Da ÉPOCA
O anúncio das medidas pró-crescimento do governo federal, na
quinta-feira passada, teve doses de constrangimento e de alívio. O
constrangimento ficou por conta do excesso de pompa e simbolismo colocado sobre
uma novidade modesta. Apresentavam-se ali medidas técnicas, ultraespecíficas e
de pequeno impacto, e não uma grande decisão de política econômica. Para
apresentar essas minúcias, porém, reuniram-se o presidente da República, os
presidentes da Câmara e do Senado e quatro ministros de Estado. O presidente
Michel Temer fazia força para criar um fato político positivo, mostrar sintonia
entre os Poderes e entre seus ministros. Não se pode dizer que tenha tido
sucesso. Mas o anúncio traz, também, alívio. As medidas, humildes como são,
apontam na direção correta – facilitar negócios sem criar gastos públicos. O
Brasil precisa voltar a crescer para que empregos surjam, a renda cresça, a
pobreza caia e o governo consiga prestar serviços fundamentais, como educação,
saúde e segurança. Mas há uma trava no caminho. O crescimento econômico de um
país resulta do encaixe entre duas grandes engrenagens, a força de trabalho
(capital humano) e os meios de produção (capital físico, como empresas e
infraestrutura). Um país com alta produtividade é aquele em que esses dois capitais
se encaixam perfeitamente e giram em alta velocidade – o que se alcança,
normalmente, com alto grau de inovação na economia e população bem instruída.
As infinitas possibilidades de interação entre ambos determinam se um país
cresce muito ou pouco, com distribuição de renda ou sem, com destruição
ambiental ou não.
Os períodos de crescimento por que o Brasil já passou se
beneficiaram de avanços passados desses dois fatores – mais capital físico, com
a criação da indústria de base no país, na segunda metade do século XX, e mais
capital humano, com o aumento acelerado da população até os anos 1990. Muitas
das forças que impulsionaram o país no passado, porém, esgotaram-se. A
população não voltará a crescer rapidamente, nem é possível criar novamente a
indústria de base que o país já tem. Se novas forças não passarem a agir, o
Brasil corre alto risco de sair da recessão atual (encolhimento de 4,4% da
economia em 12 meses até setembro), o que poderá ocorrer no fim de 2017, apenas
para cair numa estagnação – aquele estado em que a economia não cresce na
velocidade necessária para que o país se desenvolva. ÉPOCA ouviu 31 economistas
nas últimas duas semanas para saber como o país pode voltar a crescer.
Eles foram unânimes no diagnóstico: o Brasil vai mal, muito
mal, nos diversos fatores que poderiam proporcionar crescimento. A maioria
concorda com a metáfora usada pelo economista Arminio Fraga, ex-presidente do
Banco Central, de que a máquina do crescimento quebrou e não basta dar a ela
tempo para que volte a funcionar. A infraestrutura, que engloba transporte,
energia, telecomunicações e saneamento, demanda muito mais investimento do que
o país consegue atrair atualmente. A burocracia é hostil à criação e expansão
de negócios. A taxa básica de juros se mantém em nível alto demais para tentar
conter a inflação. O brasileiro trabalha muito mas produz pouco, por causa da
baixa qualidade da educação. As empresas brasileiras inovam pouco, entre outros
motivos por estarem pouco expostas à concorrência internacional. Como uma
camada final de ferrugem a garantir que nada se mova, as companhias estão
excessivamente endividadas e as famílias receiam gastar. “Temos um problema
imediato: falta combustível para a máquina, que é a demanda, o consumo por
parte de famílias, empresas e governo”, diz o economista Marcelo Neri, da
Fundação Getulio Vargas. “E temos um problema de longo prazo: a produtividade
baixa. Não basta limpar o motor, ele precisa de revisão geral.”
Leia a reportagem completa na edição de Época desta semana
que já está nas bancas.


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