Por Fausto Macedo, O Estado de S.Paulo
O Ministério Público do Estado de São Paulo e a Siemens
assinaram nesta quinta-feira, 27, acordo de cooperação – Termo de Ajustamento
de Conduta – por meio do qual a multinacional se compromete a repassar aos
promotores que investigam o cartel do sistema metroferroviário todos os
documentos preservados em seus arquivos, inclusive da matriz na Alemanha,
“notadamente cópia de contratos de consultoria (business agreement consultancies)
e respectivos comprovantes de transferência ou pagamentos bancários” .
Os contratos de consultoria são o principal alvo da
promotoria porque podem revelar os destinatários de recursos ilícitos,
inclusive agentes públicos brasileiros. O pacto, com validade de 90 dias,
deverá acelerar os trabalhos da Promotoria do Patrimônio Público e Social –
braço do Ministério Público que investiga corrupção.
A promotoria pediu, em caráter oficial, cooperação do
Ministério Público da Alemanha. A colaboração, no entanto, é cercada de atos
burocráticos que, muitas vezes, fazem arrastar por longos anos as demandas
entre países.
O acordo é subscrito por 7 promotores de Justiça do
Ministério Público paulista e, pela Siemens, seu presidente no Brasil, Paulo
Roberto Stark, o vice jurídico, Fábio Luciano Gomes Selhorst e o advogado
Domingos Fernando Refinetti;
O Termo de Ajustamento de Conduta é diferente do acordo de
leniência firmado pela Siemens com o Conselho Administrativo de Defesa
Econômica (Cade) em maio de 2013, pelo qual a empresa repassou ao órgão
antitruste do governo brasileiro documentação relativa aos contratos firmados
em São Paulo e no Distrito Federal e arquivos com correspondências pessoais de
seis executivos seus.
Em troca da cooperação em nível internacional, a Siemens se
livra de eventual ação judicial. O acordo diz que “em razão da colaboração
prestada não é necessária, neste momento, a propositura pelo Ministério Público
de ações cautelares ou ações civis públicas, ou outras medidas constritivas de
bens e direitos em face da Siemens.”
O Ministério Público de São Paulo conduz pelo menos 45
inquéritos civis para investigar o cartel do qual a Siemens e outras
multinacionais participaram no âmbito do Metrô e da Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos (CPTM).
Esses inquéritos poderão se transformar am ações civis
contra a Siemens. Mas o acordo prevê que a promotoria e a empresa “verificarão
a possibilidade de assinatura de termos de ajustamento de conduta visando à
resolução definitiva dos inquéritos civis”.
A Siemens também se compromete a apresentar. em prazos não
inferiores a 15 dias, as testemunhas residentes no país ou no exterior “que
poderão ser ouvidas e que possam prestar auxílio nas investigações”. O acordo
terá de ser homologado pelo Conselho Superior do Ministério Público, colegiado
presidido pelo procurador geral de Justiça.
Eventual “descumprimento injustificado” das solicitações ou
requisições do Ministério Público poderá acarretar a possibilidade da
propositura das ações e medidas cautelares ou ações civis cabíveis “não sem que
antes seja dada ampla oportunidade para que a Siemens, por meio de seus
advogados, apontem e fundamentem as razões e motivos de eventual
impossibilidade no cumprimento de tais requisições ou solicitações”.
ABAIXO A NOTA DA SIEMENS SOBRE O ACORDO:
“O acordo reconhece a postura colaborativa da Siemens e
define a estrutura de cooperação. A iniciativa irá auxiliar e apoiar as
investigações, e é mais um importante passo concreto para resolver a questão.
“Estamos fazendo tudo que é possível para esclarecer os fatos e encerrar este
capítulo embaraçoso do passado. A Siemens está comprometida com a luta por um
ambiente de negócios limpos e está empenhada em combater ativamente as más
práticas”, disse Paulo Stark, CEO da Siemens do Brasil.
Em linha com as suas regras internas de compliance, a
Siemens relatou descobertas sobre uma possível conduta anticompetitiva no setor
metroferroviário para o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) e ao
Ministério Público Estadual e Federal, em 2013. A autodenúncia voluntária foi o
resultado de uma investigação interna, detalhada e minuciosa que foi conduzida
na Siemens, no âmbito do programa de compliance da companhia, e deu origem a
uma série de investigações públicas ao longo dos últimos meses. A empresa tem
colaborado ativamente com o Ministério Público de São Paulo e outros órgãos.
Compliance é uma parte permanente e integral dos processos
de negócios da empresa. As Diretrizes de Conduta Profissional da Siemens
oferecem o enquadramento ético e jurídico em que a companhia conduz suas
atividades comerciais. O sistema de compliance visa assegurar que todas as
práticas de negócios da Siemens em todo o mundo permaneçam neste enquadramento,
bem como em conformidade com as leis aplicáveis. Para servir a esse propósito,
o sistema de compliance inclui três pilares: prevenir, detectar e responder. A
Siemens trabalha continuamente no fortalecimento do compliance e no combate à
corrupção e outros delitos graves, juntamente com parceiros de mercado e organizações
não governamentais”
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