estava viúvo desde março, data em que sua mulher Déa faleceu.
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domingo, 29 de julho de 2018

A VEIA AUTORITÁRIA DE CIRO

Da ISTOÉ
Se vivesse no mundo da fábula, o candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes (PDT), seria o escorpião. Reza a história que o escorpião pediu ao sapo que o transportasse de uma margem a outra de uma lagoa. No meio do caminho, porém, o escorpião ferroou o sapo, inoculando nele o seu veneno. Questionado da razão de tal gesto, o escorpião disse ao sapo: “É da minha natureza”. Na sequência, ambos morreram afogados.
Em 2002, então como candidato à Presidência pelo PPS, Ciro pareceu ter chances de vitória até começar a proferir frases absurdas e bater boca com eleitores e jornalistas. Perdeu-se de vez ao responder que a função de sua mulher à época, a prestigiada atriz Patricia Pillar, na campanha era “dormir com ele”. Agora, desde o início Ciro foi alertado da necessidade de se conter. Ele mesmo prometeu que faria isso. Mas prevaleceu a natureza do escorpião. E Ciro, graças ao veneno de sua língua, corre o risco de morrer novamente afogado em uma disputa presidencial.
O problema maior de Ciro é quando a falta de controle de sua língua expõe um perigoso viés autoritário. Foi o que aconteceu na terça-feira 24, quando Ciro perdeu as estribeiras numa entrevista a uma emissora de TV no Maranhão. Ciro afirmou que somente uma vitória sua nas eleições de outubro daria chances de Lula sair da cadeia. “O Lula tem alguma chance de sair da cadeia? Nenhuma. Só tem chance de sair da cadeia se a gente assumir o poder e organizar a carga. Botar juiz para voltar para a caixinha dele, botar o Ministério Público para voltar para a caixinha dele e restaurar a autoridade do poder político”, disse Ciro. Na quarta 25, ele disse que foi mal interpretado. É o que alega até hoje sobre a frase de Patricia Pillar.
Pendor totalitário
A leitura do que disse Ciro, sem maiores necessidades de interpretação, demonstra considerável pendor por soluções não democráticas no exercício do poder. Quem condena e absolve, prende ou solta Lula ou qualquer outro cidadão no Estado Democrático de Direito não é o presidente da República, é o Poder Judiciário nas suas variadas instâncias. A “caixinha” do juiz não é no Poder Executivo, e, numa democracia, não há hipótese de um magistrado ser enquadrado por um presidente da República. Já o Ministério Público, conforme a Constituição de 1988, é uma instituição independente de qualquer poder, e essa independência é indispensável para que ele exerça seu poder de fiscalização em nome da sociedade. Um presidente, na democracia, precisa respeitar os limites e a autoridade das demais instituições e poderes. É tudo o que Ciro parece desconhecer.
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LIVRAI-NOS DE TANTA LOUCURA

Artigo de Fernando Gabeira
Nos últimos dias, tenho a impressão de que estão enlouquecendo nas altas esferas do poder e talvez não possamos fazer muito a respeito.
No Brasil, o Congresso decidiu aprovar um pacote de benesses que vai nos custar mais R$ 100 bilhões.
Considerando nossa crise, isso representa grandes problemas no ano que vem: falta de recursos, atraso em pagamentos, quebradeira.
O interessante é que os candidatos à presidência não protestaram. Protestar contra a farra de gastos tira votos. E eles dividem o tempo com muita precisão: uma coisa é o período eleitoral, outra o mandato.
Não percebem que, ao se calarem agora, perdem a possibilidade de resistir lá na frente. Isso pode significar não só crise política séria, mas até mesmo impeachment.
De qualquer forma, o futuro imediato do Brasil está comprometido por essas aventuras irresponsáveis. Há pouco o que fazer, exceto votar bem mas ainda assim por mais que se acerte aqui e ali, o conjunto do Congresso será assustador.
A pesada máquina do atraso continuará esmagando as chances de crescimento sustentável, renovação política e recuperaçao da confiança nacional.
Lá fora, a loucura ainda é maior. O Presidente dos Estados Unidos critica duramente os aliados europeus e vai se prostrar aos pés de um líder autoritário russo.
Essa manobra de Trump, assim como a dos deputados brasileiros, é uma ação disruptiva. Não usaria o termo subversiva pois ele implica em alteração da ordem.
O que está acontecendo é apenas algo destinado a baguncar, criar as bases instáveis para a chegada do caos.
Os parlamentares brasileiros querem apenas alguns votos para garantir sua permanência no poder. Eles já articularam uma reforma que lhes garante o dinheiro público para disputar as eleições. Insatisfeitos, cavam o próximo abismo sabendo que dinheiro não lhes faltará. Em último caso, há sempre o aumento de impostos.
O problema é que a sociedade brasileira parece aceitar isso. A suposição de que o estado pode gastar ilimitadamente ainda é um fato na cabeça de muitos, mesmo os que não são diretamente interessados em conquistas corporativas.
O que torna a questão mais angustiante ainda: a loucura dos dirigentes não é apenas um descaminho lógico em suas cabeças mas algo que tem base na própria tolerância social.
Da mesma forma, o que acontece na conjuntura mundial não revela apenas um desvario individual. Dizem que os russos têm documentos que comprometem Trump daí sua subserviência em Helsinque.
Creio que a intepretação mais correta passa pelo fascínio que Trump mostra por governos autoritários. Ao mesmo tempo, ele representa a democracia mais poderosa do mundo.
Muitas coisas estao mudando. Rejeitar os laços culturais e políticos com uma Europa que sempre foi nossa referência, parece-me tão iconoclástico para o Ocidente, como os talibãs destruindo estátuas budistas.
De todas as formas é assim que o mundo caminha. Salvaguardas existem tanto no Brasil como nos Estados Unidos. É sempre possivel atenuar o estrago.
Mas é preciso muita água para apagar um incêndio que vem de cima. Quando deputados decidem quebrar o país e Trump colocar-se ao lado da Rússia contra aliados e o próprio servico inteligência americano, entramos num espaço mais difícil do que o combate à corrupção e à incompetência.
Não basta apenas supor que estejam enlouquecendo. É preciso entender como as sociedades não só convivem como, de certa forma, sustentam essa loucura.
Não se trata de realizar um esforço idealista para afirmar que exista uma razão inequívoca e ela triunfará sobre os desvarios do poder.
Tudo que nos resta é trocar de ilusão na tentativa de nos aproximarmos um pouco mais da realidade. A ideia de que é possivel gastar sem limites, no entanto, parece-me um componente de tragédia.
Hegel dizia que na tragédia há um conflito entre o certo e o certo. Muitas vezes, no entanto, ela é apenas o resultado da imprudência humana.
Artigo publicado no O Globo em 21/07/2018
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SÍSIFO E O CENTRÃO

Artigo de Fernando Gabeira
Eleitores podem colocar a pedra lá em cima para vê-la, de novo, rolar montanha abaixo.
Algumas coisas que deveriam estar juntas correm em dimensões ainda diferentes no Brasil, realidades paralelas: o aumento do índice de mortalidade infantil, como sintoma de decadência, e a campanha eleitoral no Brasil. O desencontro da vida real com a política se deve também ao momento em que campanha significa muito arranjo entre partidos, composições, definições de tempo de TV, escolha de vices. É como se o jogo ainda estivesse sendo discutido no vestiário, antes que saia para o campo aberto, diante da plateia.
Mas as notícias que vêm pelo túnel já nos dão matéria para pensar. O famoso bloco parlamentar chamado Centrão é uma das referências do quebra-cabeças. Esta semana, o Centrão decidiu apoiar Geraldo Alckmin. E o mercado reagiu positivamente à notícia.
Uma aliança com o Centrão significa a continuidade do que está aí: ocupação política dos cargos, troca de votos por verbas, enfim, um roteiro que não é necessário relembrar.
O mercado, que aparentemente almejava mudanças, acabou se conformando com a continuidade. Seria isso a manifestação de um senso comum? Não sei bem o que seria um senso comum. Aliás, Leonardo da Vinci tem um belo desenho de crânio em que apontou uma pequena cavidade onde seria o senso comum, o espaço para onde convergem todas as sensações.
Transplantado da fantasia física de Da Vinci para o campo social, o senso comum também poderia estar em outra manifestação: a das pessoas que dão as costas para a política porque rejeitam seus sórdidos métodos. Estas querem mudança, certamente, mas provocam a continuidade. O oposto do que desejam.
A rigor, continuidade dificilmente haverá. Se o mesmo esquema for mantido, as coisas vão piorar. O Congresso já armou uma bomba fiscal que certamente tornará um novo presidente mais vulnerável.
A experiência recente do Congresso foi a de tratar com dois presidentes fracos que precisavam dele para sobreviver no cargo. Dilma caiu, mesmo tentando negociar. Temer teve êxito na negociação para escapar. A correlação de forças entre presidente e Congresso foi alterada por essas experiências recentes. E isso, é claro, vai repercutir no ano que vem. Não importa o presidente vitorioso, de qualquer forma, ele terá de atravessar essa barreira de troca de votos por cargos e verbas.
O mundo real continuará em perigosa decadência. Até gripe se tornou mais letal, num país onde o sarampo reaparece.
Os custos de serviços públicos ineficazes foram sentidos em 2013 e expressos no desejo de ver o dinheiro dos impostos ser mais bem empregado. O impacto da corrupção foi sentido a partir de 2015, com os primeiros lances da Operação Lava Jato. Existe o perigo de que todo este processo de tomada de consciência se sinta frustrado com o desenrolar de uma eleição que pode prolongar a crise.
Impossível prever muitos lances à frente, no entanto torna-se mais claro que, embora o foco se ache na eleição presidencial, é no Congresso que se armam algumas bombas, inclusive a tentativa de acabar com a Lava Jato.
Não vejo saídas brilhantes num cenário em que os partidos, cheios da grana, vão permanecer no poder. Exceto uma atenção maior na eleição para o Congresso e a tentativa de criar uma minoria que defenda a sociedade deste mecanismo vampiresco.
Ainda assim, num tipo de luta como este, a minoria tende a ser isolada e as vitórias se contam em desastres evitados, picaretagens abortadas. O rumo, mesmo, é difícil de mudar.
Nem tudo é sombrio. Graças à Lava Jato, aumentou o risco nos processos de corrupção. Nas composições políticas de agora dificilmente vai entrar dinheiro vivo. É um avanço relativo, porque o rateio dos cargos públicos pode se tornar uma máquina de fazer dinheiro.
Nesse raciocínio, algo que talvez pode ser útil é enfatizar no debate a importância da relação presidente-Congresso e tentar liberá-la, ainda que parcialmente, de seu caráter fisiológico.
Não é uma solução do tipo “seus problemas acabaram”, mas cairia bem no Brasil o sistema francês: eleições parlamentares na semana seguinte à eleição presidencial. O calendário fortalece uma aproximação programática, a tendência dos eleitores é a de garantir maioria para seu presidente eleito.
Isso nem sequer foi pensado numa reforma política, cujo principal objetivo foi o de perpetuar as forças existentes com seus mecanismos de poder. Duas tímidas exceções foram a adoção de uma cláusula de barreira e o fim das coligações proporcionais.
O quadro descrito aqui não é um destino inexorável. Mas o fato de que o Centrão negocia em bloco antes mesmo das eleições e está preparado para exercer uma influência decisiva nos anos que seguem é preocupante. Desde já, aparece como um dos nós a serem desatados.
Como o jogo está sendo discutido no vestiário, não veio ainda a campo aberto e o grande público não se manifestou, ainda existe esta variável da reação popular em aberto.
Mas algumas das regras foram escritas pelos próprios jogadores: até mesmo a latitude dessa variável foi reduzida.
Restam apenas a crise e sua dolorosa pedagogia, sobretudo quando se torna mais aguda. De um modo geral, atinge os mais vulneráveis, e o sistema político, por meio de aumento de impostos e outros sacrifícios sociais, tenta se manter incólume.
Caminhamos para o futuro com um modo de governar chamado governo de coalizão que contém todos os vícios do passado. Como Sísifo, a maioria dos eleitores brasileiros pode colocar a pedra lá em cima para vê-la, de novo, rolar montanha abaixo.
Os filósofos discutem uma saída para essa maldição entre suicídio e revolta. Em termos políticos, certamente haverá muitas nuances, mas algum tipo de revolta é inevitável no horizonte.
A Venezuela está se derretendo e terá inflação de um milhão por cento. Parece ficção, mas já aconteceu na Alemanha em 1923 e na Rodésia no princípio do século.
Dominados por predadores, da esquerda ou da direita, os países se tornam quase inviáveis.
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sábado, 28 de julho de 2018

PESQUISA FAKE

Do Me Engana Que eu Posto, VEJA
Um boato que circula nas redes sociais e no WhatsApp alardeia que um levantamento do instituto Paraná Pesquisas aponta o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) na liderança da disputa pela Presidência da República em todos os estados brasileiros.
Segundo os números fictícios, o capitão da reserva do Exército lidera mesmo com a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e bate o petista com boa folga em 25 estados e no Distrito Federal. Em São Paulo, a pesquisa falsa coloca Bolsonaro com 61,47% das intenções de voto, ante 37,27% de Lula. Aperto, mesmo, só no Ceará, onde os números fajutos apontam vitória do deputado por 32,46% a 31,22%.
Veja abaixo o texto, compartilhado, sobretudo, no WhatsApp:
“Atenção, a pesquisa abaixo foi feita pela instituição Paraná Pesquisas e já está registrada no TSE, porém, nenhuma emissora de TV ou jornal quis divulgar.
Nova pesquisa da Paraná Pesquisas mostra Bolsonaro na frente em todos os estados mesmo com Lula candidato. A Globo não quer divulgar.
Pesquisa estimulada:
Acre
Bolsonaro 43,18 %
Lula 25,47%
Alagoas
Bolsonaro 48,36%
Lula 29,86%
Amapá
Bolsonaro 51,29%
Lula 33,01%
Amazonas
Bolsonaro 56,18%
Lula 22,95%
Bahia
Bolsonaro 38,62%
Lula 23,75%
Ceará
Bolsonaro 32,46%
Lula 31,22%
Distrito federal
Bolsonaro 56,25%
Lula 33,83%
Espírito santo
Bolsonaro 55,70%
Lula 20,18%
Goiás
Bolsonaro 49,25%
Lula 29,40%
Maranhão
Bolsonaro 35,90%
Lula 27, 81%
Mato Grosso
Bolsonaro 54,36%
Lula 19,62%
Mato Grosso do Sul
Bolsonaro 54,55%
Lula 12,68%
Minas
Bolsonaro 58,81%
Lula 11,94%
Pará
Bolsonaro 49,67%
Lula 26,00%
Paraíba
Bolsonaro 33,91%
Lula 28,68%
Paraná
Bolsonaro 47,88%
Lula 29,19%
Pernambuco
Bolsonaro 35,09%
Lula 23,63%
Piauí
Bolsonaro 39,71%
Lula 18,45%
Rio de Janeiro
Bolsonaro 64,72%
Lula 32,61%
Rio Grande do Norte
Bolsonaro 36,51%
Lula 28,96%
Rio Grande do Sul
Bolsonaro 48,39%
Lula 36,16%
Rondônia
Bolsonaro 46,85 %
Lula 23,31%
Roraima
Bolsonaro 50,43%
Lula 28,29%
Santa Catarina
Bolsonaro 42,41%
Lula 15,76%
São Paulo
Bolsonaro 61,47%
Lula 37,27%
Sergipe
Bolsonaro 43,13%
Lula 29,66%
Tocantins
Bolsonaro 51,23%
Lula 26,98%
COMPARTILHE E MOSTRE QUE O POVO CANSOU DE SER OTÁRIO!!!!”
Procurado pelo Me Engana que Eu Posto, Murilo Hidalgo, presidente do Paraná Pesquisas, classificou os números atribuídos ao instituto como “fake news”.
“O Instituto Paraná Pesquisas não realizou essa pesquisa que mostra em todos Estados. Trata-se de uma Notícia Falsa. Nos próximos dias o Instituto Paraná Pesquisas estará tomando as medidas cabíveis e possíveis para esse caso”, diz o instituto, por meio de nota.
Não houvesse o desmentido oficial pelo Paraná Pesquisas, o leitor poderia notar o tom alarmista do boato e a “denúncia” de um suposto “complô” da imprensa profissional para esconder as informações. As duas características, como o Me Engana que Eu Posto frequentemente alerta, são muito comuns em notícias falsas e lorotas compartilhadas na internet.
Além do mais, conforme publicou o Radar no último dia 18, a mais recente pesquisa presidencial do Paraná Pesquisas em São Paulo mostra Bolsonaro com 21,1% da preferência ante 21% de Lula, um empate, muito longe dos 61,47% a 37,27% anunciados no boato.
Levantamento exclusivo feito e publicado por VEJA em janeiro apontou Jair Bolsonaro como o maior beneficiado por fake news que o engrandecem – assim como o caso da pesquisa fictícia. Das 18 notícias falsas a respeito do presidenciável analisadas, 67% tinham viés positivo, 22%, negativo, e 11% eram neutras.
Agora você também pode colaborar com o Me Engana que Eu Posto no combate às notícias mentirosas da internet. Recebeu alguma informação que suspeita – ou tem certeza – ser falsa? Envie para o blog via WhatsApp, no número (11) 9 9967-9374.
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REDE DESMONTADA

Da SUPER INTERESSANTE
“O Facebook é uma plataforma de tecnologia e não uma editora ou empresa de mídia”, foi o mantra oficial da empresa durante muitos anos. Repetida por Mark Zuckerberg e pelo departamento de comunicação da empresa à exaustão, a frase era o pilar da empresa para se eximir da responsabilidade sobre o que era publicado na rede social. Ora, se ela é apenas uma ferramenta e não uma empresa de mídia, não é possível responsabilizá-la por alguns usuários publicarem notícias falsas e discursos perigosos em seus murais, certo?
Mas o argumento foi perdendo força com o passar dos anos e se tornou (junto à questão da privacidade digital) um dos temas principais do depoimento de Mark ao Congresso americano durante a já histórica polêmica do uso da plataforma pela companhia britânica Cambridge Analytica — mesma empresa que trabalhou para a campanha de Donald Trump em 2016 e conseguiu manipular a opinião pública implantando fake news na rede. Não importam os termos técnicos, o mundo está de olho no Facebook e a empresa, discretamente, passou a puxar a responsabilidade para si. Assim a guerra contra as notícias falsas ganharam força.
Em abril deste ano, foi anunciado uma parceria entre a empresa e o verificador de notícias Boom, para melhorar o feed de notícias da Índia (onde o problema já resultou na mortes de 22 pessoas), um mês antes das eleições do país. As páginas que foram pegas repercutindo a má prática tiveram o alcance dos seus posts diminuído drasticamente, tornando-as menos relevantes. A investida do Facebook deu tão certo que foi repercutida em outros países, inclusive no Brasil, em parceria com as agências Aos Fatos e Lupa.
Mas, nunca houve no Brasil uma operação tão complexa quanto a desta quarta-feira (25) que desmontou uma rede coordenada com 196 páginas e 87 contas. Juntas, as páginas tinham mais de meio milhão de seguidores e eram usadas para causar a impressão de que uma notícia falsa viesse de diferentes veículos de comunicação independentes.
Um funcionário do Facebook que não se identificou disse à agência de notícia Reuters que as páginas estavam sob controle de pessoas importantes do Movimento Brasil Livre. Mais tarde, em comunicado compartilhado no Twitter, o próprio MBL declarou que diversos de seus coordenadores foram afetados pela iniciativa.
O problema das fake news ainda está longe de acabar por uma razão muito específica: nós amamos. Um estudo do MIT concluiu que notícias falsas são 70% mais compartilhadas do que as verdadeiras. Elas apelam para as nossas emoções e senso de justiça. Logo, a vontade de apertar o botão de “compartilhar” surge antes de racionalizar e procurar as fontes do texto.
Além disso, é mais difícil batalhar contra essa praga em outras redes, como no WhatsApp, onde todas as mensagens são criptografadas e os programadores não possuem acesso ao que está sendo espalhado por lá. Uma nova função limita o número de vezes que você consegue encaminhar uma mensagem no aplicativo. É o melhor que conseguiram fazer até agora.
No futuro, é possível que a proliferação em massa de notícias falsas seja coisa do passado. Até lá, não custa nada pensar duas vezes antes de compartilhar uma informação.
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LAMPIÃO, 80 ANOS DEPOIS

Do O POVO

Em 29 de julho de 1938, o New York Times publicou que "one-eyed Lampeão", "one of the most ruthless killers of the Western World, havia sido morto. O mais prestigioso jornal do mundo se referia ao "Lampeão de um olho só" como "um dos mais temíveis cangaceiros do mundo ocidental".
Na orelha do livro do historiador Billy Jaynes Chandler, que escreveu o que talvez seja a mais importante obra sobre o cangaceiro, é dito: "O que Jesse James foi para os Estados Unidos, Lampião foi para o Brasil, e até mesmo em dose mais forte". Soaria provinciano, não fosse a obra de um americano.
Passados 80 anos, não se tem a dimensão do interesse e curiosidade mundiais despertados pelo chefe de um bando criminoso que nunca pisou numa capital de estado e restringiu suas atividades às regiões mais pobres de um País então ainda mais periférico. Durante 16 anos, foi o criminoso mais temido, procurado e também admirado dos sertões. Não há paralelo em trajetória tão duradoura e bem-sucedida nesse tipo de atividade.
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O COVARDE QUE MATOU LAMPIÃO
Ao longo dos 16 anos nos quais foi o principal criminoso dos sertões, Virgolino Ferreira da Silva acumulou muitos inimigos que o combateram com destemor e empenho. Para desgosto de vários deles, Lampião  veio a morrer pelas mãos de alguém que não era referência de coragem nem honestidade, era suspeito de colaborar com os cangaceiros e liderou o ataque em Angicos quase por acaso. Leia mais
Dois caminhos para percorrer os percursos de Lampião
Pelo tempo ou pela geografia, confira duas maneiras de conhecer a trajetória do rei do cangaço
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MAPA INTERATIVO MOSTRA CAMINHOS DE LAMPIÃO PELOS SERTÕES
Os itinerários de Lampião demarcam um mapa próprio de violência pelos sertões. Certa feita, chegou a declarar que sonhava ser governador. Gostaria de administrar um novo estado sertanejo, formado com parcelas de Pernambuco, Alagoas, Bahia e Sergipe. Nunca pisou em capital alguma. Com ferramenta de georreferenciamento do Google, o mapa abairo elenca 84 momentos da vida do maior dos cangaceiros, situados conforme a localização geográfica. Separado por cores e camadas, o mapa mostra episódios de guerra e paz marcantes na trajetória. E dá a noção da extensão do terror que varreu os sertões. Leia mais
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quinta-feira, 26 de julho de 2018

JUSTIÇA NA CAIXINHA

Do Conteúdo  Estadão
O candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – preso e condenado na Operação Lava Jato – só terá chance de sair da cadeia se ele, Ciro, for eleito. A frase foi dita em entrevista concedida ao programa Resenha, da TV Difusora, no Maranhão, no dia 16 deste mês.
“Só tem chance de sair da cadeia se a gente assumir o poder e organizar a carga. Botar juiz para voltar para a caixinha dele, botar o Ministério Público para voltar para a caixinha dele e restaurar a autoridade do poder político”, afirmou Ciro. A emissora disse que a entrevista foi ao ar no mesmo dia. Procurada, a assessoria de Ciro não respondeu até a publicação desta matéria.
O ex-presidente está preso desde 7 de abril em uma sala especial na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Ele foi condenado em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) a 12 anos e 1 mês, além de ter de pagar multa no valor total de 1.400 salários mínimos (cerca de R$ 1 milhão), pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá (SP).
A frase foi dita no contexto de uma resposta ao jornalista Itevaldo Júnior em que o pedetista tentava explicar a estratégia do PT de insistir na candidatura de Lula – mesmo após a condenação em segunda instância da Justiça e prisão. “Estão cansados de saber que eles não vão deixar o Lula ser candidato, pela Lei da Ficha Limpa que o próprio Lula botou pra valer.”
Ainda na resposta, Ciro descreve aquilo que o PT estaria pensando: “Nós (PT) vamos manter a candidatura do Lula, continuar dizendo que ele é candidato e, lá pelo meio de setembro, que a Justiça disser que o Lula não é candidato, o Lula, então, diria assim: ‘Então, se não vão me deixar, vai ser fulano'”.
O pedetista afirmou que o Brasil “não aguenta um presidente por procuração a uma altura dessas” – se referindo a um presidenciável que fosse escolhido por Lula. “Eu gosto muito do Lula, mas, só porque gosto muito, ele vai apontar outra Dilma (Rousseff)”, disse Ciro, ao sugerir qual seria a reação do eleitor simpático ao ex-presidente. “O Brasil está em um momento muito difícil, precisando de pulso, liderança, autoridade até para corrigir a carga.”
Ao se referir à “carga”, Ciro diz: “Você imagina se, com um cabra desse do outro lado (candidato do campo da direita), o Lula tem alguma chance de sair da cadeia?”, questionou, para continuar dizendo que o ex-presidente só teria chance de sair da prisão se ele (Ciro) assumisse o poder.
Ao se referir a possíveis nomes colocados pelo PT, no caso de Lula não ser candidato, Ciro afirma: “Com uma tragédia, só resta eu. Porque ninguém inventa (um nome) de um dia pra noite. Se inventa, mesmo dando certo, acaba dando errado”.
Indulto
Em maio, Ciro chegou a declarar que propor um indulto a Lula seria “loucura”. “Se eu prometesse indulto a Lula, eu estaria agindo contra ele, que é meu amigo há mais de 30 anos”, disse à época. “Indulto é apenas para aqueles que já foram condenados em todas as nstâncias. E Lula ainda está recorrendo da decisão que o condenou”, afirmou Ciro, para acrescentar: “Por que vai me indultar? Sou inocente”.
No programa da TV maranhense, Ciro confirmou que chegou a procurar Josué Gomes (PR), filho do ex-vice-presidente José Alencar, para ser vice na sua chapa. Josué também vinha sendo cortejado pelo PSDB. Ciro fez ainda elogios ao presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM).
A entrevista ocorreu quatro dias antes da convenção do PDT, na sexta-feira passada, dia 20, que confirmou o seu nome como candidato do partido à Presidência. Ela também foi feita no contexto de negociações entre Ciro e o Centrão (bloco composto pelo DEM, Solidariedade, PP, PR e PRB). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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NÃO CHORE POR MIM, ARGENTINA

Há exatos 66 anos, argentinos choravam a morte de Eva Perón, conhecida como Evita. Vítima de um câncer uterino, Evita morreu aos 33 anos. Seu velório parou o país. E o mito estava apenas começando.

Atriz, Evita se tornou uma líder política em seu país, quando casou com o general Juan Domingo Perón, tornando-se primeira-dama da Argentina.
Em 1996, chegou às telas de cinema de todo país, o filme Evita, protagonizado pela popstar, Madonna e Antonio Banderas, dirigido por Alan Parker.
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quarta-feira, 25 de julho de 2018

RECORDANDO RACHEL DE QUEIROZ

Hoje, 25 de julho que se comemora o Dia Nacional do Escritor, fez-me lembrar de uma história da escritora cearense, Rachel de Queiroz, relatada em sua autobiografia Tantos Anos, escrita por Rachel e sua irmã caçula, Maria Luiza de Queiroz, em 1998.
Rachel de Queiroz, a pioneira cearense – foi a primeira mulher a entrar na Academia Brasileira de Letras, 1977 – conhecida pelas belas histórias contadas em suas obras, o carinho que tinha pelas palavras, seja nas crônicas, nas peças de teatro ou nos romances, ela era uma mulher à frente do seu tempo. Até na politica Rachel de Queiroz enveredou e teve uma vida intensa.
A consagrada carreira de escritora e jornalista, parte dos brasileiros já conhece, mas, na política é desconhecida pela maioria da população brasileira. Rachel se tornou membro do Partido Comunista ao lado de amigos de sua geração, uma turma politizada e ‘comunizada”, como relatou ela na autobiografia Tantos Anos, de 1998. Foi presa duas vezes.
Em 1931, após passar dois meses no Rio de Janeiro – tinha ido receber o Prêmio Graça Aranha, dado a O Quinze – Rachel volta ao Ceará, com credenciais do Partido Comunista, já politizada e com a missão de promover e reorganizar o Bloco Operário e Camponês, movimento político o qual ela tinha participado.
Rachel passou a fazer parte do Partido Comunista, mesmo sem ter feito uma ficha, assinado alguma ata. Aliás, não se podia deixar nenhum rastro de papéis, livros ou qualquer tipo de documento, a polícia era brutal e se pegasse algum vestígio, levava todos para a cadeia: às pessoas e os papéis. Com a chegada de Getúlio Vargas ao Rio, a polícia ficou mais feroz.
Em 1937, com a decretação do Estado Novo de Getúlio Vargas, os livros de Rachel de Queiroz foram proibidos e, num fato marcante, várias de suas obras acabaram queimadas em praça pública em Salvador (BA), junto a livros de Jorge Amado, José Lins do Rego e Graciliano Ramos, todos classificados de subversivos.
O desligamento do Partido Comunista aconteceu após ela ver censurado pelo próprio Partido o romance João Miguel. No romance, João Miguel, ‘campesino’ bêbado, matava outro ‘campesino’. O aviso: só permitiria a publicação da obra, se Rachel fizesse as modificações apontadas pelo presidente do Partido Comunista. Segundo o Partido, a trama era carregada de preconceitos contra a classe operária.
Jamais se curvou as imposições feitas a sua obra, Rachel de Queiroz não aceitou as tais modificações exigidas pelo Partido Comunista, pegou o original que tinha datilografado e saiu em disparada, como relatado por ela no capítulo O Rompimento, da autobiografia Tantos Anos.
Em sua obra Caminho de Pedras (1937), Rachel trata desse momento político que viveu no Partido Comunista, porque fazer política na década de 20, ser comunista era muito perigoso. A ideia de comunismo era distorcida e alguém que ousasse se apresentar como comunista pagaria um preço alto, até com a própria vida.
Rachel de Queiroz faleceu dormindo em sua rede, em sua casa no Rio de Janeiro, em 4 de novembro de 2003.
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VIVA TEREZA DE BENGUELA !

O dia 25 de julho tem um peso maior, é que, desde 2014 é comemorado o Dia Nacional da Mulher Negra e de Teresa de Benguela.
Teresa é considerada uma heroína por ter defendido seu povo da opressão, por volta de 1750, em Mato Grosso.
Chamada de Rainha Teresa, ela liderou o quilombo Quariterê, próximo a Vila Bela da Santíssima Trindade, em Mato Grosso, na fronteira com a Bolívia.
Uniu negros, brancos e indígenas para defender o território por muitos anos. Foi ela a responsável pelo desenvolvimento do quilombo, implantando novos modelos de desenvolvimento, como o uso do ferro na agricultura.
A rainha chegou a ser comparada a Zumbi dos Palmares, um dos símbolos da resistência negra no país. A data agora é Lei e foi sancionada em 2014, pela presidenta Dilma.
Hoje, 25 de julho também se comemora o Dia Internacional da Mulher Negra Latinoamericana e Caribenha. A data foi instituída em 1992.
A data é um marco na luta da mulher negra contra opressão de gênero, o racismo, exploração de classe. A data dar visibilidade, reconhecimento, e reforça a presença da mulher negra nesse continente.
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PEDRO LAVANDEIRA - 15 ANOS DE SAUDADE

Há exatos 15 anos, sobralenses davam adeus a Pedro Lavandeira, um dos maiores poetas populares, da região norte do Ceará. Mestre na arte de transformar grandes sucessos musicais em memoriáveis músicas de campanha política da família Prado, Pedro Lavandeira deixou o legado da amizade, competência e honestidade. Pedro sempre estava feliz.
Relembrando esse grande poeta popular Pedro Lavandeira, ouça a música O poeta partiu  que seu irmão, o cantor Zé Lavandeira fez para homenagear o saudoso irmão. Ouça outras músicas memoráveis das campanhas pradista, na voz de Pedro Lavandeira.
Como escreveu o poeta, jornalista Silveira Rocha, Pedro Lavandeira foi de uma política só, de um partido só. Pedro Lavandeira amigo fiel e compadre de Zé Prado, sempre esteve ao lado de Zé em suas campanhas, empunhando a bandeira branca.
Quem vê essa imagem do amigo Pedro Lavandeira, não tem como não voltar no tempo e reviver grandes campanhas políticas de nossa princesa do Norte. Pedro foi de uma política só, de um partido só, de um amigo só, o seu compadre José Parente Prado, de quem ele empunhara a bandeira branca desde quando o Zé iniciou sua trajetória política.
Via blog Sobral em Tribuna de Silveira Rocha, veja algumas frases do poeta Pedro, inseridas nas músicas que ele compôs:
"Vai, vai, vai, vai, ninguém segura não. O prefeito é o José Prado, ganha disparado nessas eleições".
(Primeira composição de Pedro, inspirada pelo próprio Zé Prado).
(campanha de José Prado contra Carlos Alberto Arruda).
"Mas eu não sou de exigir muito, vista a roupa que quiser, mas doutor faça favor, de entregar a quem lhe entregou, entregue a Zé o que é de Zé".  (crítica a Dr. José Euclides).
"O verde que pintou no comício a lagarta deu; o verde quis brotar novamente, a vaca comeu". (campanha Zé Prado contra Padre Zé").
"Ele ai, gosta de taxa e de imposto, até cachorro paga R$ 10 pra se soltar. Perdeu o rumo e agora vai tomando a reta, sonhando com bicicleta e carroça pra emplacar". (crítica a Cid Gomes).
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sábado, 21 de julho de 2018

CIRO VAI SOZINHO...

Do G1, Brasília
O PDT confirmou em convenção nacional nesta sexta-feira (20) em Brasília a escolha de Ciro Gomes, 60 anos, como candidato à Presidência da República. O ex-ministro e ex-governador do Ceará foi escolhido por aclamação pelos filiados que participaram do evento. Ele disputará a Presidência pela terceira vez – em 1998 e 2002 concorreu pelo PPS, mas não chegou ao segundo turno.
Abordado por jornalistas ao chegar à sede do PDT, o candidato disse que fala "10 horas por dia" e que "evidentemente" pode errar "aqui e ali". "Nunca tive pretensão de ser um anjo", afirmou.
No primeiro discurso como candidato, Ciro Gomes afirmou que ninguém é "dono da verdade" e defendeu acabar com “a cultura de ódio” que, segundo ele, vigora no país. “Acabar com essa ideia de brasileiro contra brasileiro se ferindo pela internet”, afirmou.
Sem citar exemplos, ele afirmou que, se eleito, vai "perseguir" e "encerrar" cada privilégio. "Vou olhar com uma lupa cada conta, cada privilégio. Comigo, privilégio vai ser perseguido e encerrado, seja de quem for", declarou. "Cada privilégio será trazido à denúncia pública", disse. Segundo ele, a corrupção é um “câncer que rouba a crença do povo na política”.
Na parte do discurso em que abordou temas econômicos, disse que, a pretexto de austeridade fiscal, “essa gente quebrou o país”, sem especificar a quem estava se referindo. “O Brasil nunca esteve tão fragilizado nas contas públicas”, declarou.
Ele defendeu um novo “projeto nacional de desenvolvimento” com apoio à indústria e ao comércio nacionais, que, na avaliação dele, estão “sofrendo”.
“O Brasil é o país que mais destrói as próprias indústrias no capitalismo mundial”, acrescentou.
Propostas
Entre as propostas que apresentou durante o discurso, o candidato do PDT manifestou intenção de:
Gerar empregos. Para ele, a “primeira e mais urgente tarefa”;
Aumentar a presença do governo na segurança pública;
Reduzir a espera no atendimento na saúde, para a realização de exames;
Investimento maciço em educação;
Creches em tempo integral, melhoria na qualidade do ensino fundamental;
Prosseguir e aperfeiçoar a politica de cotas;
Combater “com dureza e intransigência” a corrupção.
“[Precisamos] acabar com a vergonha da extrema pobreza, avançar na educação e em uma saúde que atenda a mínima dignidade do povo, apostar na diversidade, e investir na ciência e na tecnologia”, disse o pedetista, enumerando as prioridades caso se torne presidente do país.
Trajetória política
A eleição presidencial de 2018 será a terceira tentativa de Ciro Gomes de chegar ao Palácio do Planalto. Ele concorreu nas eleições de 1998 e de 2002 pelo PPS, mas em nenhuma das duas disputas chegou ao segundo turno.
Ex-governador do Ceará e ex-prefeito de Fortaleza, Ciro Gomes já foi deputado federal e está no sétimo partido desde que entrou para a política – também foi filiado a PDS, PMDB, PSDB, PPS, PSB e PROS).
Atual vice-presidente do PDT, foi ministro da Fazenda entre setembro de 1994 e janeiro de 1995, período final do governo Itamar Franco e início do governo Fernando Henrique Cardoso.
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MANHÃ DE DOMINGO

Artigo de Fernando Gabeira
Há uma velha música regravada pelo Faith No More chamada “Easy” (like Sunday morning). O easy, na canção, significa tranquilo, leve, descontraído. Ao pé da letra, quer dizer fácil. Creio que os três deputados do PT acharam que seria fácil, como a manhã de domingo, libertar Lula de sua prisão em Curitiba. Acompanhei tudo a 12 mil quilômetros de distância, incrédulo e bastante frio em relação ao desfecho. Cheguei a pensar que estava ficando blasé, ou mesmo que tinha perdido contato com a realidade do país. Só me desfiz do complexo de culpa quando soube que, no olho do furacão, Lula pensava mais ou menos da mesma maneira: não vai ser fácil me tirar da prisão — teria dito ele para seus deputados.
Mais tarde, minha sensação se confirmou no vídeo em que José Dirceu comemorava a saída de Lula na cadeia. Ele estava tão emocionado quanto estaríamos depois de uma vitória do Brasil contra o Panamá. Seu ar era muito mais de travessura do que de vitória. Concluí, mesmo vendo tudo de tão longe, que estávamos diante do que os russos chamam de provokatsiya, uma tentativa contundente de colocar um tema na agenda, independentemente do resultado. Como a imprensa, de todos os horizontes, precisa eletrizar sua plateia, mantê-la colada ao desenrolar de um fato, só se falou nisso no domingo. E não foi por acaso que alguns jornalistas estrangeiros compararam o fato a uma novela.
A origem disso está numa análise mais realista do PT, segundo a qual seu grande líder só teria chance de ser libertado se houvesse uma grande comoção popular. Isso não aconteceu nos primeiros meses. A própria solidariedade internacional é minguante, quando não acontece nada no país. Isso vale para prisioneiros em diferentes posições no espectro político. Faz um abaixo-assinado, como de um defensor dos direitos humanos na Chechênia, mas com o tempo só resta escrever: não podemos esquecer nosso preso, lembrem esse nome etc. A vida continua, outros presos entram em cena, alguém faz greve de fome na Crimeia, de novo a advertência: cuidado que pode morrer etc., mas ainda assim a vida continua.
Diante desse quadro desolador para ele, o PT decidiu arriscar um golpe de mão. Como na sua cabeça a Justiça é partidarizada, não resta outra saída exceto usá-la quando um juiz amigo estiver de plantão. O resultado, em termos eleitorais, foi ocupar o espaço de debate no fim de semana. Candidatos, presos ou não, costumam comemorar a ocupação de espaço, sem analisar o conteúdo. Seu nome fica na boca do povo. No entanto, ao escolher uma tese de partidarismo na política, o PT deixou muitas pessoas com medo, não só do que seria capaz, se voltasse ao governo. Mas com a possibilidade de cada grande partido tirar um dos seus nos plantões de fim de semana. O Brasil seria uma terra sem lei. No fundo, não aconteceu nada e o país discutiu esse não acontecimento durante toda a semana. Ele ocupou o espaço pós-Copa do Mundo, precisamente o espaço necessário para o início de um debate sério sobre os rumos do país. Até o momento, uma parte substancial da esquerda está ausente dele, porque se fixou na libertação de Lula.
O próprio PSOL, através de seu candidato Guilherme Boulos, fez uma intervenção que sensibiliza quem está na Rússia. Disse que Moro saiu da praia de tanguinha para manter a prisão de Lula. Não havia evidência de que Moro estava na praia, muito menos que usava tanga. O que Boulos quis insinuar com isso? Não é por acaso o candidato do partido que defende os gays? Não tem um deputado gay no Congresso e um ícone na figura da vereadora assassinada do Rio Marielle Franco?
Na vida política do Brasil, parece que tudo se derrete no ar. E, no entanto, temos toda uma reconstrução pela frente.
Artigo publicado no Globo em 14/07/2018
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sexta-feira, 20 de julho de 2018

RECORDANDO PADRE CÍCERO

Há exatos 84 anos, a população de Juazeiro do Norte, no Ceará, dava último adeus a Cícero Romão Batista, o Padre Cícero. Nascido em 24 de março de 1844, Crato (CE), Padre Cícero faleceu em 20 de julho de 1934, em Juazeiro do Norte. Carismático, Padre Cícero ou “Padim Ciço”, obteve grande prestígio e influência sobre a vida social, política e religiosa do Ceará e da Região Nordeste do Brasil.

Padre Cícero, foi o primeiro prefeito de Juazeiro do Norte, em 1911, quando o povoado foi elevado a cidade. Voltou ao poder, em 1914, quando o governador Marcos Rabelo foi deposto. No final da década de 1920, o Padre Cícero começou a perder a sua força política, que praticamente acabou depois da Revolução de 1930. Seu prestígio como santo milagreiro, porém, aumentaria cada vez mais.
Em 1° de novembro de 1969 no alto do Horto, em Juazeiro do Norte foi erguido uma estátua (a terceira maior do mundo) em homenagem ao Padre Cícero Romão Batista. Em 22 de março de 2001 “Padim Ciço” foi eleito o cearense do século.
A trajetória religiosa e política de Padre Cícero é relatada na excelente biografia Padre Cícero: poder, fé e guerra no sertão, do jornalista Lira Neto. A obra é primorosa, resultado trabalho intenso de dez anos de pesquisa, baseada em documentos raros e inéditos tornam a biografia a mais completa obra sobre a vida do mais amado e controvertido religioso que o Brasil já teve, Padre Cícero, para os romeiros e fiéis, o “Padim Ciço”.
Clique aqui e ouça a música Viva meu Padim, composta pelo Rei do Baião, Luiz Gonzaga e João Silva para homenagear Padre Cícero. A canção tem a participação especial de Benito di Paula. 
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A COPA DA REALIDADE

Artigo de Fernando Gabeira
Sempre que uma Copa do Mundo é realizada, suscita em mim uma ingênua pergunta: é possível canalizar a energia nacional para outro tema que não seja o futebol? A reconstrução do Brasil, por exemplo?
A pergunta é ingênua porque uma Copa do Mundo é competição internacional com objetivos bem definidos e regras claras. É fácil torcer pelo Brasil e a vitória se mede de forma inequívoca a favor de quem marca mais gols.
Os observadores da História recente da Rússia – escrevo de Moscou – indicam que o país vivia uma crise muito grande na virada do século e essa crise se caracterizava também por falta de uma ideia unificadora. Foi quando surgiu Putin prometendo recuperar a grandeza perdida.
Nunca chegamos a ser uma potência mundial. Não temos, portanto, a nostalgia de glórias pretéritas. No entanto, mesmo descontando a megalomania e o voluntarismo do período do petismo, podemos ser mais importantes do que somos no momento.
Num processo eleitoral com tantas divisões, é irreal pensar numa unidade que nos arrebate como a possível conquista da Copa do Mundo. Mas quem sabe não seja possível buscar essa visão quase utópica comendo pelas beiradas, como se diz na gíria política.
A CNI produziu uma série de documentos e produziu debates entre os candidatos, buscando algum nível de consenso entre as suas propostas para o país. Assim o farão outras entidades de classe. O comandante do Exército recebeu os candidatos não para propor políticas, mas para ouvi-los e preparar a instituição para trabalhar com aquele que entre eles for o eleito pelo processo democrático.
Ao menos na aparência, a tarefa do eleitor será escolher bem seu candidato. Mas não creio que a tarefa se esgote aí, entre nós, eleitores com alguma experiência. É possível traçar um roteiro que nos leve a alguns pontos de unidade, a algumas saída em que, não importa quem seja o vencedor, o Brasil saia ganhando.
Por exemplo: quando ouvimos a opinião de milhares de brasileiros sobre o que o País precisa, é muito grande o número dos que apontam obras inacabadas como um dos nossos grandes problemas. É possível levar os candidatos a se comprometerem, nos primeiros cem dias de governo, a apresentar um plano de conclusão dessas obras. É simplesmente impossível desejar que o mesmo plano valha para todos, um vez que as prioridades de cada um são diferentes. Mas o simples fato de obter um compromisso nesse campo, contando com as diferenças individuais, já seria uma vitória.
Da mesma forma, é possível destacar o saneamento como um tema nacional, tão inequívoco como a necessidade de derrotar em campo a Sérvia ou a Costa Rica. Cabem aí tantas variações quanto os palpites num bolão, escalar Gabriel de Jesus ou Firmino, usar 4-3-3 ou 4-4-2, não importa. O que realmente importa é ganhar essa partida. E nossos candidatos como um técnico de seleção têm de apresentar seu projeto e ser cobrados por ele.
Outro tema que nos pode unir é o combate à corrupção. Sei que alguns o desprezam. Mas são tão poucos como os que não se importavam com uma vitória do Brasil na Copa.
Aqui também, apesar da aparente unanimidade, há opiniões diversas. O projeto de iniciativa popular, dilacerado na Câmara, tem muitos pontos questionáveis, até mesmo à luz da Constituição. No entanto, uma resposta ao problema também é uma questão nacional, se consideramos as opiniões em todos as enquetes populares do tipo o Brasil que eu quero. A esquerda brasileira despreza esse tema, mas, assim como em 1992 em nosso país, ele foi um dos mais importantes nas eleições mexicanas, em que Obrador triunfou.
Enfim, embora não seja fácil impulsionar alianças dos candidatos, e, de qualquer forma, duas visões diferentes vão se encontrar no segundo turno, talvez seja possível costurar uma aliança de expectativas dos eleitores. Pessoalmente, conheço todos os principais candidatos. Não me sentiria confortável apontando seus defeitos ou exaltando suas qualidades. Meu esforço é escapar disso e encontrar uma área de atuação em que, de certa forma todos ganhem.
Os mais empolgados veem nisso uma forma de subir no muro. É uma ilusão: nada mais fácil do que acionar a metralhadora giratória num leque tão vulnerável de candidatos. O problema é que, saindo do Brasil, ainda que por um curto de período de tempo, é possível sentir como nos atrasamos e como em alguns pontos estamos retrocedendo.
De certa forma, os benefícios da Copa do Mundo escorreram entre os dedos em 2014. Os russos aproveitaram melhor. As cidades, como Moscou, viveram um momento de florescimento urbano real.
É cada vez mais necessário sentir a urgência de retomar o caminho das reformas econômicas e políticas. Os mais combativos verão o caminho através do conflito e das contradições. E até certo ponto têm razão. O problema é que nos últimos tempos essa tática acabou aprofundando a divisão do País e nos afastando cada vez mais de uma ideia unificadora.
Não seria o momento de uma inflexão? Do reconhecimento de que, apesar das divergências, é preciso trabalhar nos temas unitários para atingir um objetivo não tão inequívoco como vencer uma Copa do Mundo, mas pelo menos estar entre os melhores?
Temos tudo para isso: talento, extensão, recursos naturais, cultura. Claro que nessa lista estou omitindo nossos defeitos. Mas é exatamente disso que se trata: fixar nas qualidades e tentar um passo à frente.
Num simples artigo não é possível abordar todos os pontos em que uma expectativa unitária possa ser construída. Mas é em torno dessa ideia que pretendo trabalhar depois desta passagem pela Rússia, no momento em que arrumo as malas para cair na real.
Como sempre, ao som de Antonio Carlos Jobim, minha alma canta.
Artigo publicado no Estadão em 13/07/2018
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quinta-feira, 19 de julho de 2018

CANAL DIRETO

Atenção: O Whatsapp criou um canal de comunicação direto com a Justiça Eleitoral para facilitar o cumprimento de decisões judiciais sobre conteúdo divulgado por meio do seu serviço. A iniciativa segue medida semelhante adotada pelo Facebook. O objetivo é garantir rapidez e efetividade às decisões da Justiça Eleitoral que tratam de conteúdos divulgados na internet.
“As duas plataformas digitais criaram endereços de e-mail para que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) encaminhem intimações, notificações, citações ou pedidos para a tomada de providências que atendam ordens da Justiça Eleitoral. O serviço funcionará até a diplomação dos candidatos eleitos em 2018, que ocorrerá até o dia 19 de dezembro”, explica notícia distribuída pelo TSE.
“Com a iniciativa de criar esse canal direto com a Justiça Eleitoral, as empresas cumprem o disposto na Resolução TSE nº 23.547/2017, que dispõe sobre representações, reclamações e pedidos de resposta previstos na Lei n° 9.504/1997 (Lei das Eleições). O artigo 9º da Resolução determina que os veículos de comunicação, inclusive via internet, informem os respectivos endereços, incluindo o eletrônico, para receber comunicações judiciais da Justiça Eleitoral. Alternativamente, poderão também informar um número de telefone móvel para receber mensagens instantâneas. Além disso, devem informar o nome de um representante ou procurador com poderes para receber citações”.
Do site Focus
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quarta-feira, 18 de julho de 2018

DEU RUIM

Da Folha de S.Paulo
O Ministério Público de São Paulo divulgou nota no fim da manhã desta quarta-feira (18) para defender a atuação de membro da corporação que solicitou a abertura de um inquérito contra o presidenciável Ciro Gomes (PDT) por injúria racial e acabou sendo chamado de “filho da puta” pelo pedetista.
O texto, porém, revela mais do que o apoio da instituição ao seu quadro. Ele mostra que o alvo do xingamento do pré-candidato foi uma mulher, uma promotora, e não um homem, como supôs Ciro. O nome da investigadora está sendo preservado pelo órgão.
A polêmica fala foi proferida pelo pedetista em um evento da Abmaq (Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos).
Ciro comentava o pedido de investigação feito pelo Ministério Público, quando disse: “Agora um promotor aqui de São Paulo resolveu me processar por injúria racial. E pronto. Um filho da puta desse faz isso e pronto. Ele que cuide de gastar os restinhos das atribuições dele. Se eu for presidente essa mamata vai acabar. Ninguém pode viver autonomamente, a lei está acima de todos nós”.
Ciro concluiu a fala alegando que só se tornou alvo da ação do MP paulista por estar na corrida presidencial. Ele indaga ainda quem poderia ressarci-lo pelos danos que ocasionalmente sua imagem poderia sofrer por conta da ofensiva do órgão.
O Ministério Público de São Paulo pediu o inquérito depois que, em entrevista à Jovem Pan, Ciro chamou o vereador Fernando Holiday (DEM-SP), ligado ao MBL, de “capitãozinho do mato”. Holiday é contra, por exemplo, a política de cotas nas universidades.
Veja a íntegra do texto do Ministério Público abaixo:
O MPSP vem a público esclarecer que a atuação da promotora de Justiça que requisitou inquérito policial sobre eventual prática de injúria racial por parte do senhor Ciro Ferreira Gomes dá-se estritamente dentro dos marcos estabelecidos pela legislação e pela Constituição, que garante a inviolabilidade das prerrogativas dos membros do Ministério Público, cuja atuação ocorre sempre em nome da sociedade.
Sendo assim, cabe ressaltar que os termos com os quais o investigado referiu-se à promotora são completamente inapropriados. Compete ao conjunto dos promotores de Justiça, nos termos do artigo 127 da Carta Magna, defender a ordem jurídica e o regime democrático. E esse trabalho continuará sendo feito com a mais absoluta serenidade, levando-se em conta rigorosos parâmetros de profissionalismo, técnica e impessoalidade.
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quinta-feira, 12 de julho de 2018

'DO SVIDANYA'

Artigo de Fernando Gabeira
Volto pra casa tranquilo. Fiz o que a comissão técnica determinou. Vinha de um final de temporada no Brasil, uma viagem por semana. Nosso país não é tão grande como a Rússia, mas há longos trechos em estradas perigosas.
Deveria ter feito algumas substituições. Mas vacilei. Uma delas é a do tradutor eletrônico por um que fosse de carne e osso.
Eram sempre máquinas conversando. E, às vezes, um sorriso meio irônico, com as frases ridículas: encontre-me nunca mais naquela esquina.
Roupa suja lava-se em casa. Em Moscou, o preço da lavanderia no hotel é exorbitante. Compro um par de meias novo pelo preço da lavagem.
Se você está acostumado a ler, como eu, a imprensa ocidental, Rússia e Chechênia dão medo. Venenos que matam aos poucos, gays torturados, bandidos atacando jornalistas nas montanhas…
Minha proteção é a completa desimportância. Senti que fui roubado algumas vezes, ajudado em outras. Mas era sempre coisa pequena, muito obrigado, bola pra frente.
Correspondente estrangeiro e motorista de táxi formam uma dupla inseparável. Aprendi a não citá-los, pois é um terrível lugar-comum. Menciono apenas a música que me ofereceram no caminho. A chechena é melodiosa, tem balanço; a russa, às vezes, é meio dura.
Creio que esta foi a minha última Copa do Mundo. A História da cultura russa é monumental. No Qatar, estarei quatro anos mais velho e, sem desmerecer, terei que cavar relatos no deserto — aqui, eles brotam em cada estátua, cada monumento, nas cúpulas, meias cúpulas, torres.
Na outra Copa, então, nem pensar. Com 85 anos, terei de cruzar México, Canadá e perder a final nos Estados Unidos, onde não me deixam entrar. Se for só o México, talvez dê jogo. Mas isso, como diz o técnico da seleção brasileira, vamos discutir no futuro, com a cabeça fria.
Para Moscou, onde será a final da Copa de 2018, convergem agora todas as torcidas latinas e africanas espalhadas pela imensidão da Rússia. São como corpos dando na praia depois de um naufrágio.
O último brasileiro em ação neste Mundial era o lateral da Rússia, Mário Fernandes. Na mesma noite, fez o gol do empate na prorrogação e perdeu um dos pênaltis na derrota de seu time.
O que fazer? Os russos estão comemorando o fato de terem chegado tão longe. Os panamenhos comemoraram o seu primeiro gol na Copa do Mundo.
Da minha parte, comemoro ter trabalhado com uma garotada tão cheia de energia, recolhido algumas imagens do momento na Rússia, visitado museus e visto a intimidade preservada de grandes escritores.
Agora, como diz o professor, é levantar a cabeça e encarar o Brasileirão, inclusive a segundona, se é que me entendem.
Meu neto continua dormindo com a camisa amarela. Temo que ele vire aquele soldado japonês que seguiu anos na mata, tempos depois de a guerra ter acabado.
Ele não sabe que ainda virão outras Copas, muitas outras, e que tudo está em movimento, sempre. Também não precisa aprender de estalo, senão vai se sentar sob a copa de uma árvore, deixar a família e meditar.
E isso já é realmente outra Copa.
Artigo publicado no Globo em 10/07/2018
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quarta-feira, 11 de julho de 2018

RECORDANDO ZÉ PRADO

Memória – Em 11 de julho de 1931, nasce em Sobral (CE), José Parente Prado, filho do ex-prefeito de Sobral Jerônimo Medeiros Prado e Francisquinha Gomes Parente Prado. Em continuidade aos passos do pai, Zé Prado ingressa na política em 1972.
Eleito prefeito de Sobral por duas vezes, deputado estadual por três legislaturas. Casado com dona Maria do Socorro Barroso Prado; tiveram três filhos: Ricardo Prado, Marco Prado e José Inácio.
Zé Prado torna-se um dos políticos mais respeitado e admirado em Sobral - zona norte – e no Estado do Ceará. Sempre empenhado no bem-estar do povo sobralense e do Ceará respeitou o rico e esteve sempre em defesa do pobre.
Com jeito simples, amigo e companheiro de fazer política, ele cativou até adversários, que se rendiam a um abraço do “Zé dos Pobres”, como era conhecido pela população sobralense.
José Parente Prado faleceu em 26 de maio de 1999, vítima de infarto, no Hospital Dr. Estevão, em Sobral (CE). Deixou esposa, filhos, Pai (faleceu em 2003), irmãs, netos, parentes e amigos!
Saudade do “Zé dos Pobres”!
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terça-feira, 10 de julho de 2018

FERIADO CÍVICO

A Revolução Constitucionalista de 1932 completa 86 anos hoje. É o maior feriado cívico do Estado de São Paulo, onde os paulistas homenageiam os combatentes da Revolução Constitucionalista de 1932, que ficou conhecida como Guerra Paulista.
Com o rompimento da chamada “política do café com leite”, em 1929, entres os Estados de Minas Gerais e São Paulo, desencadeou a Revolução de 1932.
Em reação ao fim da política do café com leite, os estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul lideraram o movimentou que culminou no Golpe de 1930.
Os paulistas saíram derrotados do embate, mas não se pode dizer que foi em vão; em 1934 sob pressão social o governo de Getúlio Vargas criou uma nova Constituição Federal.
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domingo, 8 de julho de 2018

BOM ENQUANTO DUROU

Artigo de Fernando Gabeira
Estava me acostumando, é hora de voltar. Um pouco mais, talvez eu me acomodasse
Depois de tanta retranca e de tantos pontapés, um jogo. Esse gesto de desenhar um retângulo no ar, indicando a tela de TV — e o VAR —, parece que contaminou o mundo. Jornalistas, torcedores, turistas, espectadores ocasionais, todos parecem fazer um retângulo no ar antes de emitir sua opinião.
Tenho assistido aos jogos em russo. Comentários e debates, também. Acho ótimo, pois não entendo nada. Só no dia seguinte consigo ver o que se passa no Brasil. Os debates são acalorados, mas felizmente há uma muita gozação recíproca.
Jornalistas esportivos não usam gravata, são mais leves. Alguns se politizaram com o tempo e ganharam a solenidade de um senador. Mesmo assim, só de vez em quando.
A Copa está para os jornalistas esportivos como Florença, para Leonardo da Vinci, no século XV: estimula a criatividade e a associação de diferentes disciplinas. É a biografia de Da Vinci que estou lendo no intervalo dos jogos e no tempo em que passo batendo perna, fotografando a Rússia.
O que une a todos é a paixão pelo futebol. Apesar de o meu trabalho não estar diretamente ligado a ele, assisti a todas as partidas, mesmo as mais tediosas, como Bélgica e Inglaterra, França e Dinamarca.
Confesso que foram poucos os lances que me fizeram saltar da cadeira, exceto, é claro, os gols do Brasil, por menos plásticos que tenham sido.
Os jovens não se lembram muito da tabelinha, consagrada por Pelé e Coutinho e muito comum no futebol brasileiro. Hoje há um tal bolo na área que as tabelinhas ficam bem mais difíceis. Parece que existe também uma barreira em que todos os chutes a gol esbarram e nas quais se perdem.
Tanto que alguns dos gols mais interessantes foram feitos bem de fora da área. Os de Cavani contra Portugal, Di Maria contra a França e Pavard contra a Argentina.
Eu sabia que o grande adversário seria a Bélgica. Acabaram vencendo, embora ainda ache que o nosso futebol é superior. A saída do Brasil muda toda a minha perspectiva. Trabalhei até o primeiro jogo da tarde. Passei a manhã na casa de Gorki.
Tudo muito bem, mas creio que tenha chegado a hora de arrumar as malas. A força que nos movia e o interesse pela Rússia dependiam muito do nosso futebol.
Isso não significa que o interesse vá desaparecer. Pelo contrário, levo muitas histórias na bagagem, e algumas delas vou escrevendo ainda por aqui.
Assim como iríamos comemorar juntos, vamos viver juntos a dor da derrota. Ela é muito diferente de 2014. Caímos jogando melhor no segundo tempo, perdemos alguns gols que em outras circunstâncias seriam imperdíveis — enfim, coisas do futebol. Como sempre, na vitória ou na derrota, ele nos prepara para a vida. E temos um ano cheio pela frente agora que, de uma certa forma, a Copa do Mundo deixou de despertar em nós um grande interesse.
Hoje acordei, chamei um táxi e, para minha surpresa, ele chegou na mesma hora. Fui ao museu, entrei no metrô e, num átimo, descobri a linha que me trazia de volta.
Estava me acostumando. Hora mesmo de voltar. Um pouco mais de tempo, talvez me acomodasse. Pelo menos esse é um consolo. A vitória talvez nos empurrasse para novos desafios.
Mas, falando em desafio, isso é o que não falta ao Brasil. Inclusive o de ganhar a próxima Copa do Mundo.
Artigo publicado no O Globo em 06/07/2018
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