domingo, 31 de julho de 2016

MORRE PÁDUA BARROSO

Do O Povo
Homenagem - A história política cearense passou a ter uma ausência física, mas não deixará de ter um dos maiores exemplos de luta pelo que se pensa. Morreu neste sábado, aos 87 anos, o advogado Antônio Pádua Barroso. Ele defendeu o primeiro civil durante a ditadura militar (1964–1985) e advogou, de graça, a favor de mais de cem presos políticos. Além de atuar na parte jurídica, Pádua sabia ajudar homens e mulheres torturados a manter a integridade em nome dos próprios ideais.
O advogado descobriu um câncer de pulmão em setembro de 2015. A doença progrediu e uma cirurgia não era indicada. Há dois meses, uma metástase cerebral foi diagnosticada e, desde o último dia 24 ele estava internado. No dia anterior à internação, enquanto assistia televisão, o bisneto lhe falava dos últimos aprendizados sobre mitologia grega. “Mesmo doente, ele acompanhou tudo isso que vem acontecendo com nossa política. Com uma habilidade emocional muito consciente. Mas, nas conversas, depois de rir muito, começava a chorar. Como se soubesse que ia nos deixar”, conta a filha mais velha, Valéria Barroso de Albuquerque, 56.
Das lembranças, o orgulho de ter um pai que nasceu pobre, lutou para estudar, tornou-se procurador da República e fez inúmeros amigos e história. “Ele era uma pessoa muito humilde. Para você ter ideia, a preocupação dele era de como iam ficar seus cuidadores. Ele dizia que era advogado e tinha uma banquinha no edifício Palácio Progresso”, lembra a filha.
As memórias sobre Pádua Barroso são ainda mais fortes para a irmã, Ester Barroso, com quem dividiu livros, ideologias e luta contra a ditadura. Ela recorda as orientações de leitura sobre Monteiro Lobato, a defesa que ele fez após ela passar dez dias de solidão e tortura, além das tentativas de expor a realidade da ditadura à imprensa e proteger quem dela sofria.
“Ele e a Wanda Rita (Othon Sidou, falecida em 19 de agosto de 1993) foram os únicos advogados que defendiam presos políticos aqui no Ceará. Quando eu fui presa e fiquei dez dias incomunicável, ele foi lá me defender e queria saber se eu tinha sido torturada. Falei que não, porque senão ele ia largar a mão na cara do delegado”, conta. O mais importante, segundo ela, era que o irmão continuasse defendendo os outros presos.
Um dos clientes e amigos de Pádua, o jornalista Valdemar Menezes, editor sênior do O POVO, diz que a atuação do advogado aconteceu no período mais obscuro da ditadura. “Ele era muito destemido.
Apesar de toda a pressão sobre ele, sempre enfrentava tudo com tranquilidade e firmeza”, relata. Há cerca de um mês, quando o visitou em casa, Valdemar disse que houve muita emoção.
“Relembramos a fase das perseguições, contamos muitas histórias. Ele fez questão de se levantar e me conduzir ao elevador antes de ir embora. Ele sempre foi muito digno”, diz.
O enterro de Pádua Barroso acontece às 10 horas deste domingo, no cemitério Jardim Metropolitano.
Frases
“Pádua era muito amigo, ia muito além do profissional. Procurava auxiliar a família e encorajar que estava preso”
Valdemar Menezes, jornalista
“Iam prender ele, matar de tortura. Quem defenderia os outros presos?”
Ester Barroso, irmã de Pádua Barroso, presa durante a ditadura
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