Sim, juro que não queria mas tá difícil escrever uma
crônica otimista. Sempre questionei a validade ou eficácia da tal “crônica
militante” e nem me imagino fazendo algo que preste nesse sentido.Mas
diante do momente presente vocês vão me desculpar. Mesmo que correndo o risco
de ser mal avaliado , voilá !
O meu, o nosso país, não é um amontoado de larvas que aderem
às carnes podres.Por isso protesta , mesmo que timidamente, diante da
putrefação total das instituições. Estamos compondo um poema de Augusto dos
Anjos e suas funestas metáforas. Mas não nos emendamos.Não devíamos ser esse
arremedo de medos e difamações,de fogueiras justiceiras e deseducações.
Não somos um gente irada a bradar certezas , não é o sangue
nos nossos olhos que vai nos dar razão. É a conciliação. Mas onde, afinal, ela
está ? onde fica esse país , soma de gentes e de países outros ? de pessoas
crentes e impenitentes ? Um país não diz só que o futuro “ a Deus pertence” mas
ergue o seu próprio destino, dá liga à sua própria argamassa, distensiona
tensões com a prosa nas varandas onde remotas brisas trazem passados mais
gloriosos. Um país é feito, ainda, de bandas, lendas, circos, enormes pedaços
doces de bolos amorosos, mulatas, evangélicos, católicos, ateus e
renegados.
Mas um país não é feito de meias verdades e nem de justiças
seletivas, mártires inócuos ou heróis de ocasião. Um país é feito de sua
própria história ,dos seus rios, suas árvores derrubadas, seus prédios
públicos, seus túneis escuros , suas serras e espinhaços.Por fim um país não é
feito de grandes miopias.Não, antes de mais nada é preciso enxergar as
alegrias, saudar sim os bem nascidos mas cuidar dos desassistidos, costurar,
cerzir , bordar um longo manto a agasalhar o pranto daqueles que precisam.
*Ricardo Soares é diretor de tv, roteirista, escritor e
jornalista. Publicou 8 livros , dirigiu 12 documentários.
Nenhum comentário:
Postar um comentário