O novo governo ainda não tomou posse, e os derrotados tentam
se aglutinar para ganhar a próxima eleição, em 2022. Não percebem que, mais do
que Bolsonaro vencer a eleição de 2018, a população brasileira disse “não” aos
que agora defendem unidade dos derrotados. Querem ganhar o próximo pleito com a
mesma postura que apresentaram, com o mesmo discurso e a mesma falta de
sintonia com o futuro.
O povo disse não a essas siglas que tentam se aglutinar sem
fazer autocrítica, sem entender onde erraram, sem formular alternativas.
Parecem acreditar que foi o povo quem errou, escolhendo outro candidato, e
propor uma nova chance aos eleitores para acertarem em 2022. Dizem que o único
errado é o PT, do qual agora se afastam depois de terem bajulado Lula ao longo
de anos. Esquecem que, no primeiro turno, o PT teve mais votos que todos os
candidatos das siglas que agora se dizem da esquerda não petista. E insistem na
esquerda em nada diferente do que o eleitor repudiou em outubro. Não percebem o
apego do povo ao país e seus símbolos, continuam falando para as comparações,
de empresários e de trabalhadores, cujas reivindicações asfixiam as finanças
públicas. Não entenderam o esgotamento gerencial e fiscal do Estado, nem
assumem compromissos com responsabilidade fiscal e estabilidade monetária.
Se quiserem fazer oposição pelo bem do Brasil, esses
partidos e líderes precisam começar a fazer oposição a si próprios: entender
onde estão errando há décadas, formular uma proposta para o futuro do Brasil,
definir como dar coesão e rumo ao país e a sua sociedade, dividida socialmente
e improdutiva economicamente. Dizer em que esse caminho é antagônico ao do PT e
ao do Bolsonaro e, por isso, oposição aos dois.
A primeira autocrítica seria à política do compadrio de
siglas com propósito eleitoreiro, como tentaram durante os dois meses que
antecederam o pleito e tentam agora olhando 2022. A segunda é entender que
perderam sintonia com os rumos da história; perceber as revoluções que
ocorreram no mundo: a globalização e as amarras que provocam na economia
nacional; a informática, a robotização e o desemprego estrutural consequente;
os limites ecológicos ao crescimento; o aburguesamento dos movimentos sindicais
e a miopia e oportunismo dos movimentos sociais; a importância da educação de
qualidade igual para todos como o vetor do progresso econômico e social. A
terceira é perceber que não se constrói justiça social sobre economia
ineficiente; por isso, é preciso respeitar os limites orçamentários,
despolitizar regras da economia, zelar pela estabilidade monetária, reconhecer
o papel do livre-comércio e a necessidade de reformas que desamarrem o Brasil.
Concentrar os propósitos revolucionários na garantia de escola com qualidade
igual para todos: os filhos dos trabalhadores na mesma escola que os filhos dos
patrões.
Uma oposição consequente deve começar pela autocrítica de
seus erros, reconhecendo não ter oferecido uma alternativa progressista e
sintonizada com o espírito de nossos tempos. Cada democrata-progressista deve
fazer oposição ao que Bolsonaro representar de retrocesso, mas isso não basta:
é preciso avançar dizendo que rumo pode oferecer para um Brasil eficiente,
justo, sustentável, livre.
Antes de fazer oposição aos vitoriosos, a “exquerda”
nostálgica que tenta se aglutinar precisa fazer frente a seu próprio passado
derrotado, não apenas por Bolsonaro, mas pela história. Sem isso, chegará em
2022 outra vez sem propostas para o futuro ou dizendo que seu projeto é apenas
ser contra o novo governo e o PT ao qual serviram até ontem.
Engenheiro, doutor em Economia, foi Reitor da Universidade
de Brasília, governador do Distrito Federal, ministro da Educação, atualmente é
Senador da República (PPS-DF)
Nenhum comentário:
Postar um comentário