A mesma voz do bom senso que aconselharia o ministro Joaquim
Barbosa a ficar longe da política eleitoral ao menos até esfriarem os ânimos do
mensalão diria ao ex-presidente Luiz Inácio da Silva que disputar a Presidência
da República de novo não seria um bom negócio.
Em 2014, em 2018 nem nunca mais. O mesmo se aplica ao
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, guardadas algumas proporções. FH
ganhou duas no primeiro turno, saiu na segunda gestão mais para lá do que para
cá em termos de popularidade e vive uma ótima vida de homenagens sem deixar de
fazer política. Para que concorrer a uma eleição e ainda se arriscar a perder?
Lula saiu consagrado da Presidência. Com popularidade
altíssima depois de dois mandatos, capital político mais que robusto, o comandante
incontestável de seu partido em plena posse de suas atividades. Em português
claro: manda e desmanda, com mandato ou sem.
Porém, governou com céu de brigadeiro e a situação mudou.
Por que arriscar esse patrimônio concorrendo a uma eleição se a vida está ótima
assim? Para quem saiu com mais de 80% de aprovação, qualquer 75% é perda.
Ademais, o horizonte não se desenha risonho e franco para o próximo período.
Ocorre, contudo, que o PT precisa manter o poder. Não tem
outro nome além de Lula e se aflige com a possibilidade de não conseguir com
Dilma Rousseff. Daí o que o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho,
chama de "fofocas" sobre a possibilidade de o ex-presidente vir a se
candidatar agora no lugar da sucessora.
Há apostas do lado do "sim" e do lado do
"não". Hoje a balança pesa mais para a primeira hipótese. Mas, seja
qual for a decisão, não seria tomada agora. O ex-presidente tem tempo e razões
de sobra para postergar.
Vamos à lista dos motivos: 1.Dilma está na frente nas
pesquisas; 2. A oposição ainda não se configura uma ameaça que justifique
movimentos radicais; 3. Seria uma precipitação, pois as candidaturas só
precisam ser oficialmente definidas em junho; 4. Assumir a candidatura agora
equivaleria a dizer que Lula considera Dilma incapaz de ganhar e que, portanto,
o governo dela é um fracasso; 5. Fracasso dele, o fiador de gestora tão
competente como nunca antes aparecera neste País.
O essencial. Com todos os senões que se possam enxergar no
fato de uma decisão do Supremo Tribunal Federal ser reformulada pelos votos de
dois ministros que não participaram do julgamento, contrariando a maioria que
acompanhou passo a passo o processo, um dado é fundamental.
O projeto do partido no poder de que os réus, ou pelo menos
aqueles do chamado núcleo político, fossem absolvidos de maneira a prevalecer a
tese de que o mensalão foi uma farsa, não teve êxito.
A ideia de que uma Corte majoritariamente nomeada por
governos do PT poderia se submeter aos interesses do partido não vingou. Do
ponto de vista institucional na comparação com outros países em que o Poder
Executivo eleito de forma democrática, mas exercido de forma autoritária, o
Brasil saiu-se muito bem.
Nessa perspectiva tanto faz se altos dirigentes partidários
tenham formado uma quadrilha ou um "concurso de agentes" para o
cometimento de crimes.
O importante é o reconhecimento de que os cometeram e que,
mesmo poderosos e providos de costas quentes, estão pagando por isso. Não foram
declarados inocentes nem se podem dizer vítimas de injustiças. Tiveram todas as
chances.
Inclusive a oportunidade de um novo julgamento em instância
superior, em tese única. Se o enredo não saiu como previam, deve-se à solidez
dos homens e mulheres que não deixaram o Supremo Tribunal Federal se curvar às
conveniências do Planalto.
Breve pausa. A política se recolhe durante o carnaval,
voltando a abrir alas e a pedir passagem na próxima sexta-feira, dia 7.
Charge do Aroeira
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