Artigo de Marta Suplicy, Folha de S.Paulo
A vida é mudança. Eu mudei a vida toda. Meu pai e minha mãe
são de família de industriais. Estudei em escola de freiras francesas. Na minha
juventude, mulher não tinha voz. O que eu fiz? Ajudei a construir um partido
para defender quem não tinha vez. E fui falar de sexo na televisão.
Hoje, olhando para trás, acho que acertei mais do que errei.
E por uma razão simples: consegui realizar boa parte das coisas que sempre
sonhei.
Tive três filhos, consegui me formar em psicologia, estudei
fora do Brasil, fiz mestrado e pós-graduação. Ao todo, cinco anos, nos quais
aprendi muito e adquiri uma visão cosmopolita para sempre. Num país de poucas
oportunidades para muitos, aproveitei todas que a vida me deu.
Na vida pública, a missão que abracei há cerca de três
décadas, dei um passo atrás do outro. Fui deputada federal, prefeita da minha
cidade, ministra duas vezes, senadora e primeira vice-presidente mulher do
Senado da República. E preciso confessar: eu olho para trás e sinto muito
orgulho do caminho que segui.
E o que isso tudo tem a ver com mudança? Tudo e nada – ao
mesmo tempo. Acho que fiz coisas importantes, que mudaram a vida de muita
gente: Bilhete Único, os CEUs, os corredores de ônibus, os uniformes de
excelente qualidade para estudantes marcados para se contentar com quase nada.
Mas, com o tempo, a gente aprende que as conquistas do
passado são apenas memórias boas. O que muda a nossa própria vida, de verdade,
não é o acerto. É o erro. Não é o passo certo. É o tropeço. Não é a linha reta.
É a curva que não foi prevista. É difícil admitir erros e pedir desculpas pela
decisão errada ou indelicadeza. No meio de muitos defeitos sei escutar,
reconsiderar uma certeza e mudar de opinião.
Na vida fui muito impulsiva e ainda tenho que melhorar na
paciência.
Quando fui prefeita, criei uma taxa que a cidade não poderia
pagar. Ministra do Turismo, disse uma frase que eu jamais poderia ter dito. Fui
mais intolerante do que deveria. E, às vezes, tolerei muito mais do que
gostaria. Paguei um preço alto para amadurecer.
Mas errar pode ensinar a rever crenças, atitudes, pensar,
tentar fazer melhor, mudar e ter força para começar de novo. Tanto na vida
pessoal como na profissional. E começar de novo não tem preço. É a garantia de
que estamos vivos e uma nova chance de não repetir os velhos erros.
Espero que lembrem mais dos acertos e me desculpem pelos
erros.
Sou a Marta. Eu erro e acerto. Mas quando eu erro, eu tenho
coragem para mudar.
PS: por falar em mudança, escrevo hoje a minha última
coluna. Sentirei saudades. Agradeço à Folha pela oportunidade de estar próxima
de vocês.
*
MARTA SUPLICY deixa de escrever nesta coluna porque vai
disputar a Prefeitura de São Paulo.
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