Brasil = EUA, Canadá,
Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia, Egito, China, Mongólia, Malásia, Indonésia,
Austrália, Nova Zelândia, Coreia do Sul, Coreia do Norte, Japão, Portugal,
Espanha, Reino Unido, Irlanda, França, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Alemanha,
Itália, Suíça, Dinamarca, Noruega, Suécia, Finlândia, Estônia, Letônia,
Lituânia, Polônia, República Tcheca, Eslováquia, Áustria, Hungria, Belarus,
Ucrânia, Romênia, Moldávia, Bulgária, Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegóvina,
Sérvia, Montenegro, Albânia, Grécia e Macedônia
O Brasil teve 59
mil assassinatos em 2015. Dez anos antes, eram “apenas” 48 mil. São
mais homicídios do que os 52 países listados no mapa. Mas 52 é um número grande
demais, e essa lista inclui muitos países pequenos e ricos, você pode
argumentar, e com razão. Certamente incluir a achocolatada Suíça (57
assassinatos em 2015) ou o endinheirado Grão-Ducado de Luxemburgo (QUATRO em
2014) deturparia a quantidade de nações comparadas. Além
disso, somos um gigante de 8,5 milhões de quilômetros quadrados e 207 milhões
de habitantes. Não seria injusto comparar com esses países pequetiticos? Até
mesmo a França, que tem um dos maiores territórios da Europa, é do tamanho da
Bahia, apenas o 5º maior estado brasileiro.
Então tome o continente inteiro
de uma vez. A Europa tem 10,1 milhões de quilômetros quadrados, área um tanto
maior, mas ainda assim comparável à do Brasil. Mas são 743 milhões de pessoas –
muito mais do que aqui. Ainda assim, o continente inteiro teve 22 mil
assassinatos no último ano contabilizado. O Brasil (com uma população mais de
três vezes menor), teve quase o triplo.
Ok, mas é Europa. O continente
que parece ter aprendido com suas intermináveis guerras desde que Adolf
Hitler foi sorrir no inferno. O continente que se tornou, salvo
guerras regionais aqui e atentados terroristas acolá, um lugar pacífico.
Esqueça um pouco a xenofobia e os nacionalismos recentes. Pense no continente
dos carrinhos pequenos, das bicicletas, vielas medievais, waffles, baguetes,
chocolates, vinhos, cervejas, queijos, praias (artificiais ou não) de nudistas,
música eletrônica controversa, direitos humanos mais respeitados que a média,
Bjork, príncipe Harry, Lego. Lego, caramba! Comparar com o Brasil? Fala sério.
Então pegue a Indonésia. Maior
país de maioria muçulmana do mundo, 1,9 milhão de quilômetros quadrados, 253
milhões de almas. Um arquipélago grande, populoso e pobre: ainda assim, foram 1,2
mil assassinatos em 2014. Se for comparar conosco, não dá para o gasto:
basta o Espírito
Santo de 2016 para chegar ao mesmo número.
E os Estados Unidos, cheio de
crimes, atiradores compulsivos, nacionalistas raivosos e repressão policial?
Foram 15,7
mil homicídios em 2015, em um território de 322 milhões de humanos.
Isso dá 4,8 por 100 mil habitantes. No Brasil, 28,9 – é como se alguém de
Lagarto (SE), Assis (SP) ou Iguatu (CE) convivesse com o fato de que 30
moradores da cidade foram assassinados no último ano.
Mas calma, você ainda pode
argumentar que os dados de muitos países são menos confiáveis que os do Brasil.
Esse mapa mesmo inclui a Líbia, país dilacerado pela guerra desde 2011.
As 156
vítimas no país em 2015 foram consideradas alheias ao conflito,
mas, ainda assim, pode-se torcer o nariz para o dado. Mas é também justamente
pela dificuldade em quantificar esses crimes em um cenário belicoso que as
guerras não entram na conta. Afinal, guerra é outra coisa. O último dado
disponível da Síria é de 2010, antes da guerra: 463 assassinatos, taxa de 2,2
por 100 mil. Naquele ano, o
Brasil teve 53 mil, com taxa de 27,8.
Em tempo, a Guerra Civil da Síria
já matou, na média das estimativas, 350 mil pessoas, o que pode colocá-la na
lista das 100 matanças mais mortíferas da história.
O Escritório das Nações Unidas
sobre Drogas e Crime (UNODC), que agrega os dados de todos os países, define
o seguinte: “Dentro da grande gama de tipos de morte violenta, o
elemento primordial do homicídio intencional é sua completa ligação com o
perpetrador direto, o que consequentemente exclui mortes causadas por guerras e
conflitos, mortes autoinfligidas (suicídio), mortes devido a intervenções
legais ou motivos justos (como autodefesa, por exemplo) e mortes quando houve
negligência do perpetrador mas este não tinha a intenção de tirar uma vida
(homicídio não intencional).”
Guerras postas de lado, voltemos
à violência urbana e rural. O mapa ainda tem Rússia, país que não é lá um
sinônimo de paz. Foram 16,2 mil
assassinatos em 2015, uma taxa de 11,3 mortes do tipo a cada 100 mil
pessoas. Já a gigante China, com seu 1,3 bilhão de habitantes, registrou 10 mil
homicídios em 2014 – mas, aqui, cabe a ressalva de que, apesar da
queda expressiva de crimes nos país nas últimas décadas, os números oficiais
são enganosos. Assassinatos
ocorridos juntamente com roubo ou estupro podem ser descartados da
estatística. Ainda assim, os números chineses precisariam
ser 36 vezes maiores para se equipararem aos brasileiros.
Se for ver com lupa, quase todo
mundo vai ter asterisco e nota de rodapé. Metodologias que podem variar um
pouco, burocracias falhas, corrupção governamental. Só que o problema é que
mesmo se duvidarmos dos dados de todos os países, o Brasil tem tanta vantagem
nesse terrível ranking que fica difícil demais contra-argumentar. Você pode
fazer variações do mapa. Tem
uma no Reddit que troca os Estados Unidos por um punhado de nações na África
Subsaariana e no Sudeste Asiático. Entre os países mais sanguinários em
números absolutos, o único que se compara ao Brasil é a Índia, com 41,6 mil
homicídios em 2014. O problema, lembrar não custa nada, é que a população da
Índia é mais de seis vezes maior que a nossa.
O resto dos 10+ da lista está em
um patamar bem inferior: México
(20,7 mil), África do Sul (18,6 mil), Nigéria (17,8 mil), Venezuela (17,7 mil),
os já citados Rússia e EUA, Paquistão (13,8 mil) e Colômbia (12,7 mil). Ou
seja, troque os 52 países do mapa, que inclui, como vimos, países bonitinhos,
fofos e civilizados, e troque por um punhado de lugares aonde você passaria
férias, mas sempre ouviria da sua mãe: “cuidado por lá, é muito violento”.
Combo 1: México + África do Sul + Colômbia: 52 mil. E países acossados pelo
terrorismo? Combo 2: EUA + Rússia + Nigéria + Paquistão = 63,5 mil. Só um pouco
mais que o Brasil.
E em termos proporcionais? Aí o
Brasil cai para 14º. Todos os países com uma realidade ainda mais violenta (de
novo, sem incluir aqueles em estado de guerra) são África do Sul, Venezuela e
pequenas nações da América Latina, Caribe e África.
Mas talvez esses números e países
que não nos dizem muito não sejam o problema em enxergar o tamanho da encrenca.
Porque o Brasil pode ser o país com o maior número de assassinatos por ano, mas
ainda assim você pode morar no Jardim
Paulista, em São Paulo, tão pacífico quanto a Suécia. Ou em Nossa
Senhora da Apresentação, o bairro mais violento de Natal,
a cidade mais violenta do Brasil e a 10ª do mundo. Só no primeiro
semestre de 2017, o
bairro da capital potiguar registrou 40 homicídios .
Um bairro, em seis meses, teve
mais assassinatos do que 66 países e territórios computados pelo UNODC.
Nossa Senhora da Apresentação, em
um semestre, é mais violento que a Croácia inteira
em um ano.
Um último porém. O Brasil do mapa
é o de 2015. Em 2016, ficou pior. Chegamos
a 61,6 homicídios.
***
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