Artigo de Alberto Dines, Observatório da Imprensa
As mulheres da corrupção (para não falar só dos homens)
Onde estão as nossas Carmens Lucias, espelhadas na
presidente do Supremo Tribunal Federal? Elegantes, discretas, distintas,
convidando à conciliação e prudência, alertando ao país que é ” democracia ou
guerra”? Para não citar o que previu Levi-Strauss , para quem o Brasil vai sair
da barbárie para a decadência sem conhecer a civilização.
Enquanto o país mergulhava no buraco negro da corrupção, da
dívida e da ética na política e na economia, a prisão da ex-primeira-dama
carioca Adriana Ancelmo , encarcerada
numa cela de 6m2 em Bangú , jogava luz no que acontecia do lado de lá. E eram
muitos lados de lá.
A quebra de sigilo do ex-presidente da Câmara, Eduardo
Cunha, revela um e-mail de fevereiro de 2009 recebido da filha e publicitária
Danielle : “Dad, mesmo eu indo viajar, infelizmente não tenho cacife para
comprar tudo que gostaria”. Junto, uma listinha de compras que incluía uma
bolsa Balenciaga, sapatilhas Tony Burch, um trench coat inglês da Burberry,
óculos Ray Ban e camisas polo Ralph Lauren “para trabalhar”.
Danielle gastou U$5,000 em 11 dias com musicais, vestidos,
computador, vitaminas, produtos de beleza. A Polícia Federal analisa se o
cartão de crédito que pagou as contas era abastecido com propina já que não
aparece o nome de Cunha que usava e-mails com o codinome Carlos Trípoli.
Nenhum espanto, a mulher de Cunha, Claudia Cruz, gastou U$ 1
milhão em oito anos em lojas de grife e jantares em restaurantes 5 estrelas
pelo mundo.
A farra dos guardanapos
Já Riqueza, o apelido de Adriana Ancelmo, gastava em
joalherias como H Stern que vendia a domicílio para garantir a privacidade na
venda de 460 peças em dinheiro vivo no valor de R$7 milhões. O ex-governador
Anthony Garotinho se especializou em flagrar os luxos do casal Sergio Cabral ,
seu desafeto, como a foto de Riqueza em Paris exibindo a sola vermelha do
sapato Louboutin que , no barato , custa R$ 15.000, 00. Foi num jantar no hotel
Ritz no episódio conhecido como “a farra dos guardanapos”. O anel de ouro e
brilhantes da Van Chefe &Arpels exibido em outras fotos foi só um mimo de
R$800 mil bancado pelo amigo e empresário Fernando Cavendish, em Mônaco.
O estado estava à beira da inadimplência , o governador
comprava joias para Riqueza , recompensando as joalherias com isenção fiscal
das compras efetuadas pelo casal. Só a Antonio Bernardo , onde Riqueza era
conhecida como Lurdinha, recebeu isenção de R$39,8 milhões.
Sergio Cabral gostava tanto de presentear joias que até
Madonna ganhou uma, da H.Stern, isenção se R$113 mil nessa compra.
O próprio nome era
camuflado , em algumas ocasiões Cabral era Ramos Filho, noutras Nelma de Sá
Saraca, invenção então associada à ex-secretária do histórico tabloide de humor
0 Pasquim, e ao musical “Sassaricando”, ambos com Sergio Cabral ,pai , na sua
criação . Mas Nelma de Sá Saraca era empregada de Cabral e mora num quarto e
sala de 30 m2 em Maricá.
Alto luxo, lavagem de
dinheiro, Riqueza tinha papel central no esquema de corrupção do marido que
desviou pelo menos R$224 milhões na construção do Rio Maravilha da Copa, as
obras do Maracanã, Arco Metropolitano, a reconstrução das favelas e da Comperj
. O escritório de Adriana escondia o dinheiro ilegal ganho pelos 5% cobrados
nos contratos celebrados com
empreiteiros, mais 1% de “taxa de oxigenação” para a Secretaria de Obras. Sete
dos maiores contratos do escritório de Adriana entre 2008 e 2015 foram fechados
com empresas que recebiam, no mesmo período, benefícios fiscais de R$ 140
bilhões do governo fluminense. As propinas de R$300 mil eram entregues toda
semana no seu escritório, no centro do Rio.
O Rio é estado refém , não mais de um corsário como Dugway-Troin
em 1711, mas dos luxos descabidos
e deslumbrados de seus governantes. Que agora pedem o sacrifício da população.
O quebra quebra da semana passada ao som de bombas e violinos é a revolta pela
descoberta do que se passava no refúgio do lar do Leblon, nas viagens à Europa
e na lancha “Manhattan Rio” de R$5 ,3 milhões.
O desemprego aumentava, os salários não compareciam , e o
13º e a aposentadoria viravam pó ao lado
do brilho das joias de Riqueza. O Rio virou praça de guerra, aquela guerra de que
Carmem Lucia falava. E a Polícia Federal, que quanto mais escava, mais joias
encontra, diz que estar entre quatro paredes é bom para a segurança de Riqueza,
” do jeito que o povo chegou ao limite da paciência…”
E Riqueza é apenas uma pontinha da lavagem do Lava-Jato de
onde, parece, quase não vai sobrar ninguém, dos dois sexos, na política pátria.
Os mais novos integrantes da lista são: Caju(Romero Jucá), Justiça (Renan
Calheiros), Kafka (Kassab), Mineirinho(Aécio), Angorá(Moreira Franco), Babel
(Geddel Vieira Lima), Caranguejo (Eduardo Cunha), Botafogo (Rodrigo Maia)….
Alberto Dines é jornalista, escritor e cofundador do
Observatório da Imprensa


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