Sou avesso à militarismos, por motivos econômicos e
convicção liberal no que se refere à política, embora concorde com alguns
princípios que a vida em caserna abraça, como a noção de ORDEM, que é
essencialmente necessária para o progresso material, social e filosófico-científico
de qualquer povo.
A meu ver, este conceito não deve se originar ou se
cristalizar socialmente em regimes centralizadores e disciplinadores que violam
sistematicamente as liberdades individuais, como o que existiu entre 1964 à
1985. Cabe à própria sociedade democrática se esforçar por civilizar-se, dando
subsídios para que o sistema educacional eleve o grau de instrução de seu povo,
tornando-o mais culto, ordeiro e fazendo triunfar seu estandarte nos mais
distantes rincões do planeta, guardando na natureza de cada indivíduo a
rejeição à demagogia, ao fisiologismo, à violência e falta de isonomia
institucional.
Vejo nas reedições das Marchas da Família com Deus pela
Liberdade no Brasil de 2014 muito saudosismo em relação ao Brasil de 1964, em
virtude do aumento dos casos de violência e da escancarada corrupção noticiada
na imprensa. Creio eu ser por desconhecimento histórico, uma vez que clamam
para que "salvem nossa democracia" justamente às pessoas avessas a
ela, pois sabemos que os militares, uma vez no poder, usariam de todos os
subterfúgios para permanecerem com poder de mando.
Olhemos para o passado: Não vemos democracia em Deodoro,
Floriano Peixoto e Hermes da Fonseca. Nem em Getúlio, que subiu ao poder com
ajuda dos militares e era também militar, nem em Castelo Branco, Costa e Silva,
Geisel, Médici ou Figueiredo. Talvez o mais democrático militar a se tornar
presidente tenha sido Eurico Gaspar Dutra, já que desmontou o Estado Novo
varguista com a Carta de 1946, mas o mesmo teve os seus momentos de rigidez, a
partir do auge da Guerra Fria.
O presidente João Goulart era um político populista e
incompetente que adotou medidas econômicas impopulares. Deveria ter concluído o
seu mandato e não ser mais eleito como mandatário. E em caso de denúncias de
corrupção, ser afastado pelo Congresso Nacional, assim como se procedera com
Fernando Collor, sem atuação do exército. Da mesma forma, não se pode usar a
insegurança na atualidade como argumento a se justificar uma intervenção das
forças armadas para se afastar uma governante constituída e democraticamente
eleita, por mais que discordemos infinitamente da maneira como administra a
nação.
A ditadura brasileira só serviu para criar mártires e
"santos" de guerrilha que usaram de seus martírios como instrumento
para se conseguir votos e projeção política na "nova" democracia. A
melhor forma de se combater o comunismo, o fascismo e idéias estatizantes é o
sacramento da individualidade em uma economia onde o mercado ofereça
oportunidades de ascensão social por meio da geração de empregos, o que influi
positivamente na melhoria do padrão de vida e a necessidade de maior instrução,
criando sentimento de prosperidade que se traduz em uma alteração dos valores
sacramentados na mentalidade coletiva, sendo menos fatalista e
pró-cientificista/racional, onde cada um torna-se protagonista de sua própria
história e passa a rejeitar tudo aquilo que lhe impeça de atingir o sucesso. Em
matéria de economia, o regime militar distanciou-se do liberalismo e de certa
forma inibiu o desenvolvimento dos agentes econômicos privados.
Os tempos de hoje são outros e os políticos são uma ameaça à
democracia e à ordem, uma vez que insistem em cometer certos erros do passado,
em vez de aprender com eles. Da insatisfação social deveria nascer um espírito
reformador das instituições políticas, econômicas e jurídicas nacionais. Os
protestos que acontecem desde junho de 2013 ainda produziram poucos efeitos
práticos.
Somente com o respeito às liberdades individuais e à
igualdade de tratamento do Estado faz nascer uma concepção pacifista de mundo,
moldado por limites entre o direito individual e o direito de outros. Há uma
relutância à mudanças, dado o grau de parasitismo em que se desgraçadamente se
encontram. Não se pode negar o senso geral de ilegalidade nas relações
interpessoais e isso é perigoso para qualquer democracia. As penas deveriam ser
endurecidas e os privilégios que o Estado concede à uma casta que orbita em
torno do serviço público serem cortados.
"Res publica" no Brasil não é e nunca foi coisa do
povo. E com militares no poder, menos ainda.
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