terça-feira, 25 de março de 2014

...E NA PROXIMIDADE DOS 50 ANOS DO GOLPE...

Por Caio Rocha, professor de História, via Facebook
Sou avesso à militarismos, por motivos econômicos e convicção liberal no que se refere à política, embora concorde com alguns princípios que a vida em caserna abraça, como a noção de ORDEM, que é essencialmente necessária para o progresso material, social e filosófico-científico de qualquer povo.
A meu ver, este conceito não deve se originar ou se cristalizar socialmente em regimes centralizadores e disciplinadores que violam sistematicamente as liberdades individuais, como o que existiu entre 1964 à 1985. Cabe à própria sociedade democrática se esforçar por civilizar-se, dando subsídios para que o sistema educacional eleve o grau de instrução de seu povo, tornando-o mais culto, ordeiro e fazendo triunfar seu estandarte nos mais distantes rincões do planeta, guardando na natureza de cada indivíduo a rejeição à demagogia, ao fisiologismo, à violência e falta de isonomia institucional.
Vejo nas reedições das Marchas da Família com Deus pela Liberdade no Brasil de 2014 muito saudosismo em relação ao Brasil de 1964, em virtude do aumento dos casos de violência e da escancarada corrupção noticiada na imprensa. Creio eu ser por desconhecimento histórico, uma vez que clamam para que "salvem nossa democracia" justamente às pessoas avessas a ela, pois sabemos que os militares, uma vez no poder, usariam de todos os subterfúgios para permanecerem com poder de mando.
Olhemos para o passado: Não vemos democracia em Deodoro, Floriano Peixoto e Hermes da Fonseca. Nem em Getúlio, que subiu ao poder com ajuda dos militares e era também militar, nem em Castelo Branco, Costa e Silva, Geisel, Médici ou Figueiredo. Talvez o mais democrático militar a se tornar presidente tenha sido Eurico Gaspar Dutra, já que desmontou o Estado Novo varguista com a Carta de 1946, mas o mesmo teve os seus momentos de rigidez, a partir do auge da Guerra Fria.
O presidente João Goulart era um político populista e incompetente que adotou medidas econômicas impopulares. Deveria ter concluído o seu mandato e não ser mais eleito como mandatário. E em caso de denúncias de corrupção, ser afastado pelo Congresso Nacional, assim como se procedera com Fernando Collor, sem atuação do exército. Da mesma forma, não se pode usar a insegurança na atualidade como argumento a se justificar uma intervenção das forças armadas para se afastar uma governante constituída e democraticamente eleita, por mais que discordemos infinitamente da maneira como administra a nação.
A ditadura brasileira só serviu para criar mártires e "santos" de guerrilha que usaram de seus martírios como instrumento para se conseguir votos e projeção política na "nova" democracia. A melhor forma de se combater o comunismo, o fascismo e idéias estatizantes é o sacramento da individualidade em uma economia onde o mercado ofereça oportunidades de ascensão social por meio da geração de empregos, o que influi positivamente na melhoria do padrão de vida e a necessidade de maior instrução, criando sentimento de prosperidade que se traduz em uma alteração dos valores sacramentados na mentalidade coletiva, sendo menos fatalista e pró-cientificista/racional, onde cada um torna-se protagonista de sua própria história e passa a rejeitar tudo aquilo que lhe impeça de atingir o sucesso. Em matéria de economia, o regime militar distanciou-se do liberalismo e de certa forma inibiu o desenvolvimento dos agentes econômicos privados.
Os tempos de hoje são outros e os políticos são uma ameaça à democracia e à ordem, uma vez que insistem em cometer certos erros do passado, em vez de aprender com eles. Da insatisfação social deveria nascer um espírito reformador das instituições políticas, econômicas e jurídicas nacionais. Os protestos que acontecem desde junho de 2013 ainda produziram poucos efeitos práticos.
Somente com o respeito às liberdades individuais e à igualdade de tratamento do Estado faz nascer uma concepção pacifista de mundo, moldado por limites entre o direito individual e o direito de outros. Há uma relutância à mudanças, dado o grau de parasitismo em que se desgraçadamente se encontram. Não se pode negar o senso geral de ilegalidade nas relações interpessoais e isso é perigoso para qualquer democracia. As penas deveriam ser endurecidas e os privilégios que o Estado concede à uma casta que orbita em torno do serviço público serem cortados.
"Res publica" no Brasil não é e nunca foi coisa do povo. E com militares no poder, menos ainda.
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